Por conta de sua curta vida útil interrompida pelo naufrágio durante a viagem inaugural, fotografias realmente tiradas a bordo do Titanic são relativamente poucas em número. A maior contribuição em fotos vem das mãos habilidosas do passageiro de primeira classe Francis Browne, um professor de 32 anos de idade e candidato a sacerdote jesuíta que navegou no Titanic de Southampton para Queenstown. Afortunadamente para a história, ele levou sua câmera fotográfica consigo, e suas fotografias formam um registro pictorial de valor incalculável. Mas as fotografias da família Odell somam também grande valor ao arquivo de raras fotos tiradas daquela viagem para dentro da história.
Nesta matéria conheça um pouco mais sobre a família Odell, passageiros temporários do Titanic e as imagens finais desta travessia histórica. Captadas despretensiosamente durante uma estadia de pouco mais de 24 horas a bordo do Titanic, elas se tornariam então, frente às circunstâncias daquela viagem não concluída, alguns dos registros fotográficos mais valiosos relacionados ao transatlântico que nomeia este blog.
Levados pela empolgação daquela curta travessia num navio novo em folha, e pelo diletantismo pela fotografia, os Odell fotografaram sem saber um momento histórico crucial da curta trajetória do Titanic, quando ainda ao deixar o porto de Southampton no primeiro dia da viagem, foi livrado por um triz de um potencial cancelamento da viagem inaugural.

Jack Odell, de 11 anos, sentiu um grande entusiasmo quando sua mãe anunciou que fariam uma viagem pela Irlanda. Uma viagem de carro era uma maneira relativamente nova de tirar férias em 1912. Começaria quando a escola de Jack estivesse de férias de primavera. Como todos os meninos de 11 anos, Jack mal podia esperar por esse evento. E seria em abril de 1912 que a viagem pela Irlanda aconteceria. A família havia alugado um carro que retirariam na Irlanda e então passariam os próximos dias viajando pelo país. O carro foi locado em Johnson & Perrott, Emmet Place, Cork, com número de registro PL 102. E esta é a história do início de sua viagem.
Herbert Odell era o nome de seu pai. Sua mãe se chamava Lilly. Eles tinham um negócio familiar no mercado de peixes de Billingsgate e moravam em Londres, em uma grande casa vitoriana de cinco quartos. Negociavam sob o nome de James Bell and Company. Richard Odell comprou o negócio na década de 1840. Ele se desenvolveu numa época em que Billingsgate controlava todo o comércio de peixe fresco na Grã-Bretanha. O pai de Jack era um membro sênior da Fishmongers' Livery Company na cidade de Londres. Ele inicialmente comprou as passagens, incluindo uma passagem para si mesmo, mas acabou desistindo das férias, pois estava viajando a negócios em Birmingham. O ticket comprado por Herbert era de número #84, com valor de £24. Era considerado moda ser o primeiro a embarcar em qualquer novo tipo de viagem, como uma viagem inaugural em um transatlântico, da mesma forma que ir à estreia em um teatro em Londres. Jack então embarcou com sua mãe, sua tia Kate e seus dois tios. O grupo incluía também um futuro padre jesuíta chamado Francis Browne, que estava no Titanic como convidado de Lily Odell, mãe de Jack.

