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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Mais antigo que o Titanic: O modelo dos construtores, a histórica "maquete" do Titanic / 5,6 metros de comprimento e 116 anos de história

Uma cativante área de interesse e criação artística que conta com seguidores apaixonados é o modelismo, a arte de reproduzir objetos, habitações, meios de transporte, eventos históricos, cenas, - entre uma infinidade  de  outros elementos - com a arte da miniaturização em escala, o modelismo profissional ou artístico como passatempo. A classe Olympic, da qual o Titanic pertencia, não escapa a este nicho de criação desde os primórdios de sua idealização. 

Uma miríade de modelos dos navios Olympic, Titanic e Britannic, tem sido construídos através dos anos no último século, especialmente após a dispersão mundial das notícias do naufrágio do Titanic em abril de 1912, e ganhando expressividade quando sua curta jornada histórica finalmente se solidificou como parte da cultura popular. Mas isso só foi possível após uma relativa "amortização" da onda de choque que o desastre propagou mundo afora, frente a tragédia humana daquela noite entre 14 e a madrugada de 15 de abril de 1912. O distanciamento histórico e a popularização cultural do "tema Titanic" propiciou uma nova visão sobre o assunto, o colocando como tema de apaixonados trabalhos artísticos no âmbito das miniaturas em escala.

Destaque especial para a diversidade incrível de qualidade, marcas e escalas diferentes de modelos - especialmente em plastimodelismo - hoje disponíveis no mercado para quem quiser se aventurar. Este efeito de popularização foi potencializado especialmente nos últimos 28 anos, após a febre mundial de "Titanic", o filme de 1997, que solidificou um amplo estabelecimento do Titanic como ícone cultural popular ao redor do globo. Desde então a facilidade e variedade de modelos disponíveis do Titanic no mercado se tonou um assunto a parte, tudo então ficando bastante acessível aos interessados na encantadora arte do modelismo.

No entanto, os primeiríssimos modelos em escala da chamada "Olympic Class" foram criados ainda antes da do início da construção dos três navios irmãos da White Star Line. estes foram encomendados pelos idos do ano de 1909 pelo estaleiro naval Harland and Wolff, mas com com proposito de oferecer uma pré visualização dos aspectos dos futuros novos navios que seriam erigidos nos estaleiros de Belfast, capital da Irlanda do Norte. E falando especificamente destes modelos históricos, nem todos eles sobreviveram ao tempo, mas ao menos um deles ainda hoje existe, resistiu aos descaminhos da história e aos mais de 114 anos desde sua própria criação. A maquete/modelo conta com uma epopeia digna de nota, quase à altura da trajetória do famoso trio de navios da Olympic Class: Olympic, Titanic e Britannic.

Descubra um pouco mais desta relíquia criada ainda quando a proposta vindoura dos três maiores navios do mundo visava exclusivamente a promessa de viagens memoráveis através do Atlântico Norte, com nenhuma tragédia em mente.

Mais antigo que o Titanic: o modelo dos construtores, a histórica "maquete" do Titanic / 5,6 metros de comprimento e 116 anos de história

Modelos em escala com detalhes exóticos eram produzidos pelos estaleiros navais através de companhias profissionais de modelismo para exibir na forma de miniatura como novos navios que seriam erigidos deveriam parecer quando finalizados. Estes modelos muitas vezes eram usados para para fins publicitários ou de exibição, tipicamente nos escritórios da companhias. O modelo do Titanic que hoje segue exposto no Maritme Museum em Merseyside foi criado pelos construtores do Titanic, a Harland and Wolff, de Belfast. Medindo 5,6 metros de comprimento e na escala 1:48, o modelo foi criado para promover os navios da Olympic Class. Procedimento daquele tempo que não se difere das empresas construtoras de hoje, que com comumente lançam mão de modelos em escala para exibir seus futuros empreendimentos para possíveis interessados. Como condomínios, prédios, estabelecimentos comerciais, e muito mais.


