Acima: A mocinha da ficção, Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet), vai
de encontro ao seu par romântico, Jack Dawson (Leonardo DiCaprio), que a
aguarda sobre o lance central da famosa Grande Escadaria dianteira da 1ª
classe, aqui vista em seu mais admirado patamar, situado entre o convés
de botes e o convés A [cena de "Titanic", dirigido pelo canadense James
Cameron].
Seja bem vindo ao Titanic em Foco
A extensa matéria que o Titanic em Foco traz hoje é o resultado de um
longo interesse pessoal - do editor do blog, eu Rodrigo - sobre este ícone dos atributos internos do Titanic - e de uma pesquisa
que percorreu mais de 30 fontes diferentes, selecionando apenas as
melhores informações disponíveis.
Quer descobrir mais a fundo como era e como funcionava o mais movimentado ponto nos interiores do navio?
Então prepare-se para uma leitura que serve tanto à você que admira o Titanic
quanto para você que têm interesse especial por design de interiores. Desejo apenas que esta matéria não seja tão cansativa de
ser lida quanto foi para ser escrita e repetidamente editada.
Em 1912, para um passageiro que esteve hospedado na 1ª classe do Titanic, ou no seu navio-irmão, o Olympic, era inevitável percorrer os elegantes degraus de um dos ambientes que hoje nos é tão familiar, imortalizado nas cenas do megassucesso "Titanic" (1997), ou seja, a Grande Escadaria, nome pelo qual é conhecida a elegante escada que cortava verticalmente o navio entre o convés de botes e o convés F. Dentre os numerosos ambientes do Titanic, certamente este em especial é o mais lembrado e referido, sendo reconhecido até mesmo por aqueles que não têm grande interesse pela história do navio.
Acima - A deslumbrante escadaria dianteira da 1ª classe do Titanic em seus dias de glória, aqui magistralmente ilustrada pelo artista internacionalmente reconhecido Ken Marschall. Feéricamente iluminada pelas dezenas de lustres de bronze e cristal lapidado e pelo soberbo lustre central de 50 lâmpadas que pendia do domo de vidro, numa composição austera mas elegantemente equilibrada pelo bom gosto.
Acima - A Grande Escadaria brilhantemente ainda iluminada pelos lustres de cristal, aqui em mais uma arte ilustrada por Ken Marschall, que a representa em seus momentos finais da madrugada de 15 de abril de 1912, quando o Titanic fatalmente foi engolido pelas águas gélidas do Oceano Atlântico Norte, deixando a superfície para entrar para a história.
Acima- A Grande Escadaria dianteira recriada para os cenários do filme "Titanic" (1997). A reprodução foi possível graças às fotografias e às peças esculpidas sobreviventes da escadaria do RMS Olympic, o navio irmão do Titanic, das quais foram feitas cópias em gesso artisticamente pintadas para se assemelharem à madeira de carvalho inglês esculpido. A excelência do trabalho de cenografia pode ser vista em cada detalhe, e à exceção dos dois lances centrais que foram alargados em cerca de 50 cm em cada lado [levando ao aumento na largura do ambiente como um todo, consequentemente também redimensionando a cúpula], todo o restante segue de maneira bastante educada a obra original, contanto não seja de fato uma réplica fiel, perdendo detalhes e recebendo alterações visíveis de design. Ainda hoje esta é a melhor recriação física da escadaria já materializada, e nem mesmo as muitas versões em museus ao redor do mundo conseguiram o feito de ultrapassar os resultados obtidos por James Cameron e seu batalhão de historiadores, artistas e cenógrafos.
O
cenário foi construído sobre uma plataforma de elevação sobre um tanque
com 19 milhões de litros de água salgada para que fosse fisicamente
afundado frente às câmeras.
Durante a tomada onde foram literalmente
"despejados" 342 mil litros de água que estouram o domo de vidro, a
seção de degraus repentinamente soltou-se de suas bases e imergiu
violentamente sob os pés dos dublês, mas sem causar ferimentos aos
presentes. Toda a reprodução foi muito danificada durante as repetidas
tomadas, no entanto muitas peças da escadaria puderam ser salvas e hoje
encontram-se sob posse de colecionadores, museus, sociedades históricas
e esporadicamente surgem à venda em leilões virtuais.
O acidente nas gravações levantou a suspeita de que este provavelmente possa ter sido também o destino da escadaria original do Titanic, que eventualmente pode ter sido arrancada de suas bases durante as fases finais do naufrágio e flutuado para fora do navio, ou mesmo ter sido brutalmente expelida para fora de sua posição quando o Titanic colidiu com o fundo lamacento do oceano, resultando numa expulsão violenta da água em seu interior. Visto que nos escombros do Titanic a 3.800 m de
profundidade há raros fragmentos da escadaria, a arte pode ter imitado a
vida neste caso. No entanto estas são apenas suspeitas levantadas na
comunidade de pesquisadores, não há confirmação científica neste sentido.
Ao lado e na animação anterior acima -O ator Eric Braeden, que interpretou o passageiro da 1ª classe
John Jacob Astor neste filme, relatou que atuar nesta cena, onde o domo
é implodido por uma imensa massa de água, foi uma das experiências mais
assustadoras pelas quais já passou, visto que não houve qualquer
possibilidade de ensaio prévio antes da tomada.
CURIOSIDADE: Para
fins de segurança na gravação desta perigosa cena da implosão, os
painéis de vidro da cúpula da escadaria tiveram de ser substituídos por
painéis de parafina (fáceis de se romper), considerando que o vidro
estilhaçado causaria ferimentos aos atores e dublês que atuaram na tomada.
Abaixo - Um exemplo perfeito do trabalho de reprodução cenográfica
realizado escadaria reconstruída para o filme. Enquanto todo o trabalho
de madeiramento e entalhes na Grande Escadaria do verdadeiro Titanic
fora feito em madeira maciça esculpida, a peça ao lado é uma porção da
base de uma das colunas da balaustrada da escadaria cenográfica, que foi
reproduzida com uma composição de compensado de madeira e madeira maciça.