Ao lado: Lilly Odell com o pequeno Jack vestido como marinheiro.
O hobby da família era a fotografia. Jack, Kate e o Francis Browne tinham câmeras. Sem que soubessem na época, eles se tornariam parte de um famoso evento histórico. Suas fotografias registrariam esses momentos e se tornariam famosas por sua autenticidade e singularidade.
Uma viagem à Irlanda, naquela época, como hoje, envolve uma travessia marítima, embora hoje seja possível voar até lá. Apesar disso, ainda é popular pegar um barco para um porto galês e viajar de navio para a Irlanda. Em 1912 essa era a única maneira de chegar à Irlanda.
Os Odell não planejaram a viagem de ida exatamente dessa forma. Eles não viajariam para o País de Gales de trem para embarcar na travessia marítima até a Irlanda. Em vez disso, reservaram assentos no trem-marítimo para Southampton. Em seguida, viajariam em um transatlântico para a Irlanda. Uma vez na Irlanda, fariam um passeio em um carro locado, um modelo chamado Star Landaulette.
A viagem de volta seria a travessia convencional do Mar da Irlanda até Swansea e depois de trem para Londres. O pai de Jack seguira o conselho de seu irmão Richard, que era diretor da companhia de navegação, de reservar as passagens do transatlântico com antecedência. Era a viagem inaugural do navio e estaria bem lotado. Todos ansiavam pelo passeio e por fazer parte da viagem inaugural de um navio, mesmo que fosse apenas a primeira parte da viagem.
Ao lado: Francis Browne segura em suas mãos o objeto de seu hobby, uma câmera fotográfica, algumas décadas após ter passado pelo Titanic. Na inserção Browne é fotografado enquanto mais jovem, por volta da época em que esteve no Titanic. Francis Browne veio a se tornar um fotógrafo prolífico, deixando uma herança fotográfica de mais de 42 mil fotografias sobre temas variados cujo valor é inestimável. Finalmente chegou o dia de começar as férias. Era quarta-feira, 10 de abril de 1912, e Jack, sua mãe e a tia Kate viajaram de táxi de sua casa em Wimbledon até a estação ferroviária de Waterloo. Lá, Jack encontrou seus tios e o padre Browne. Havia bastante tempo antes do trem partir para Southampton, então Jack observou seu tutor, o padre Browne, a tirar fotos do trem. Às 10h, o trem partiu de Waterloo. A viagem levaria pouco mais de uma hora. Foi uma viagem emocionante e Jack olhava pela janela enquanto as cenas do campo passavam rapidamente. Jack se divertiu com as histórias engraçadas que seus tios e Browne contaram e também ajudou o missionário Browne a tirar fotos no trem durante a viagem para Southampton.
Por fim, o trem chegou ao lado do transatlântico. Era o Titanic, e por um tempo Jack não percebeu a grandeza do navio. Ele estava com Francis Browne quando embarcaram e foi então que viu o tamanho da embarcação. Era o navio mais alto que ele já vira. Jack ficou impressionado e hipnotizado com o transatlântico elevando-se sobre o cais de Southampton. As histórias que ele ouviu sobre o Titanic eram verdadeiras e era certamente o transatlântico mais luxuoso daquele tempo. Ele estava cheio de alegria por embarcar naquele navio para a Irlanda.
Abaixo: Nesta fotografia colorizada de Jack Odell o destaque fica por conta de sua câmera, uma Kodak No 1a, special model D pronta para fotografar. A foto foi tirada pela sua Tia, Katy Odell, e é com exclusividade a única foto tirada a bordo do Titanic que mostra alguém portando uma câmera fotográfica.