A mais antiga foto do modelo é datada de abril de 1910 e exibe uma visão indistinguível das linhas do Olympic e do Titanic. No entanto neste estágio, seis meses antes do lançamento do Olympic e mais de um ano do lançamento da quilha do Titanic - há diferenças visíveis dos detalhes finais que seriam incorporados aos dois novos navios. A mais notável diferença são três respiradouros do tipo "cowl vent" no topo do compartimento acima das máquinas entre a terceira e a quarta chaminés. Em adição há também uma visível discrepância de design entre a asa da ponte de navegação como mostrada no modelo e as posteriormente de fato finalizadas no Olympic e no Titanic. Este tipo de modelo para exibição com frequência era ricamente detalhado, mas carregava uma certa dose de licença artística em função de embelezamento, como exemplo a aplicação de peças em latão dourado polido para criação de certos equipamentos de convés.




Em fotografias posteriores a uma possível reformulação destes detalhes do modelo, ele é fotografado já alojado em uma vitrine suportada por uma estrutura em madeira esculpida, e e agora com iluminação interna e um display com o anúncio 'White Star Line R.M.S. "Olympic" & "Titanic", the largest ships in the world'. [como na foto acima e no topo da matéria]


Após o naufrágio do Titanic o modelo foi então alterado para representar o novo navio da classe ainda em construção, o Britannic. Ms ainda hoje não se sabe se o modelo seria convertido para o visual do último navio da classe independente no naufrágio do Titanic, ou se o desastre foi o ímpeto para a alteração do mesmo, em função de limar o amargor deixado pela tragédia da mira pública. 

Às vistas do que temos hoje com o decorrer mais de um século desde o afundamento do Titanic, tempo em que a cultura popular vagarosamente foi transformando a visão e opinião que  se tem de sua história, como uma lenda popular - ainda que com o peso dramático indissociável de seu desastre - mas popularizado pela visão entregue pelos filmes, especialmente o de 1997... faria todo sentido conservar o modelo em sua configuração de "Titanic", se é que ele algum dia foi de fato convertido para o segundo irmão da classe na década de 1910. Naquele tempo, no entanto, o nome "Titanic" não fazia lembrar nem de longe a variedade de interpretações que temos hoje. As 7 letras que compõem seu nome se referiam em quase exclusivo e único plano a uma catástrofe sem paralelos na história da navegação, e sem qualquer sombra de questionamento, com razão pública e notória.

Então, omo anteriormente citado, a White Star Line sob hipótese alguma faria questão de conservar para si e menos ainda para a visão pública, um modelo que traria o espelho do horror que se abateu com o navio de sua propriedade. Seja qual for o caso, fotografias do final de 1914 mostram o modelo já convertido para Britannic, exposto junto do primeiro navio da White Star Line a portar o nome Britannic, construído em 1874. E assim a configuração como Titanic nunca ocorreu, ou mesmo foi limada, ficando para o passado.


A versão de 1914 exibe o modelo com um convés de botes margeado por uma amurada em toda a extensão e grandes guindastes para botes salva vidas a frente da primeira chaminé, dois pares junto da chaminé traseira e uma plataforma adicional sobre a popa. As janelas envidraçadas do convés de passeio seguem configuração similar às do Titanic na parte dianteira, diferente do que proposto então pra o Olympic.



Nos anos de 1920, com a perca do Britannic após uma colisão com uma mina submersa no mar Egeu durante a Primeira Guerra Mundial, o modelo foi novamente alterado para voltar a representar o primeiro navio da classe, o Olympic, sendo então exposto na Britsh Empire Exhibition em 1924 em Wembley em West London. Assim então ele permaneceu até 1951 quado doado para o National Museum Liverpool.



Com o sucesso do clássico livro "A Night to Remember" lançado em 1955, escrito por Walter Lord, o produtor de cinema William McQuitty decidiu adaptar sua versão para as telonas nos estúdios de cinema Pinewood. 