A
reprodução dos entalhes foi composta com gesso "maquiado" com pintura
que simula madeira nobre. A deterioração parcial da peça foi causada
pela prolongada imersão no tanque de água salgada e pelo desgaste
provocado pelo stress mecânico durante as longas gravações. A reprodução
dos
entalhes segue quase à perfeição o visual das peças correspondentes que
sobreviveram à demolição do Olympic em 1935, que serviram como base de
cópia.
A descrição da peça ao lado diz: "Um pedestal de 90 centímetros de altura
que integrava a escadaria reconstruída para a enorme reprodução
cenográfica do Titanic nos estúdios Fox Baja, na praia de Rosarito, no
México, para o premiado filme do diretor James Cameron. Composto de gesso
emadeira pintada para assemelhar-se à madeira nobre entalhada à mão, esta
peça foi desenhada pela equipe de James Cameron usando desenhos
originais fornecidos pela construtora Harland & Wolff, para replicar o
navio com uma precisão de detalhes sem precedentes. A peça foi
recuperada dos Estúdios Fox após a conclusão das filmagens."
Relembre os momentos finais da Grande Escadaria no filme "Titanic"
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Um tour virtual
Confira abaixo um passeio pela escadaria através da primorosa reconstrução gráfica criada pelos desenvolvedores do futuro game "Titanic Honor and Glory" que nos últimos anos e agora, em 2023, segue em processo de criação. O trabalho visual, artístico e histórico aqui é genuinamente baseado nas últimas e mais assertivas informações acerca do visual dos interiores do Titanic. Salvas algumas excessões onde o refinamento dos detalhes ainda não é o resultado final, toda a representação é neste ponto o que há de mais fiel no quesito histórico e técnico já criado até os dias atuais.
Informações Básicas
Nome - Grand Staircase [Grande Escadaria]
Localização - Primeira classe, na porção frontal do navio, atrás da
chaminé Nº 1 e imediatamente recostada no duto da chaminé Nº
Altura - Sete andares transitáveis + a clarabóia externa de proteção, com
cerca de 22 metros de altura total (considerando a altura desde o
primeiro piso no convés F ao extremo topo da clarabóia protetora externa).
Estilos - Junção de 05 estilos distintos: Estilo Jônico e Coríntio no
nos topos - capitéis - das colunas / Estilo Wlliam and Mary para os
painéis de revestimento das paredes / Estilo Adam para a cúpula de
vidro / Estilo Luís XIV para os balaustres de ferro forjado e
bronze / e o estilo de entalhes Grinling Gibbons criado pelo escultor
inglês de mesmo nome, que foi usado nas bases inferiores das colunas, no
painel do relógio esculpido e nas molduras das telas instaladas nos
lances medianos dos andares abaixo do convés A.
Função principal - Fazer a ligação e fornecer acesso entre as
acomodações do convés de botes, convés A, B, C, D, E e F.
O Titanic possuía quantas escadarias da 1ª classe?
Da mesma maneira que o navio-irmão, o Olympic, o Titanic foi equipado
com duas escadarias principais para a 1ª classe, conhecidas hoje como
“Grande Escadaria dianteira” e “Grande Escadaria traseira”. Ambas as
escadarias foram decoradas com uma junção dos mesmos estilos
decorativos, no entanto haviam entre elas pequenas variações de
dimensões e área de cobertura.
A
Grande Escadaria nas palavras da White Star Line Acima - Ilustração e texto extraídos diretamente de um panfleto
publicitário de época publicado pela Companhia White Star Line,
antecipando a beleza e benefícios dos interiores do Olympic e do Titanic.
A Escadaria
"Nós deixamos o convés e passamos através das portas que nos levam ao
interior do barco e, como por mágica, perdemos o sentimento de que
estamos à bordo de um navio, a sensação é de que estamos entrando no
saguão de uma grande casa em terra. Dignos e simples painéis de carvalho
cobrem as paredes, enriquecidos em alguns lugares por trabalhos de
entalhe, reminescentes dos dias quando Grinling Gibbons colaborava com
seu grande contemporâneo, Wren.
No meio do saguão se ergue uma graciosa escadaria curva, sua balaustrada
sustentada por leves volutas de ferro com ocasionais toques de bronze,
na forma de flores e folhagens. Acima de tudo um grande domo de ferro e
vidro verte uma inundação de luminosidade pelas escadas abaixo. No lance
abaixo há um grande painel esculpido que contribui com seu toque de
riqueza na sobriedade da composição das paredes de painéis simples. O
painel contém um relógio, e em cada um dos lados há uma figura feminina,
uma composição simbolizando a Honra e a Glória Coroando o Tempo.
Olhando por sobre a balaustrada, nós vemos as escadarias precipitando-se
para os muitos pisos inferiores. Voltando-nos para o lado poderemos ser
poupados do trabalho de descer os degraus ao entrar em um dos elevadores
com seu suave deslizar que nos levará rapidamente a quaisquer outros dos
inúmeros pisos do navio que queiramos visitar.A escadaria é um dos
principais atributos do navio, e será muito admirada como sendo, sem
dúvida, a mais fina obra deste tipo no mar."
Ao lado - Um pequenino trecho de um vídeo publicitário gravado na
década de 1920, sobre as acomodações interiores do Olympic. Na cena
passageiros da 1ª classe descem os degraus do lance principal da Grande
Escadaria, no convés A, onde se localizava o belo querubim luminária
fundido em bronze. Ainda hoje este é o único trecho de filme conhecido
pelo público desta área do navio.
O Relógio da Grande Escadaria do RMS Olympic, o navio irmão do Titanic
Ao lado - O grande painel de madeira esculpida que integrava a Grande
Escadaria dianteira do Olympic, o navio irmão do Titanic; hoje
preservado sob os cuidados do SeaCity Museum, em Southampton
(Inglaterra), o museu é localizado próximo às docas de onde o Titanic
partiu em 10 de abril de 1912.