A primeira coisa que todos fizeram foi procurar suas cabines no convés B, onde reservaram três suítes (embora hoje não se saiba quais foram as acomodações escolhidas pelo grupo). Assim que as encontraram, Jack encontrou sua tia e o Padre Browne e, munidos de suas câmeras, eles subiram ao convés para tirar fotos. Foi nesse momento que o Padre Browne tirou a primeira de suas famosas fotos mostrando a vida a bordo do Titanic. Eles, como muitos dos passageiros, devem ter visitado o ginásio e experimentado os equipamentos esportivos disponíveis. Caminharam pelo convés rindo e aproveitando o primeiro dia de férias.
Ao lado: Nesta foto autografada no ano de 1992, Jack Odell posa numa das escadas de acesso à ré no lado bombordo ao teto elevado do Lounge da 1ª classe no convés de botes. No momento do autógrafo Jack teria então 91 anos de idade, tendo nascido no ano de 1900. Ao fundo é possível observar a plataforma da bússola auxiliar, alocada dentro da plataforma elevada com proteção de lona corta vento. O ponto em que Jack posa aqui o coloca nas bordas do epicentro da quebra do Titanic em duas partes pouco após as 2:00h da manhã em 15 de abril de 1912, foi a partir desta locação que o navio se rompeu em dois antes de afundar. Na animação abaixo, a exata localização da extinta escada onde Jack pousou para sua foto a bordo, nesta ilustração executada pelo aclamado artista Ken Marschall, especialista mundial sobre as questões visuais do Titanic. Acesse AQUI Eles não se importaram com a brisa fria do mar que lhes queimava as bochechas; estavam muito interessados em tirar fotografias. Todos tiravam fotos uns dos outros posando no convés. Parece que a única fotografia que sobreviveu das poses individuais da família foi a que Kate Odell tirou de Jack. Ela o mostra usando um boné e um sobretudo longo. Todos permaneceram no convés para assistir ao Titanic deixar o porto e navegar pelo rio Test adiante. Esta parte da viagem tinha acabado de começar quando outro transatlântico se soltou de suas amarras e entrou na trajetória do Titanic. A tia de Jack, Kate, e o padre Browne fotografaram este quase acidente que foi evitado por muito, muito pouco.
Abaixo e ao lado: Ao passar ao lado dos navios RMS Oceanic e SS New York, atracados lado a lado nas docas 38 e 39, a sucção de seu poderoso deslocamento causa o chamado “efeito canal”, fazendo balançar o navio New York, que arrebenta seis grossos cabos de amarração de 15 cm de diâmetro. O New York então se movimenta perigosamente com a popa em rota de choque contra o costado de bombordo do Titanic. No derradeiro instante a colisão é evitada pelo rebocador Vulcan, que alcança um cabo arrebentado do navio a deriva. A popa do New York deixa de atingir o casco do Titanic por escasso 1,20 m. Apesar da situação de alto risco, ambos os navios saem ilesos. Este incidente, junto com a anterior colisão entre Olympic e Hawke em 1911, indica uma falta de familiaridade - dos responsáveis por manobrá-los - com navios de tal porte. Comprovando a autenticidade das fotos, é possível ver em pelo menos duas delas uma fração do castelo de proa a bombordo no Titanic, captado pela fotógrafa Kate Odell que estava a bordo deste último.


Ao lado: A espessa corda rompida pelo movimento do Titanic, que atada ao navio SS City of New York o prendia em posição adjacente ao RMS Oceanic, também atracado no mesmo ponto. O cabo foi habilmente capturado pelos marinheiros a bordo do rebocador Vulcan, evitando assim uma colisão entre os dois navios. Esta foto no entanto não foi captada pela família Odell.
Cinco horas depois do embaraço que quase se tornou acidente de fato, o Titanic cruzou o Canal da Mancha, chegou à Bretanha e ancorou de frente ao porto francês de Cherbourg, não podendo atracar de fato no cais despreparado devido ao seu porte inédito. Este foi um momento maravilhoso para Jack, pois ele possivelmente conheceu outros garotos e fez amizade com eles enquanto exploravam o navio juntos. Talvez mais tarde naquela tarde, Jack tenha se encontrado com seus tios e ido com eles à piscina.
Abaixo: Testemunhas oculares da iminente colisão chegaram a testemunhar que se houvesse perigosa a proximidade entre os navios foi tamanha que seria virtualmente possível alguém a bordo esticar os braços e tocar o costado do navio a deriva nas águas portuárias do rio Test em Southampton. Ocupantes do Titanic testemunham apreensivos o movimento perigoso debruçados ao longo das janelas e varanda aberta do convés de passeio da 1ª classe do Titanic situada a 15 metros acima do nível da água. A foto em questão foi captada pelo missionário Francis Browne.
Abaixo: Ainda que aparentemente não foi tirada pela família Odell (mas aparentemente por Francis Browne), a foto abaixo registra o flagrante momento imediatamente após o incidente entre o Titanic e o SS City of New York, quando este último foi manobrado e realocado para uma posição segura num pier logo mais a frente, liberando a passagem do Titanic. O City of New York era um navio de passageiros britânico operado pela Inman Line e construído pelos estaleiros da John Brown & Company em Clydebank. Ao fundo da foto se pode notar as chaminés e parte do RMS Oceanic, da White Star Line, que permaneceu atracado na mesma posição em que estava anteriormente quando o Titanic passou. Atracado adjacente ao Oceanic, O New York rompeu as amarras, ficando então a deriva em rota de colisão com o casco do Titanic devido ao chamado efeito canal, um movimento causado pela sucção das hélices do novo navio que estava marcha deixando as águas de Southampton. Junto do New York nesta foto está um rebocador, habilmente manobrado na ocasião para reverter a situação de risco que apenas atrasou, mas poderia ter adiado aquela tão esperada viagem inaugural .

