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terça-feira, 29 de abril de 2025

Revista Veja, 14 de janeiro de 1998: "Titanic, a tragédia que ninguém esquece vira o grande filme do verão" | Momento nostálgico

Com direito a letreiro garrafal, e colocada nas bancas há 27 anos, em 14 de janeiro de 1998, a brasileira - e semanal - revista Veja anunciava a chegada aos cinemas de um filme, que já lançado em dezembro de 1997 nos Estados Unidos, vinha fazendo muito barulho ao redor do mundo, especialmente, é claro...na forma de muito choro e lágrimas vertidas no inverno do hemisfério norte e, naquela semana, prometia trazer lágrimas e suspiros também aos cinemas brasileiros. 

A capa da publicação com uma muito bem editada ilustração de autoria de um já aclamado Ken Marschall, - autor de um livro que inclusive foi base visual para as cenas de filme de James Cameron - trazia a visão de mais de uma centena de náufragos agarrados a um navio visivelmente condenado em posição inacreditável, suportados agora pela esperança e instinto de autopreservação, na agonizada espera do que viria mais adiante. 

Feéricamente ainda iluminado, o Titanic em inacreditáveis 45 graus naufragava na noite estrelada, sendo velado pelos ocupantes de dois de seus botes salva vidas. Certamente naquele momento, e ante ao barulho que a publicidade de "Titanic" vinha perfazendo nas mídias, especialmente na TV (recurso quase uni presente naquela época), a publicação de manchete tão impactante deixou as bancas para ir às mãos de leitores que muito dificilmente deixariam de se assentar numa cadeira de cinema para conferir o resultado daquilo que era descrito matéria de 6 páginas. Matéria que discorria então em uma análise bem equilibrada e inteligente acerca da produção Hollywoodiana do canadense James Cameron, mas também abordando habilmente a jornada cultural do Titanic através do tempo. 

A edição 1529 se tornou então e de maneira bastante óbvia, um número a ser colecionado para os cinéfilos de plantão, e com o passar dos anos acabou compondo o acervo dos entusiastas da história e legado do Titanic, e assim praticamente desapareceu. De modo que foram necessários mais de 15 anos para que o editor deste blog - que vos fala - conseguisse encontrar um exemplar íntegro para compor uma coleção.

Reconstruída agora na íntegra e como forma de saudosismo, acompanhe o que havia a ser dito naquele momento de expectativa sobre o filme que meses após ostentaria então 11 estatuetas do Oscar, entrando então definitivamente para os insólitos acontecimentos que populam definitivamente a memória e cultura popular ao redor do globo.


Revista Veja, edição 1529, 14 de janeiro de 1998. Matéria por João Gabriel de Lima e Geraldo Mayrink

itanic, que estreia nesta sexta-feira no Brasil, é um fenômeno quase tão espantoso quanto a tragédia em que foi inspirado. Dirigida por James Cameron, um mestre dos filmes de ação que tem em seu currículo O Exterminador do Futuro e True Lies, a fita é a mais cara produzida em Hollywood em todos os tempos. Numa estimativa conservadora, consumiu 200 milhões de dólares. Na história do cinema, só perde para uma produção soviética de 1968, uma adaptação de oito horas de duração do romance Guerra e Paz, de Leon Tolstoi, que consumiu 482 milhões de dólares e que, bancada pelo governo comunista, não precisava recuperar o investimento na bilheteria. 