Texto original: "Uma mulher olha para uma fotografia original
da Grande Escadaria do Olympic em Southampton, Inglaterra, terça-feira,
03 de abril de 2012. O novo museu será aberto no dia 10 de abril de
2012, cem anos após o malfadado Titanic ter partido do porto da cidade."
O belo relógio foi vendido na década de 1930, por ocasião do leilão de uma infinidade de peças decorativas do Olympic, que foram dispostas para venda após a demolição do navio; a peça esteve por décadas sob propriedade privada antes de ser doada ao antigo 'Maritme Museum of Southampton'. Originalmente o relógio não possuía qualquer tipo de tinta aplicada sobre a madeira de tom natural, mas foi primeiramente pintado quando o Olympic passou por uma reformulação da decoração de seus interiores no final de sua carreira (o relógio foi também repintado enquanto esteve sob propriedade privada). Em 1996, por ocasião da realização de pesquisas históricas sobre o visual do Titanic para a construção dos cenários do filme "Titanic", do diretor James Cameron, esta peça foi criteriosamente estudada, medida e fotografada, e deste modo permitiu um capricho digno de grande nota na criação de uma reprodução para os cenários do famoso filme.
Você sabia que durante o início da década de 1930 a escadaria no Olympic foi pintada de verde?
Você sabia que durante o início da década de 1930 a escadaria no Olympic foi pintada de verde?
O trabalho de redecoração foi colocado em prática durante a reforma dos interiores do Olympic executadas entre 1932-33. O resultado pode ter sido similar à foto colorizada abaixo. A maior parte dos painéis foi coberto com pintura verde abacate, com detalhes e porções esculpidas finalizados com bronze e dourado. A decisão pela cor verde provinha da moda proeminente no estilo arquitetônico Art Deco dos anos 1930, onde o verde era a cor predominante. Navios novos em estilo Art Deco estavam sendo construídos, e reformular as duas escadarias da 1ª classe o Olympic era uma forma de colocar o navio de estilo ultrapassado em voga com os novos tempos. Grandes porções dos painéis decorativos internos do Olympic foram leiloados após a demolição do navio entre 1935-37, e parte dos que seguem ainda hoje preservados ainda exibem camadas de tinta verde e dourada na madeira. Tivesse o Titanic sobrevivido até os anos de 1930, a mesma redecoração - de gosto duvidoso especialmente aos olhos atuais - seria repetida em sua escadaria de luxo clássico.
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1. Uma verdade importante
2. Construção, função e localização
3. Componentes
4. Acessos
5. Os painéis
6. As janelas
7. O aquecimento.
8. Teto e lustres
9. A cúpula
10. O piano
11. As colunas de sustentação
12. O piso de linóleo
13. A balaustrada ornamental
14. Os pedestais
15. O querubim
16. Qual era a quantidade de querubins no navio?
17. A mobília
18. O relógio
19. Chegada na cidade de Southampton com o relógio ainda
inacabado
20. Uma análise visual do relógio
21. Qual o significado geral do relógio?
22. A inspiração para a criação do relógio
23. As pinturas em tela e a tapeçaria de parede
24. O candelabro no convés D
25. Os elevadores
26. Uma curta aparição em filme da escadaria do RMS Olympic
27. Um voo musical pela Grande Escadaria
28. A Grande Escadaria "ontem e hoje"
29. A Grande Escadaria traseira
30. Grandes Escadarias em outros navios
1. Uma verdade importante
Por estranho e curioso que possa soar, de 1912 até os dias atuais
seguramente não veio à público qualquer fotografia autêntica da Grande
Escadaria da 1ª classe do famoso RMS Titanic. Pesquisadores e
especialistas ao redor do mundo, incluindo Ken Marschall - o mais conhecido historiador visual do Titanic - afirmam que se em algum momento a
escadaria fora fotografada, esta imagem não veio à público nestes mais
de 105 anos decorridos desde que o navio colidiu com o iceberg e
naufragou na madrugada de 15 de abril de 1912.
Acima: A escadaria dianteira do Olympic, aqui fotografada por volta
de 1912.
Como não existe uma imagem da escadaria?!
E as fotos que se vê nos livros, na Internet e nos documentários?!
Todas as fotografias públicas são na realidade das escadas do Olympic, em cujo qual historicamente se admite que esta seria praticamente idêntica à do Titanic. Ao longo dos anos muitas fotos exploradas em livros, documentários e fontes online são erroneamente identificadas como autênticas do Titanic, chegando à discrepâncias grotescas onde em cada um das fontes há uma legenda contrária a outra.
Não se têm uma clara conclusão sobre o motivo da falta de material
fotográfico da escadaria no Titanic, ou mesmo porque não há uma foto
divulgada. Mas umas das possíveis probabilidades provém do fato de que -
segundo o livro "Titanic Voices, Memories from the Fateful Voyage" - o
Titanic aportou na cidade de Southampton, Inglaterra, com alguns
aspectos da decoração ainda inacabados, incluindo detalhes da escadaria.
Ao lado: A escadaria no Olympic, numa foto propositalmente posada para publicidade na década de 1920. A presença de corrimãos metálicos instalados sobre os originais demarca a preocupação com segurança, considerando a altura temerária dos corrimãos ao redor de todos os patamares..
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Esta fotografia ressurgiu a público em maio de 2003 através dos cuidados de Lee S. Everitt, curador de uma exposição fixa do Titanic em Orlando, Estados Unidos. Após uma extensiva e acalorada discussão entre especialistas de várias áreas, chegou-se ao consenso de que a fotografia é na realidade, proveniente do Olympic, e teria sido tirada em um período em que o transatlântico foi submetido a uma de suas várias reequipagens entre temporadas [a sujidade no chão aos pés dos sujeitos demonstra os trabalhos em andamento].
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Esta fotografia ressurgiu a público em maio de 2003 através dos cuidados de Lee S. Everitt, curador de uma exposição fixa do Titanic em Orlando, Estados Unidos. Após uma extensiva e acalorada discussão entre especialistas de várias áreas, chegou-se ao consenso de que a fotografia é na realidade, proveniente do Olympic, e teria sido tirada em um período em que o transatlântico foi submetido a uma de suas várias reequipagens entre temporadas [a sujidade no chão aos pés dos sujeitos demonstra os trabalhos em andamento].