Lawrence Beesley (
ao lado), passageiro sobrevivente da 2ª classe, que acompanhava a partida observando a partir dos convéses superiores descreveu o incidente em suas próprias palavras:
"Ouviu-se uma série de disparos
semelhantes aos de um revólver e, do cais do New York, rolos serpenteantes de
corda grossa se lançaram no ar e caíram para trás, entre a multidão, que recuou
alarmada para escapar das cordas esvoaçantes. Esperávamos que ninguém tivesse
sido atingido, mas um marinheiro ao meu lado teve certeza de ter visto uma
mulher sendo levada para receber atendimento. E então, para nosso espanto, o
New York se aproximou lenta e discretamente. Houve gritos de ordens,
marinheiros correndo de um lado para o outro, estendendo cordas e colocando
esteiras do lado de fora, onde parecia provável que colidiríamos."
Abaixo: O desfecho da situação aqui fotografado sob outro ângulo a partir do cais. A proa do pequeno City of New York está à direita, e o Titanic ainda inativo se prepara para recomeçar a viagem após o incidente. O pequeno barco nas proximidades à ré do transatlântico carrega ao que se sabe um fotógrafo, também registrando a situação para a posteridade.

Em abril de 2023, aniversário de 111 anos do naufrágio, veio a público para leilão pela casa de leilões Henry Aldridge & Son Ltd., uma carta de duas páginas em papel timbrado personalizado do Titanic, escrita por Stanley May, tio de Jack, que testificou em suas próprias palavras o quase incidente que ele também testemunhou a bordo durante aquelas pouco mais de 24 horas de travessia. O manuscrito estava direcionado às suas duas filhas, Hilda e Gladys, e foi enviado para terra firme pela tripulação do Titanic junto de outras tantas correspondências escritas a bordo. Ele dizia: “O New York se soltou de suas amarras e foi tragado pelo Titanic e, como ele não tinha vapor, ficou em condições bastante instáveis... Rebocadores o salvaram e não houve grandes danos, mas temo que muitas pessoas tenham se ferido pelas cordas arrebentadas, mas não teremos notícias até desembarcarmos.” [...] “Tivemos uma viagem muito agradável e deixaremos o navio (ou melhor, ele é mais parecido com um palácio) em algumas horas.” Stanley então finalizou a carta dizendo às filhas que as enviou um livreto de cartões postais que ele comprou a bordo do Titanic.

Ao lado: Mais um registro dos Odell. Aqui o grupo fotografa o perfil das chaminés do Titanic, impelidos talvez pela admiração quanto a dimensão destes dutos de eliminação da fumaça gerada pelas caldeiras do transatlântico. As janelas quadrangulares junto ao convés são parte dos clerestórios das amplas janelas da Sala de leitura da 1ª classe, situada no convés abaixo. Historicamente se sabe que teria sido por aqui, a menos de dez passos à ré do fotógrafo, que os músicos teriam tocado para acalmar os passageiros na madrugada do naufrágio.
É muito provável que em Cherbourg Jack tenha assistido ao desembarque e embarque de outros passageiros. Logo após a partida do navio, por volta das 20h, Jack teria ido para sua cabine, pois era sua hora de dormir. No dia seguinte, Jack teria tido tempo de se encontrar com os outros meninos e passar um tempo com eles. O Titanic chegou a Queenstown por volta das 11h30. Os Odell e os outros passageiros que desembarcaram se prepararam para deixar o navio. Pode ter sido nesse momento, após uma caminhada rápida pelo convés, que Kate tirou a foto de Jack ao lado de sua mãe e tios.
Abaixo: O grupo dos Odell posa para um registro no convés de botes do Titanic, à bombordo, ao lado do teto elevado sobre a Sala de Leitura da 1ª classe. Pendurada nos ombros de Jack uma das câmeras da família, uma Kodak No 1, special model D. Para além de parte das imensas chaminés de 19 metros de altura, é possível observar também nesta foto o clerestório com vitrais das janelas do Lounge da 1ª classe, que iluminavam a sala correspondente logo abaixo, no convés de passeio. Para os cinéfilos de plantão, é exatamente aqui que, sentada em uma cadeira de convés, a personagem "Rose" (vivida por Kate Winslet) folheia a pasta de desenhos de seu parceiro romântico "Jack" (Leonardo DiCaprio) em "Titanic" (1997), dirigido pelo canadense James Cameron. Veja clicando AQUI