Surge a pergunta: por que Hollywood, que não é subsidiada pelo ouro de Moscou, gastaria tanto dinheiro para recontar uma história que ocorreu h 85 anos, que já inspirou uma dezena de filmes e cerca de 100 livros e cujo final é conhecido por quase todo mundo? A resposta mais óbvia é esta: Hollywood confiou no fascínio inesgotável dessa velha história de naufrágio. E a prova de que Hollywood, mais uma vez, estava certa foi dada nas três últimas semanas, desde que o filme estreou em 2.660 salas de exibição dos Estados Unidos. As pessoas fazem filas de dobrar quarteirão na porta dos cinemas. Nos primeiros seis dias de exibição, o filme arrecadou 52 milhões de dólares. Nas primeiras três semanas, a renda alcançou 165 milhões. Nesse ritmo, Titanic avança, em velocidade de cruzeiro, para bater os dois maiores sucessos do ano passado Homens de Preto, com 243 milhões de dólares, e O Mundo Perdido, continuação de O Parque dos Dinossauros, que arrecadou 229 milhões.
 
É um desempenho e tanto para um filme que, dados os problemas de produção, parecia caminhar para bater o recorde oposto, o de fracasso mais retumbante da história do cinema. Enquanto Titanic engolia 45.000 dólares por hora de trabalho, o diretor Cameron, estressado, perdia tempo em brigas com os produtores e atores, inclusive os dois protagonistas, o galã Leonardo DiCaprio símbolo sexual adolescente desde que estrelou uma adaptação modernosa de Romeu e Julieta e a talentosa jovem atriz inglesa Kate Winslet, indicada para um Oscar por Razão e Sensibilidade e elogiadíssima por sua Ofélia no Hamlet de e Kenneth Branagh. 

DiCaprio gritava para quem quisesse ouvir que gostaria de afogar o diretor no tanque de água construído para as filmagens na Praia de Rosarito, no México. Kate Winslet pediu uma folga, não foi atendida, e seus advogados tiveram de arrumar um atestado médico para livrá-la de uma estafa. Tudo isso atrasou o filme, que deveria ficar pronto para as férias de verão americanas, em julho. Depois de fazer uma reportagem no set de filmagem, o jornal americano The New York Times escreveu espécie de obituário artístico de Cameron. Achava-se que o diretor teria o segundo fracasso de sua carreira. O primeiro, coincidência ou não, fora num filme igualmente náutico o chatíssimo O Segredo do Abismo, de 1989, que custou 50 milhões de dólares na época e não se pagou.
       
Chegou o inverno e Cameron saboreou sua vingança no frio. Diante da grandiosidade do filme, o mesmo The New York Times o elegeu como o melhor de 1997. Chegou a comparar Titanic a ...E o Vento Levou, escrevendo que desde o lançamento da adaptação do romance de Margaret Mitchell a indústria hollywoodiana não colocava no mercado uma produção de tanto impacto. A comparação com ...E o Vento Levou levou em consideração também o enredo do filme. Grande parte do sucesso de Titanic se deve ao apelo do par romântico principal. Cameron, que além de dirigir o filme também escreveu o roteiro, criou, tendo como pano de fundo o desastre, uma história de amor envolvendo uma menina mimada, com muito de Scarlett O'Hara ela gosta de pintura moderna e lê Sigmund Freud numa época em que ambas as coisas eram consideradas escandalosas , e um rapaz criado no submundo. Ambos são mal saídos da adolescência, o que faz da história de amor que se desenvolve no navio uma espécie de Romeu e Julieta sobre as ondas, potencializada pelo fato de que eles não se amam na plácida cidade italiana de Verona, mas num navio que todos sabem desde o começo irá a pique no final do filme.

O espectador americano enfrenta o frio nas filas na porta do cinema não apenas por causa de uma história de amor fictícia, mas principalmente devido ao apelo da tragédia original. No século XX, a humanidade viu vários desastres navais e aéreos, muitos deles de grande impacto visual como o do dirigível Hindenburg, que virou uma bola de fogo no céu em 1937, para terror dos que acompanhavam o espetáculo em terra -  ou de elevada carga dramática - como a queda de um avião uruguaio nos Andes em 1972, quando os dezesseis sobreviventes, incomunicáveis na cordilheira, tiveram de se alimentar da carne dos 29 que morreram. 