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Entre os muitos fatores que ajudaram a comprovar a identidade da fotografia estão os frontais nas quinas dos degraus da escada, que no Olympic receberam proteções de borracha entre o fim de 1911 e o começo de 1912, mas originalmente até antes desta reequipagem eram finalizados com filetes largos de latão polido aparafusado [como pode ser visto em outras tantas fotos da escadaria tiradas antes de 1912]. Através de profunda análise de uma cópia nítida desta mesma imagem, o renomado especialista visual do Titanic Ken Marschall, cruzou as informações visuais a partir dos veios do apainelamento da madeira nas paredes de outras fotos de diferentes épocas, constatando então que as "impressões digitais" correspondem exatamente entre as várias imagens. A discussão no entanto se arrastou por um longo período, mas o consenso final postulou a identidade da foto como proveniente do Olympic após o início de 1912, e que ainda hoje não se conhece qualquer fotografia verídica das escadarias do Titanic. No entanto a foto não perdeu seu indiscutível valor histórico.
Abaixo: Nesta incrível fotografia tomada a partir do balcão frontal em direção ao patamar entre o convés de botes e o convés A da escadaria dianteira, dois sujeitos posam junto ao famoso painel do relógio esculpido Honour and Glory Crowning Time..
titanicchannel.tv |
Robert John Welch, o fotógrafo especialmente contratado pela construtora
Harland and Wolff para fotografar o Titanic, ainda em Belfast, Irlanda
do Norte, também optou por priorizar o gasto de suas placas fotográficas
em locais considerados inovações no Titanic em relação ao Olympic.
Considerando que as duas escadarias eram atributos presentes em ambos os
navios, e já haviam sido fotografadas extensamente em 1911 no Olympic,
Robert Welch aparentemente não preocupou-se em registrar a versão a
bordo do Titanic, já tão familiar e bem registrada em seu navio irmão.
Em compensação, Welch fotografou com maestria o café parisiense e as
chamadas "suítes milionárias" no convés B do Titanic, que eram atributos
inovadores do navio, não presentes até então no Olympic, e tampouco em
quaisquer outros navios até aquela data. Seguindo esta mesma aparente
regra, Welch não fotografou outras dezenas de importantes áreas do
Titanic... Não fotografou a sala de fumantes da 1ª classe, o lounge, a
sala de leitura, o restaurante à la carte, a recepção no convés D...
Também não fotografou nenhuma das áreas comuns internas da 2ª classe,
tampouco quaisquer áreas comuns internas na 3ª classe.
Ao
lado - Robert John Welch (*1859 †1936), fotógrafo oficial da
construtora Harland and Wolff. Foi ele o responsável pelas dezenas de
fotografias da construção do Olympic, do Titanic e do Britannic, entre
outras centenas de fotos de navios da mesma época e também das
grandiosas oficinas da empresa. As melhores e mais conhecidas
fotografias do Titanic durante o período de construção e as raras
fotografias dos interiores do navio finalizados foram, na grande maioria
dos casos, obras de seu talento notável com uma câmera fotográfica
profissional.
Ao aportar em Southampton no dia 3 de abril de 1912, sete dias antes da
partida, os trabalhos de acabamento no Titanic continuavam a ser
realizados freneticamente nos seus interiores, e o ele não chegou a ser
aberto para uma grande visitação pública - algo que chegou a ocorrer com
o Olympic - e nem para uma grande massa de imprensa e fotógrafos, sendo
timidamente fotografado em seus interiores por poucos jornalistas, pelos
membros da família Odell e pelo futuro padre Francis Browne, que se
hospedaram na 1ª classe, fazendo algumas das fotos mais conhecidas dos
conveses exteriores do navio.
Tanto a família Odell quanto Francis Browne desembarcaram na 2ª escala
do Titanic na cidade de Queenstown, Irlanda, em 11 de abril, portanto
escaparam do naufrágio e levaram consigo as fotos tiradas, as quais se
tornaram públicas e muito conhecidas após o naufrágio.
Registros afirmam que nos 7 dias após o Titanic aportar em Southampton, o barco lembrava uma colméia de abelhas. As duas imagens abaixo são datadas de 8 e 9 de abril de 1912. A aparência de calmaria do porto escondia a grande movimentação nos interiores do navio.
Acima - As fotos certificam que atracado no porto da cidade de
Southampton, Inglaterra, faltando poucos dias para a partida, o Titanic
passava por processos de acabamentos e arremates, o que é evidenciado
pelos closes, onde se pode notar que os trabalhos nos retoques da
pintura do casco e dos chaminés prosseguiam, com pintores suspensos por
balancins ao redor do navio. Assim então é correto afirmar que haviam
ajustes a serem feitos e que nem todos os detalhes estavam plenamente
concluídos, porém não se pode dizer qual era a extensão e importância
destes arremates de última hora.
Segundo o que se relata, havia uma enxurrada de comerciantes e técnicos
que vieram ao navio para realizar ajustes e entregas dos mais variados
itens, que iam da instalação e ajuste final de carpetes, pianos e
móveis, à entregas de peças de reposição e equipamentos de cozinha. Além
do grande movimento gerado pelo processo de carga de suprimentos e das
montanhas de bagagens e encomendas enviadas à América que ocuparam os
porões de carga.
Assim então, os pesquisadores assumem que uma das duas situações possa
ter acontecido:
A. A escadaria não foi fotografada em nenhum momento.
B. A escadaria foi fotografada, mas a imagem seguiu sem ser divulgada,
quer seja porque o ambiente ainda não estava plenamente concluído ou
porque a foto teria se perdido por algum motivo desconhecido.