Abaixo: Francis Browne, amigo da família e parte da comitiva dos Odell, fotografa a secção dianteira do convés de passeio da 1ª classe, ou convés A. O pequeno Odell aparece junto da amurada observando a proa do navio. Ao fundo é possível ver outro passageiro da 1ª classe, o Major Archibald Butt, conversando com um grupo de pessoas. Butt era jornalista, oficial do exército e assessor dos presidentes Theodore Roosevelt e William Howard Taft. Ele se tornaria uma das vítimas do desastre apenas cinco dias após este registro. Segundo estudos o marinheiro em pé em serviço em primeiro plano seria Alfred Olliver, que viria a ser um dos sobreviventes do naufrágio. As 10 janelas aqui se abriam, respectivamente, paras as cabines A3, A1, A2 e A4, com duas destas janelas correspondendo ao final de corredores da 1ª classe. A estrutura com aparência de caixa, na parte inferior do convés acima, se tratava do invólucro de proteção dos mecanismos funcionais do timão e telégrafos instalados diretamente acima na ponte de comando.

Após o almoço, Jack e sua família embarcam no barco a vapor "America" para o continente, o porto de Queenstown. O Padre Browne e Kate tiram fotos, e é o Padre Browne quem tira a última foto do capitão do Titanic enquanto observa a partida deles - agora todos da família embarcados na lancha America - a partir da asa da ponte de comando situada a vinte metros acima do nível da água (
ao lado). Terminava assim a curta travessia da família Odell. Uma vez no continente, eles observam a partida do Titanic e Kate tira uma foto dele avançando para o Atlântico. Kate também faz um registro impressionante, que mostra o massivo casco do navio subindo da água como uma muralha.
Ao lado: Parafraseando a narração do documentário "Titanic Secrets" lançado em 1986 ("Os Segredos do Titanic", No brasil), o Capitão E. J. Smith aparece nesta que é uma das últimas fotografias em vida e parece estar "equilibrando-se no limiar do destino". Pendurado à borda do convés aqui está o bote de emergência de número 01, com 7,6m de comprimento e capaz de acomodar 40 pesoas. Na madrugada de 15 de abril o mesmo se fez ao mar às 1:00h da manhã (1h e 20min antes do naufrágio) carregando [pasme] apenas 12 pessoas, dentre as quais Sir. Cosmo e Lady Lucile Duff Gordon, passageiros da 1ª classe. O pequeno bote se tornou então uma das maiores controvérsias acerca da evacuação visivelmente deficiente e mal orientada do Titanic.
Abaixo: O imponente perfil do casco à boreste do Titanic, aqui fotografado por Kate enquanto desembarcava com a comitiva dos Odell a bordo da lancha America, da White Star Line, em 11 de abril. As duas portas aqui se abriam diretamente para o saguão de embarque da 1ª classe no convés D. Os dezoito metros de altura do nível da água até o convés de botes seriam encarados com muito receio na madrugada de 15 de abril, quatro dias após esta foto. Virtualmente um abismo negro até a água quando passageiros e tripulantes se veriam obrigados a cruzar a amurada do navio que parecia seguro em direção aos aparentemente perigosos botes suspensos na escuridão daquela noite fria e sem luar. Ao fundo se pode notar, equilibrados a meia borda do convés da segunda classe, quatro dos botes standard do Titanic, especificamente os de número 9, 11, 13 e 15. No nível da água é possível ver muito discretamente algumas aves marinhas rondando o navio, certamente em busca de comida. Em função de seu massivo peso, é interessante observar que da linha d'água observada nesta foto até o fundo do casco do navio ainda haviam entre 10 e 11 metros submersos.