Nenhum deles, no entanto, se compara à tragédia do Titanic, a maior máquina construída até então, com 46.000 toneladas, 260 metros de comprimento -  em pé, teria a altura de um prédio de dez andares -, e para a qual se criou até um neologismo de gosto duvidoso: o "insubmergével" (unsinkable, em inglês). Pois esse símbolo da pujança da melhor tecnologia desenvolvida até então pelo homem nem precisou colidir com a natureza para que a supremacia desta última ficasse clara. Bastou um esbarrão do casco com um iceberg para provocar o naufrágio do navio, de maneira espetacular. 

Primeiro submergiu a proa, depois o navio rachou em duas partes e a metade da popa ficou em posição vertical, para depois também ir para o fundo como uma flecha furando o oceano. Enquanto isso, pessoas desesperadas mergulhavam no mar gelado, numa espécie de suicídio coletivo. Todo o processo do esbarrão no bloco de gelo à submersão final durou apenas duas horas e quarenta minutos. Menos que a duração do filme de Cameron, que tem três horas e catorze minutos. Dos 2.228 passageiros a bordo, 1.523 morreram.

Um mundo recriado - O impacto visual não seria suficiente para manter o Titanic vivo na memória da humanidade por quase um século não fosse também a pompa que cercou o navio. A bordo havia um resumo da sociedade da época. Na primeira classe, viajando do porto de Southampton, Inglaterra, para Nova York, já a maior cidade dos Estados Unidos, estavam figuras eminentes dos dois países. Entre elas, o banqueiro Martin Rothschild, o magnata do petróleo Howard Case e Alfred Vanderbilt, dono de uma das maiores redes de ferrovias dos Estados Unidos. 

A primeira viagem do Titanic foi uma espécie de acontecimento, numa época em que os homens de posses vestiam casaca para jantar, tinham criados pessoais e suas mulheres viajavam levando enormes baús abarrotados com suas melhores roupas e jóias caríssimas. O interior do Titanic, decorado como um hotel de alta classe, foi cuidadosamente preparado para servir de cenário a esse festival de ostentação. Dentro, havia a reprodução de um luxuosíssimo café parisiense, o banho turco era decorado com lâmpadas mouriscas e cada camarote tinha uma sala de estar em estilo elizabetano. Na segunda e terceira classes, cujas passagens custavam mais barato, viajavam pessoas pobres do sul e leste europeus com um sonho utópico do século XX: fazer a América.

Detalhes da reconstituição do navio: cópias de móveis e louças absolutamente fiéis aos originais. No Titanic, havia réplicas da decoração de cafés parisienses e os camarotes eram equipados com salas no estilo elizabetano.




Para reproduzir na tela esse episódio espetacular, o diretor James Cameron não economizou recursos. Encomendou cópias de louças e móveis absolutamente fiéis aos originais para espatifá-los no momento certo. Mandou fazer uma réplica da fachada do navio para as cenas externas (só a fachada; as cenas internas e do convés foram realizadas em estúdio), seguindo o projeto original do navio, desenvolvido num estaleiro de Belfast, hoje capital da Irlanda do Norte. Para filmar a cena do naufrágio, não recorreu a programas de computador, como Spielberg faria. Mandou construir um tanque de 64 milhões de litros de água, o equivalente a 33 piscinas olímpicas cheias. 

Engenheiros hidráulicos planejaram cuidadosamente a cena em que a carcaça submergiria no tanque. Se não desse certo, não haveria uma segunda chance para fazer a filmagem porque toda a estrutura se esfrangalharia no primeiro mergulho. Obsessivo, o próprio Cameron mergulhou doze vezes na costa da Nova Escócia, local onde o navio submergiu e sua carcaça foi encontrada há doze anos pelo navegador Robert Ballard. 