A única certeza gerada pelos registros documentais é de que as
escadarias eram muito similares nos dois navios. Para tanto é justo
dizer que olhar para as fotos do ambiente no Olympic surte o efeito
vicário de estar olhando para as escadas do Titanic. Este é um ponto
muito importante a ressaltar. Resta então pensar que realmente exista
alguma foto da Grande Escadaria no Titanic, e que esta imagem esteja
esquecida em algum arquivo, ou mesmo amarelada dentro de uma caixa de
sapatos num sótão qualquer, à espera de alguém que a descubra e
finalmente torne público esta imagem ainda inédita à comunidade de
estudiosos, pesquisadores e admiradores.
2. Construção, função e localização
Matt DeWinkeleer / Four Funnels Entertainment ......................................................... |
Ao lado - Uma visão total isolada da Grande Escadaria.O gráfico
ilustra os lances até o convés E, o último patamar adornado, porém não
inclui o convés F onde se localizava a porção final simplificada das
escadas. A recriação ilustra cerca de 19 dos 22 metros entre os extremos da escadaria.
Por se tratar de um ambiente comum a todos os passageiros hospedados na
1ª classe, visto que era através das escadas que se tinha acesso a todos
os conveses destinados a este público, e por ser uma obra que unia
engenharia e design de grande destaque e beleza, este atributo do
Titanic tornou-se um símbolo icônico do próprio navio, e um dos ícones
do luxo alegado pela companhia de navegação White Star Line sobre seu
transatlântico de luxo.
Contrariando as impressões causadas pelas fotos de época, a escadaria
não era uma obra plenamente construída em madeira, parte da estrutura
principal se compunha de aço, sobre a qual foram instalados os painéis e
colunas de carvalho inglês polido, ocultando a estrutura de aço bruto.
O esqueleto principal das escadas alocava-se num enorme vão livre que
descia a partir do convés de botes, penetrando por 7 andares. O vão
livre quando ainda em construção, foi marcado pela presença de numerosas
colunas de aço, responsáveis por sustentar o peso de cada piso superior.
Desde os princípios da construção do Titanic já teria sido possível
então identificar que entre as numerosas colunas que circundavam este
fosso, seria instalada uma estrutura grandiosa.
Assim como em grande parte dos ambientes construídos na 1ª classe, a
escadaria era equipada com painéis e ornamentações de estilos já bem
difundidos na Europa. Curiosamente foram aplicados quatro grandes nomes
da arquitetura neste ambiente: os estilos Luis XIV, Willian and Mary,
Adam e o estilo de entalhe do escultor inglês Grinling Gibbons. Estilos
estes que não eram inovações, visto que estavam presentes desde há muito
tempo nos castelos e grandes casarões europeus, e já ditavam moda muito
tempo antes da idealização do Olympic e do Titanic.
Acima - O trio de imagens ilustra um estágio mais avançado da
construção. No dia do lançamento do casco do Titanic, 31 de maio de 1911
(esquerda e meio), a parede de bombordo da escadaria, situada no convés
de botes, ainda não havia sido concluída, deixando a mostra as colunas
de sustentação onde seriam posicionadas as características janelas
arcadas. A última foto exibe o mesmo local do convés num estágio mais
adiantado da construção, com as janelas já cortadas no aço.
3. Componentes
Ao lado - A escadaria dianteira aqui representada em computação
gráfica criada para o Centro Titanic Belfast, inaugurado em 2012.
1. Colunas esculpidas com entalhes ao estilo do escultor inglês Grinling
Gibbons (colunas ocas que revestiam as pilastras de aço). 2. Piso de aço
revestido com base de assentamento denominada litosilo, e recoberto com
ladrilhos de linóleo. 3. Acesso para os três elevadores situados na
porção traseira da escadaria, exclusivos para a 1ª classe. 4. Balaústres
de madeira esculpida, com inserção de treliças espiraladas de ferro e
peças decorativas fundidas em bronze dourado polido. Design inspirado
pela decoração da corte do Rei Luís XIV. 5. Último pavimento da
escadaria, convés de botes. 6. Coluna esculpida com detalhes de flores,
frutas e laços de fita. 7. Luminária de bronze com alegoria de querubim
sustentando uma longa cornucópia de bronze dourado, com uma lâmpada
protegida sob um cúpula de vidro translúcido em forma de chama.
Possivelmente o querubim foi diretamente inspirado por uma peça idêntica
que ainda hoje decora os jardins do Palácio de Versalhes na França.
*Fotografia da escadaria do Olympic. O lance de escadas aqui visto
situa-se no convés A, um andar abaixo do topo do navio (um andar abaixo
do convés de botes).
8. Lustres de bronze e pingentes de cristal lapidado, fabricados pela
empresa Perry e Co., de Londres (3 lâmpadas cada). 9. Painéis de
carvalho inglês ao estilo dos monarcas William and Mary. Exatamente
atrás desta parede se situava uma sala contendo o maquinário de
suspensão dos três elevadores da 1ª classe, que operavam entre o convés
A e o convés E. 10. Molduras de arremate para a clarabóia superior (as
lâmpadas para iluminação da clarabóia foram instaladas aqui, no lado de
dentro, ocultas ao redor do domo). 11. Painel esculpido em alto relevo
em carvalho nomeado "Honour and Glory Crowning Time" [Honra e Glória
Coroando o Tempo]. A arte foi executada por Charles Wilson, que fez
trabalhos que se acredita idênticos para o Olympic e para o Titanic. 12.
Degraus com arremates frontais em latão dourado. 13. Lance de escadas de
acesso ao convés B. 14. Arremate decorativo esculpido denominado
Pineapple Finial
4. Acessos
Ao lado - O elegante acesso pelo lado de bombordo para a escadaria
através do convés de Passeio, ou convés A cena de "Titanic" (1997)
Os acessos principais para a escadaria estavam localizados a bombordo e
estibordo (esquerda e direita do navio) no convés de botes. À bombordo a
escadaria era acessada por uma porta com uma grande vigia circular
voltada para a popa do navio. A estibordo o acesso se dava por uma porta
igual voltada para as bordas do convés de botes. Esta estava localizada
imediatamente à frente da entrada para o ginásio de exercícios adjacente
à escadaria.