Abaixo: Mais um click histórico dos Odell. Aqui o Titanic é visto enquanto atracado para transbordo dos passageiros que desembarcaram e os que embarcaram em 11 de abril em Queenstown (hoje Cobh), na Irlanda do Sul, sua segunda e última escala na Europa. As aves aqui circundam a dianteira do navio certamente em busca dos restos de comida despejados pelos dutos de esgoto do navio. A assinatura de Jack Odell aparentemente data de 11 de abril de 1992, o octogésimo aniversário do seu afortunado desembarque.

Abaixo: O Titanic navega em direção ao destino neste registro de 11 de abril, pouco após a foto anterior acima. Este click fantástico foi o último da família Odell, mas não é a derradeira foto captada do Titanic antes da tragédia, ainda que frequentemente citada como tal em boa parte das fontes online atualmente.
Os Odell passaram a noite em Cork e retiraram o carro alugado no dia seguinte. Eles então começaram sua viagem de passeio e negócios de uma semana pela Irlanda. O plano dos Odell de viajar pela Irlanda em abril de 1912 foi uma decisão afortunada. No retorno para Londres - e ao se interarem sobre o naufrágio do Titanic -, em 19 de abril compareceram o serviço memorial ao desastre do Titanic na Catedral de St. Paul, celebrado as 12h daquele dia.
As fotografias de Odell discutidas nesta matéria só vieram à tona por volta de 1987 e acrescentam mais informações a viagem insólita do Titanic. O Padre Brown e Kate Odell tiraram as únicas fotografias conhecidas que registram o quase acidente no início da viagem do Titanic. Quanto a Jack, até onde sabemos, a fotografia instantânea tirada dele a bordo do Titanic é uma das únicas que mostram uma criança a bordo, e também a única em que é possível ver uma câmera fotográfica a bordo.
É interessante observar essas fotografias. Na fotografia em que Jack está com a mãe e os tios, ele exibe um sorriso travesso, e em outras fotografias, Jack parece sério. A foto que o mostra sentado no carro alugado sugere que ele está orgulhoso por estar sentado ao lado do motorista. É evidente que ele estava entusiasmado com as férias e é possível que esta tenha sido a primeira viagem de carro de Jack, aos 11 anos, pela Irlanda, em uma Star Landaulette.
Embora não fosse um sobrevivente do naufrágio propriamente, pois não estava no navio durante o desastre, ele se tornou o passageiro masculino com a vida mais longa, embora tenha guardado poucas lembranças da curta viagem.
Odell casou-se duas vezes, e foi longevo até mesmo para ver a notícia dos destroços do Titanic sendo finalmente redescobertos em 1° de setembro de 1985.
Ele faleceu em 19 de novembro de 1995, com então 95 anos, mesma ano em que James Cameron efetuava os mergulhos nos destroços do navio para então produzir o filme "Titanic", que se tornaria sucesso retumbante quando de seu lançamento no final de 1997.
Jack chegou em idade avançada até mesmo a autografar cópias de suas próprias fotos para a coleção de entusiastas da história do Titanic. Estes últimos certamente empolgados por estarem frente a frente com um passageiro fotógrafo de contribuição tão ilustre para o legado do Titanic.
Ainda hoje, passados 113 anos do desastre, um número modesto de fotografias inéditas têm surgidos ao passar dos anos conforme as pesquisas ao redor do mundo avançam, especialmente divulgadas por casas de leilões, especialistas ou mesmos entusiastas que, por acidente ou empenho direcionado, acabam encontrando registros inéditos do Titanic... Porém, nenhum destes registros históricos na forma de fotografias contém a marca pessoal tão valiosa quanto as fotografias da família Odell e de Francis Browne, que captaram eles mesmos e com seus próprios ângulos pessoais uma fração da vida e movimento a bordo do Titanic durante aqueles dois dias jubilosos do início da viagem do maior, mais luxuoso e seguro navio do mundo em 1912.

Créditos
Pesquisa, tradução e adaptação de texto e imagens, Rodrigo Piller, Titanic em foco
Fontes
Titanic Historical Society pamphlet
Encyclopedia Titanica
Titanic An Illustrated History
titanicexperiencecobh.ie
commons.wikimedia.org
wikipedia.org
Titanic In Photographs
histclo.com
titaniclegacy.us
findagrave.com
titanicitems.com
historiccamera.com
bukowskis.com
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