Dessa aventura, tirou inspiração para escrever as cenas iniciais do filme, que mostram um time de mergulhadores escarafunchando os destroços do navio em busca de jóias perdidas. A partir daí, a história é contada em flashback pela dona de uma dessas jóias, uma sobrevivente de 102 anos que, no passado, era a menina mimada interpretada pela bela Kate Winslet. Para representar a personagem idosa, Cameron recorreu à atriz Gloria Stuart, de 87 anos, uma veterana de filmes de John Ford que estava aposentada havia cinquenta anos.

Cantilena racista - Ocorrida à noite, a 700 quilômetros de distância da cidade mais próxima, numa época em que não existia televisão e a fotografia ainda era rudimentar, a tragédia do Titanic foi emergindo aos poucos, na forma dos relatos dos 705 sobreviventes. Uma história com tantas versões e tantos lances dramáticos poderia ser contada de várias maneiras.

Esses enfoques diferentes do mesmo acontecimento acabaram por conferir um interesse especial ao caso Titanic e são uma das razões que ajudam a explicar a permanência da imagem do navio na mente das pessoas. Cada época contou a história a seu jeito e extraiu dali uma moral diferente. Em três momentos do século a tragédia do Titanic foi exaustivamente explorada pela literatura e pelo cinema. O primeiro, claro, logo após o desastre. 

O primeiro filme sobre o Titanic foi lançado apenas um mês depois do naufrágio. Chamava-se Saved from the Titanic (Salva do Titanic) e baseava-se no relato de uma das sobreviventes, a atriz Dorothy Gibson, que, para dar credibilidade à produção, interpretava a si própria. O segundo momento foi o pós-guerra, quando começou a surgir no mundo uma nostalgia dos tempos em que os homens davam lugar às mulheres. E o terceiro, nos dias de hoje, motivado pela descoberta dos destroços do navio, em 1985.





Na obra A Cultural History of the Titanic Disaster (Uma História Cultural do Desastre do Titanic), lançada em 1996 nos Estados Unidos e ainda não traduzida para o português, o historiador americano Steven Biel se propõe a mostrar como cada época extraiu uma lição diferente do mesmo drama. Nos tempos do naufrágio, a história serviu para alimentar debates sobre racismo e feminismo. O ano em que o navio bateu num iceberg, 1912, foi o da maior passeata nos Estados Unidos das chamadas "sufragistas" as mulheres que defendiam o voto feminino. Usou-se o Titanic para atacá-las porque, no momento do naufrágio, prevaleceu a chamada "lei do mar" ou seja, numa situação de perigo, as mulheres e crianças são salvas em primeiro lugar. 




"Se as tais sufragistas estivessem no convés do Titanic, não clamariam por igualdade. Com certeza recorreriam, isto sim, à antiga instituição do cavalheirismo para ser salvas", escreveu um leitor do Baltimore Sun, jornal que atacava as feministas em editoriais. Claro que as mulheres não ficaram caladas. Lembraram que o navio era dirigido por homens, e acabou indo a pique. Uma charge publicada em jornais feministas sugere que o Titanic seria como os Estados Unidos se os homens continuassem em seu comando, sem a influência que as mulheres poderiam exercer pelo voto, poderiam bater num iceberg.




O ano de 1912 foi também de tensões raciais, com o surgimento de vários movimentos protestando contra o linchamento de 61 negros nos Estados Unidos. O Titanic acabou servindo de mote à cantilena racista, embasada em números que, examinados com olhos de hoje, dão a sensação de que a morte acabou sobrando para o lado mais fraco. Sessenta por cento dos integrantes da primeira classe sobreviveram, contra 44% da segunda e 25% da terceira. 

Os jornais da época viram esses números através de uma lente peculiar. O San Francisco Examiner lamentou em editorial que grandes personagens da elite americana como o banqueiro Benjamin Guggenheim, patriarca da família que hoje batiza uma griffe de museus, tivessem perecido para salvar a vida de "mulheres analfabetas do leste europeu".