Convés de Botes, bombordo..........................Convés de Botes,
estibordo
Acima, esquerda - A entrada de bombordo para a escadaria (foto no
Olympic em 1921, 14 anos antes da aposentadoria do navio e de sua
demolição). Sentada na poltrona está a famosa cientista Marie Curie, ao
lado de suas filhas. Direita - A entrada de estibordo para a (foto no
Titanic). A porta aberta é do ginásio, e a entrada da escadaria se
situava dentro do pequeno nicho varanda logo adiante. Este lado do
convés é o mesmo onde ocorreu a colisão com o iceberg. O sujeito na
imagem é Percival Wayland White, 54, um fabricante de algodão
norte-americano, que embarcou no Titanic na manhã de 10 de abril de 1912
acompanhado de seu filho, Richard, hospedando-se como passageiro da 1ª
classe e ocupando a cabine "D-26"; ambos pereceram no naufrágio.
Acima - Cena deletada de "Titanic" (1997)
Pequenos letreiros iluminados foram montados próximos das entradas para
a escadaria no convés de botes, convés A e convés B. Estas caixas
iluminadas carregavam a inscrição "1st CLASS ENTRANCE" (ENTRADA DA 1ª
CLASSE) nos dois versos gravados. Haviam mais letreiros como este com
outras inscrições espalhadas pelo navio.
Acima no destaque - Um dos letreiros reproduzidos para os cenários do
filme "Titanic" (1997)
No interior do ginásio de exercícios adjacente a escadaria havia também
uma porta de acesso, usada para ir de um ambiente ao outro sem a
necessidade de exposição ao tempo no convés de botes. A presença da
porta de acesso para a escadaria a partir do ginásio data dos primórdios
dos projetos do Titanic, que previam que aqui estaria apenas parte do
convés de botes aberto. Inicialmente o ginásio seria alocado no convés
F, segundo demonstram os primeiros planos dos dois navios irmãos. Ao que
tudo indica, na inclusão do ginásio a porta para a escadaria foi mantida
em sua posição inicial, mas foram eliminadas as possíveis duas janelas
arcadas, como as vistas junto da porta de acesso do outro lado do navio
[as duas janelas arcadas aqui estariam na mesma direção onde vê-se o
saco de pancadas]. Assim então a porta de trânsito entre a escadaria e o
convés neste lado do navio foi alocada dentro do nicho varanda voltado
para estibordo [como mencionado na foto acima].
Acima - A porta de acesso para a escadaria através do ginásio, a
fotografia está voltada para a proa (a parte da frente do navio). Este é
o ginásio no Olympic, de mesmo design geral a bordo do Titanic.
Ao atravessar por qualquer uma das três portas de acesso no convés de
botes, tanto as portas voltadas para o exterior quanto a porta
localizada dentro do ginásio, se estaria dentro um elegante vestíbulo
envidraçado, que atuava como uma proteção adicional para as intempéries
do clima externo, impedindo também a fuga de aquecimento interno.
Acima - O destaque indica a posição do vestíbulo envidraçado. Esta disposição beneficiava o aquecimento do ambiente, impedindo a entrada de ar frio exterior e a saída de ar quente do aquecimento interno. Direita - Cenário de "Titanic" (1997) .
No convés A também haviam quatro portas de acesso vindas do exterior,
duas voltadas para a popa e duas delas voltadas para as bordas laterais.
Do mesmo modo que no convés de botes, as portas voltadas para a popa
eram seguidas de um vestíbulo envidraçado. Atrás da escadaria, junto dos
três elevadores, haviam também dois longos corredores de cabines da 1ª
classe. À frente dos degraus, à esquerda de quem os descia, se iniciava
um longo corredor apainelado conduzindo à sala de leitura e ao lounge da
1ª classe.
Acima, esquerda - As entradas da escadaria a partir do convés A, onde havia um total de 4 portas com grandes vigias circulares com vidro. A foto foi feita no convés A no Olympic, mas no Titanic o visual geral era o mesmo.
No convés B estavam localizadas mais 2 portas de acesso, sendo estas um
dos principais acessos para a escadaria, localizadas à frente de quatro
grandes portas de embarque (2 à bombordo e duas à estibordo) no costado.
Estas eram utilizadas para acesso de passageiros a partir das
plataformas elevadas do porto.
No convés C a escadaria não era provida de portas de acesso vindas do
exterior do navio, aqui ela estava circundada pelas as cabines da 1ª
classe e pelo "Enquiry Office", o balcão de informações e atendimento
da 1ª classe. O trânsito se dava através de quatro terminais de
corredores e por quem estivesse subindo ou descendo os patamares.
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Uma das entradas mais elegantes era localizada no convés D, onde o acesso se dava diretamente das plataformas através das plataformas de embarque, assim como no convés B. Ao passar pelas portas no costado haviam duas opções: subir os elegantes degraus ou optar por tomar um dos três elevadores que operavam entre o convés A e o convés E.
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Uma das entradas mais elegantes era localizada no convés D, onde o acesso se dava diretamente das plataformas através das plataformas de embarque, assim como no convés B. Ao passar pelas portas no costado haviam duas opções: subir os elegantes degraus ou optar por tomar um dos três elevadores que operavam entre o convés A e o convés E.
Acima, esquerda - O imponente casco do Titanic (foto real) e as duas portas de entrada para o convés D. Direita - O mesmo local replicado no cenário de "Titanic" (1997).
Ao atravessar as passarelas o passageiro estaria na 1ª Classe dentro de
um amplo saguão adjacente a recepção do salão de jantar da 1ª classe. No
saguão se optaria pela porta à esquerda acessando a recepção e a
escadaria, ou seguir pela direita acessando o trio de elevadores.
5. Os painéis
As paredes na escadaria foram revestidas com painéis de carvalho inglês,
numa composição austera que seguia o estilo arquitetônico William and
Mary. A cor caramelo alaranjado enchia o ambiente de um tom espetacular
quando as luzes acesas refletiam na superfície polida da madeira encerada.