Acuidade histórica era então prioridade no set de gravações, então o modelo foi emprestado por um ano para a pré produção do célebre filme "A Night to Remember" (Somente Deus por Testemunha, 1958, no Brasil") para servir de referência para a criação de um segundo modelo utilizado para a captação das cenas que exigiriam efeitos visuais para representar a viagem e naufrágio do Titanic. 

Uma célebre fotografia tomada durante a produção do filme exibe o quarto oficial sobrevivente do Titanic, Joseph Groves Boxhall, junto do modelo apontando para algum detalhe, executando então sua atuação ilustre como consultor técnico para os cineastas; ele próprio certamente relembrando os momentos angustiantes que vivenciou durante aquele desastre de pouco mais de 40 anos atrás naquele momento. 

Vale no entanto ressaltar que o modelo não foi utilizado nas tomadas do filme, sendo estudado exclusivamente como referência visual para a produção do modelo cenográfico em miniatura. 

Ao lado: Trazendo janelas de padrão idêntico às instaladas no Britannic, o modelo criado para as cenas de efeito visual em "A Night to Remember" foi utilizado num tanque de água real, e as cenas resultantes são bastante convincentes, para uma época em que a computação gráfica estava a décadas de nascer.

Considerando que neste período a relíquia trazia detalhes que misturavam características dos três navios da White Star, o modelo resultante igualmente replicou detalhes que não representam características exclusivas do Titanic, mas um misto de aspectos dos três navios irmãos. Detalhe notável é que as janelas no Titanic foram replicadas como as mesmas no modelo histórico discutido nesta matéria, ou seja, como as janelas equipadas exclusivamente no Britannic. Entre outras escorregadas históricas que podem ser conferidas em várias outras cenas. Mas pesando se a escassez de dados precisos acerca do visual do Titanic àquela época, o resultado cinemático da obra é digno de nota.





Uma fotografia de 1957 registra o modelo deixando os arquivos do museu para ser utilizado pela equipe de William McQuitty, e é possível determinar as mudanças feitas na década de 1920. Ainda que visivelmente carregando o nome Titanic na proa, o arranjo das janelas nos conveses A e B permanecem como as encontradas no Britannic. No entanto a amurada no convés de botes e os guindastes gigantes já não estavam mais presentes, mas uma fileira de botes salva vidas.



Em 1982 o modelo foi restaurado pelo museu, que decidiu em configurá-lo com o visual aproximado do Titanic, ainda que não se saiba se algum dia o modelo tenha de fato carregado exclusivamente o visual e o nome Titanic. A configuração das janelas do Britannic foi mantida, mas os botes salva vidas foram alterados para representar o arranjo original de 16 botes standard e 4 botes desmontáveis do Titanic. Ainda assim, o modelo segue trazendo detalhes mistos dos três navios irmãos.

Em 2012 o modelo passou pela primeira vez por uma radiografia para a análise de sua condição de conservação e estado estrutural atual. A mais recente tecnologia digital foi utilizada para captar 17 imagens de raio X. As radiografias estão sendo estudadas para descobrir mais sobre a construção do modelo e para ajudar no processo de uma possível futura remodelação.

Ao lado: Conservadores utilizam uma grande placa de raio X para radiografar o modelo em secções. (Merseyside Maritme Museum, 2012)

Desde sempre se soube que o modelo tinha iluminação interna e era exibido com todas as janelas e portinholas iluminadas. Uma descoberta feita através da radiografia é de que o interior do casco possui isolamento que prevenia rachaduras no casco de madeira, uma vez que a iluminação gerava grande caloria devido às muitas lâmpadas. A iluminação foi removida há muitos anos, mas o raio X revelou prismas espelhados dentro do casco que atuavam na dispersão da luz.