Leonardo DiCaprio e Kate Winslet: James Cameron criou um Romeu e Julieta sobre as ondas para fazer contraponto às cenas de catástrofe

Romance arrebatador - Outros foram mais fundo no racismo, escrevendo que os "cavalheiros" da primeira classe mantiveram a calma até o final, enquanto os eslavos e latinos da terceira "se rendiam ao pânico e gritavam como cães ou porcos" (esquecendo de mencionar, claro, que em todo navio que afunda são os compartimentos de baixo que inundam primeiro).

Baseados nesse detalhe, vários escritores entre eles Conan Doyle, criador do personagem Sherlock Holmes redigiram textos exaltando a superioridade do homem anglo-saxão, com seu auto domínio, sobre o latino e o eslavo. Quem chamou a atenção para o absurdo desses artigos foi outro homem de letras, o irlandês George Bernard Shaw, que escreveu: "Um fato (o acidente) que deveria ferir seriamente o orgulho britânico acabou tendo o efeito oposto, ou seja, serviu de pretexto para a exaltação da raça anglo-saxã". E arrematou: "Em vez de envergonhados, os ingleses se tornaram insolentes e mentirosos, além de mostrar que acreditam em bobagens românticas".

Na política, o Titanic serviu de combustível a panfletos de todas as colorações ideológicas. Os socialistas bateram na tecla da prioridade dada aos ricos no salvamento para clamar contra a "injustiça social" e a "ganância do capitalismo". 


Cena do naufrágio: para reproduzi-lo com precisão, o navio foi mergulhado num tanque com 64 milhões de litros de água.


Até os nazistas deram um jeito de se aproveitar da história para construir uma fábula edificante a seu modo. Fizeram um filme em 1943 em que incluíram no naufrágio um oficial alemão, sábio e ponderado além, é claro, de fictício , que alertava os ingleses para o perigo que corriam com sua arrogância. 


No plano da ficção, o desastre forneceu combustível para dezenas de romances, o mais recente da festejada escritora britânica Beryl Bainbridge, que escreveu um livro com o sugestivo título de Every Man for Himself (Cada Um por Si). 

A autora de livros açucarados Danielle Steel, em Amor sem Igual (1991), usou a história do Titanic como pano de fundo para uma mescla de sacarose com a ideologia dos dias atuais. Sua heroína Edwina Winfield viaja com o homem de sua vida para se casar nos Estados Unidos, mas o navio afunda e ela permanece virgem (nada mais Danielle Steel). 

Depois de aportar no Novo Mundo, a donzela resolve reagir e se transforma em bem-sucedida mulher de negócios (nada mais "mulher anos 90" numa história do princípio do século). O filme de James Cameron faz uma súmula de todas essas representações do Titanic através dos tempos. 

Há ali cavalheirismo (reproduz-se na tela a famosa história segundo a qual Benjamin Guggenheim teria dispensado o colete salva-vidas e se paramentado com cartola e casaca para "morrer como um cavalheiro"), uma pitada de crítica social (são dramáticas as cenas em que os portões que dão à terceira classe acesso ao convés são fechados no momento do naufrágio) e também a condenação da arrogância, representada pelo capitão do navio, que teria aumentado a velocidade com o intuito de chegar mais cedo ao seu destino, sem ligar para os alertas da presença de icebergs. 

Nada disso, isoladamente, garantiria o sucesso do filme. É a combinação desses ingredientes com os impressionantes efeitos especiais na hora do naufrágio, sem esquecer o romance arrebatador dos dois personagens centrais, que faz de Titanic um programa de primeira. O sucesso do inverno americano tem tudo para ser o filme do verão brasileiro.

Fonte

Revista Veja, edição 1529, 14 de janeiro de 1998. Matéria por João Gabriel de Lima e Geraldo Mayrink
Reformatação de texto e imagens por Rodrigo Piller, Titanic em Foco

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