Acima, esquerda - Detalhe que destaca a sobriedade dos painéis em sua
formas planas e retilíneas, livres de grandes ornamentos. Direita -
Uma longa seção dos painéis nos cenários do filme "Titanic" (1997).
Estes painéis eram livres de grandes ornamentos, mas as várias molduras retilíneas, e algumas colunas com frisos e desníveis demarcavam os contornos do madeiramento de carvalho inglês polido.
Acima - Destaque de uma das várias colunas inseridas ao redor das
paredes.
6. As janelas
Nos conveses superiores da escadaria foram equipadas grandes janelas
arcadas com dimensões de 1,62 X 76 cm. Havia um total de 23 janelas
deste padrão distribuídas entre o convés de botes, A e B. Nos demais
patamares a escadaria não possuía janelas arcadas.
Acima - O destaque exibe mostra a disposição das janelas no convés de
botes. Havia um total de 11 janelas como esta neste convés, 4 à
estibordo e 7 à bombordo.
7. O aquecimento
A calefação era feita por um conjunto de 25 aquecedores elétricos
verticais fornecidos pela Perry & Co., instalados ao redor das paredes
em cada um dos conveses. Estes estavam estrategicamente distribuídos em
posições que beneficiassem a uniformidade da distribuição do ar quente.
A distribuição de aquecedores:
*6 no Convés de Botes*
6 no Convés A
8 no Convés B
5 no Convés C.
8. Teto e lustres
Acima - Cenário subaquático artificial de "Titanic"
(1997)
O teto na escadaria era branco, constituído por longos nichos
emoldurados, dentro dos quais se dispunha os lustres. Estes foram
fabricados pela empresa Perry & Co, de Londres. Os lustres eram
circulares com 30 cm de diâmetro x 30 cm de altura total. Eram compostos
de um aro de bronze trabalhado com tema de folhagens e pequenos frutos
esféricos e uma cesta formada por um grande conjunto de cristais
facetados de tamanhos decrescentes unidos na parte inferior por um
pequeno florão circular de bronze, arrematado com um cristal lapidado.
Cada um continha três lâmpadas. Na parte interna havia uma estrutura de
arame armado, com a função de manter o formato do lustre em quaisquer
condições de balanço ou eventual inclinação do navio. Todos os lustres
instalados a bordo do Titanic foram desenhados de modo que não
demonstrassem as oscilações do transatlântico em mares mais agitados,
por isto todos os variados modelos foram projetados de modo que
permanecessem imóveis em qualquer condição.
As sancas - molduras entre parede e teto - eram esculpidas em carvalho com um padrão de flores e folhagens.
Acima - A moldura faz parte do grande conjunto de peças leiloadas do
Olympic depois de sua demolição em 1935, a peça denota o trabalho
intrincado de escultura.
9. A cúpula
Acima: Cena de "Titanic" (1997)
O atributo mais impressionante na escadaria certamente era a imensa
cúpula envidraçada localizada no teto do convés de botes, a porção mais
alta do saguão. Esta cúpula juntamente com as janelas permitia a entrada
de iluminação exterior no ambiente. Medindo 5,8 m X 7,9 m, a cúpula não
era circular, mas de formato elíptico/oval [curiosamente os dutos das
quatro chaminés tinham a mesma dimensão, também ovais, com 5,8 de
largura X 7,9 m de comprimento]. A verdade é que apenas o domo da
escadaria traseira era circular. Esta vistosa peça de arte fora
fabricada pela empresa "T & W Ide" de Londres, fundada em 1830. O domo
era composto de ferro forjado com amplos desenhos quadrangulares, ovais,
circulares e arabescos. Aplicações de peças decorativas de bronze
dourado formavam festões ao redor do domo. Esta composição seguia o
estilo arquitetônico Adam.
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Durante o dia a luz do sol banhava naturalmente a cúpula através dos
painéis curvos de vidro translúcido, mas à noite a luz provinha de um
grande conjunto de lâmpadas equipadas junto à base interna emoldurada na
parte superior do domo (lâmpadas especiais ocultas pelo trabalho
emoldurado ao redor da base da cúpula). Ao contrário do que é geralmente
acreditado especialmente pelas cenas do filme "Titanic" (1997), a
verdade é que não haviam lâmpadas externas para a iluminação da cúpula,
mas lâmpadas internas ao pé do domo ocultas pela decoração emoldurada.
Para a proteção do domo, que se tratava especialmente de uma peça de
arte, no lado externo do navio foi instalada uma clarabóia protetora
retangular com topo abobadado com painéis de vidro medindo ao todo 6,09
m de largura x 8,22 m de comprimento x 1,82 m de altura.
O lustre central
Acima - Cena de "Titanic" (1997)
Do centro da cúpula pendia um lustre circular em bronze e cristais
lapidados, equipado com um conjunto de 50 lâmpadas (!). Este era o
segundo maior no navio, atrás apenas do lustre da sala de estar,
o lounge da 1ª classe. O lustre foi também fabricado pela empresa Perry
e Co, de Londres. Curiosamente até a presente data não há qualquer
fotografia conhecida das escadarias no Olympic em que o lustre esteja
enquadrado, considerando as dezenas de fotos já conhecidas. A única
referência fotográfica conhecida deste lustre provém de uma foto
publicitária no catálogo da empresa fabricante, publicada na revista
especializada "The Shipbuilder", em seu número dedicado ao Olympic e
ao Titanic de 1911. Outra referência seria a versão utilizada no navio SS Laurentic, que teria sido a mesma instalada no Titanic [veja na curiosidade abaixo]
Titanic Honor and Glory |
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A cúpula a bordo do SS Laurentic
Você sabia que a cúpula da grande escadaria do Titanic não era uma novidade?