O plano de restauração utilizou de técnicas de modelagem tradicionais que perderam-se com a chegada de materiais modernos, como resinas e plásticos, a fim de recriar a aparência deslumbrante da maquete em sua configuração original do início do século passado. Hoje restaurado, o modelo segue com a mesma configuração restaurada de 1982, e atrai visitantes no Merseyside Maritme Museum como parte da galeria "Titanic and Liverpool: The untold history".

Abaixo - Bertram Vere Dean e Eva Hart, sobreviventes do Titanic, examinam lembranças do navio no Merseyside Maritime Museum, em Liverpool, em 1985. Os itens incluem o modelo dos construtores, um colete salva-vidas de cortiça, uma colher de prata, um relógio e chaves recuperados junto à uma vítima, e também um letreiro metálico removido de um dos botes salva vidas. Irmão mais velho de Millvina Dean [a última sobrevivente do Titanic a falecer, em 2009], Bertram faleceu aos 81 anos, em 14 de abril de 1992, coincidentemente no mesmo dia do aniversário de 80 anos da colisão do Titanic com o iceberg. Eva Hart faleceu em 14 de fevereiro de 1996, aos 91 anos.

O modelo histórico exposto hoje no Merseyside Maritme Museum

Outros modelos históricos


Um outro modelo notável utilizado para promover os novos navios foi alocado na Oceanic House, em Cockspur Street, Londres, escritório da Companhia White Star Line. Nesta foto, datada de 1911, o edifício foi decorado para a coroação do Rei George V (22 de junho) e em celebração à inauguração do Olympic, que partiria em sua primeira viagem em 14 de junho daquele ano. 

Acima do pórtico de acesso do prédio foi instalada  uma grande maquete representando o Olympic, que foi belamente iluminada durante a noite e trazia o enunciado "Olympic 45.000 TONS". À primeira vista o modelo denota ser o mesmo que hoje está exposto no Merseyside Maritme Museum, Mas a realidade é que a White Star Line se utilizou de um grande conjunto de modelos de diferentes tamanhos e configurações, utilizados também pela construtora Harland and Wolff nos escritórios dos projetistas, cada um deles para um propósito específico. E este, no caso, se perdeu para a história.

Abaixo: Trabalhando nos projetos do trio Olympic Class em um dos dois escritórios de desenhos da Harland and Wolff, em Belfast, os projetistas contaram com uma grande maquete com as características básicas dos novos navios. Nesta foto em específico o modelo carrega características do Olympic. Diferente da maquete exposta hoje no Merseyside Museum, este era do tipo "half model" (meio modelo), não era integral, tampouco muito detalhado, mas um exato corte longitudinal exibindo o perfil de boreste apenas. O modelo neste caso parece também perdido para a história.



Abaixo: Como tradição característica das companhias de navegação do início do século XX, abaixo estão dois modelos dos construtores do RMS Mauretania, navio concorrente direto e anterior aos navios da White Star Line. A relíquia da primeira foto segue exposta no 'Maritme Museum of the Atlantic', em Nova Escócia, no Canadá. Da mesma forma que no modelo do Titanic, este também era - e continua - iluminado. A diferença mais notória neste caso não está no modelo, mas nas trajetórias de ambos os verdadeiros navios representados pelo modelismo: O Titanic naufragou em sua primeira viagem, enquanto o Mauretania perdurou por longa e próspera carreira, e terminou os dias de sua espetacular trajetória no mar ao ser demolido na década de 1930. O modelo na segunda foto foi leiloado em 2015 por 50 mil Libras. Ao que se sabe atualmente pelo menos quatro modelos originais do Mauretania ainda hoje seguem preservados em diferentes localizações, tanto expostos quanto de modo privado.


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Fontes

titanic.memorial
alamy.com
americanhistory.si.edu
nationalmuseumsni.org
wikipedia.org
Jonathan Smith Collection
dailymail.co.uk
historicenglandservices.org.uk
Titanic, a modelmakers manual
"A Night to Remember" (1958)

Pesquisa, tradução e reedição de texto e imagens - Rodrigo, TITANIC EM FOCO

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