O navio SS Laurentic, da White Star Line, (esquerda),
já possuía uma cúpula idêntica em 1908, 4 anos antes da viagem
inaugural do Titanic. Esta no entanto era mais compacta. Um dos aspectos notórios entre
os navios produzidos para a
White Star Line era a repetição e reformulação de alguns dos aspectos
decorativos e funcionais de seus navios anteriores. A empresa repetia
os atributos decorativos de sucesso de seus navios mais antigos, que eram introduzidos
também em navios novos de maneira melhorada e enriquecida. Curiosamente o Laurentic foi também vitima de naufrágio, em 25 de janeiro de 1917, com a perda de 354 vidas, quando atingiu duas minas colocadas por um submarino alemão ao norte da Irlanda. O navio carregava cerca de 43 toneladas de ouro em lingotes, que foram quase totalmente recuperados desde então.
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10. O Piano
Acima - Cena de Titanic (1997) *Piano cenográfico em tanque artificial.
Ainda no convés de botes, recostado às janelas laterais de bombordo, se
localizava um belo piano entalhado com uma banqueta estofada retangular.
Este era um piano de modelo vertical da famosa marca Steinway & Sons, e
o instrumento estava ali disposto para ser tocado pelos músicos do
navio. Hoje a marca ainda existe, e os pianos Steinway chegam a custar
500 mil dólares, e são considerados os melhores pianos do mundo.
Acredita-se que na madrugada de 15 de abril de 1912 os músicos teriam
tocado aqui no saguão por algum tempo curto indeterminado enquanto
sucedia o processo de evacuação do navio, posteriormente se direcionando
para o convés externo para tocar junto à porta de acesso para a
escadaria. O telegrafista júnior do Titanic, Harold Bride, testemunhou
que da sala do telégrafo [localizada a poucos metros da posição do piano
através de um corredor] teria ouvido os músicos executando números
enquanto ele próprio estava envolvido com as mensagens urgentes com
pedido de socorro à outras embarcações.
11. As colunas de sustentação
Do convés de botes ao convés E, havia na escadaria 64 colunas de
carvalho esculpido. As colunas eram ocas e revestiam as pilastras de aço
que sustentavam o peso dos pisos superiores. Os entalhes da base seguiam
à moda do requintado estilo do escultor inglês Grinling Gibbons (*1648
+1721), que foi criador de um estilo de entalhe extremamente delicado e
profundo minuciosamente trabalhado, que resulta em relevos espetaculares
de flores, folhas, frutos, laços de fita e arabescos. No Titanic, no
entanto, o refinamento de entalhes era mais robusto que nas obras
originais do mestre escultor, visto que a utilização diária e grande
tráfego de pessoas exigia maior resistência das obras esculpidas. O
capitel - parte de cima da coluna - seguia o luxuoso estilo coríntio e o
jônico, que têm sua origem na arquitetura greco-romana.
Acima - A escadaria vista a partir do convés A. A pequena prancha
esculpida à direita era parte de uma das colunas da escadaria do
Titanic, e foi recuperada na área dos destroços flutuantes do naufrágio
em 1912. Hoje o artefato integra a coleção do Maritime Museum of the
Atlantic, em Halifax, Canadá.
As colunas estavam distribuídas na seguinte proporção:
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14 no convés de botes
14 no convés de botes
16 no convés A
2 entre os conveses A e B
10 no convés B
2 entre o conveses B e C
10 no convés C
2 entre os conveses C e D
2 entre os conveses D e E
No convés D haviam 6 colunas quadrangulares com frisos verticais, com
estilo distinto das demais colunas nos patamares superiores.
Acima - Uma visão da recepção no convés D localizada frente ao salão
de jantar e uma das colunas quadrangulares desta porção das escadas.
Não haviam colunas ornamentais no convés F, este era o término da
escadaria. Neste ponto os degraus eram simplificados nas formas, livre
de decoração pesada. Este lance de escadas estava localizado junto dos
acessos para a piscina e para o banho turco, ambas acomodações
direcionadas apenas para a 1ª classe.
Titanic Honor and Glory |
Acima - A reconstituição gráfica ilustra a possível disposição decorativa do
último dos lances da escadaria. Nas costas do "fotógrafo"
situava-se a porta de acesso para a sala de resfriamento do banho turco
(sauna da 1ª classe).
12. O piso de linóleo
O piso na escadaria, assim como em grande parte do Titanic, era composto
de placas de linóleo, um clássico e antigo revestimento composto por
materiais orgânicos de alta resistência ao tráfego. As placas eram
brancas e mediam 46 X 46 cm, dispostas lado a lado e interrompidas a
intervalos regulares por peças com um desenho geométrico em branco e
preto. A composição fazia lembrar uma estrela estilizada.
Acima, esquerda - Uma ilustração publicitária da época e uma arte
ilustrativa do linóleo com padrão geométrico triangular.
O linóleo é um material usado geralmente no revestimento de pisos,
criado em 1860 pelo químico inglês Frederick Walton. Seu nome é composto
das palavras latinas linum, referente a linho, e oleum, referente ao
óleo de linhaça, que, junto com o pó de cortiça e do tecido de juta, é
uma das principais matérias-primas deste material. Atualmente em desuso,
vem sendo amplamente substuído pelo piso vinílico desde a década de 1960.
Diagrama do piso de linóleo na escadaria
Ainda no piso de linóleo, aos pés das paredes havia uma contínua faixa
negra que percorria todo o entorno do ambiente, delimitando o contorno
do piso e arrematando o design geral, harmonizando-se com a composição
geométrica.
Acima, esquerda - Detalhe da linha ao redor da escadaria. E o mesmo
tipo de detalhe visto em uma reconstituição no museu Titanic Branson
Attraction, no Missouri, EUA.
Os degraus também teriam sido compostos de linóleo, sem a aplicação
padrão geométrico. No topo frontal de cada degrau fora instalado uma
longa faixa de latão dourado presas através de parafusos aparentes.
Segundo novas interpretações históricas, os frontões de latão foram
detalhes exclusivos do início da carreira nas escadarias a bordo do
Olympic, o navio irmão do Titanic. Indícios e fotografias de época do
Olympic apontam que houve uma substituição desta decoração no começo de
sua vida ativa, com a instalação de frontais emborrachados. Detalhe
histórico que leva a crer que no Titanic a inovação foi aplicada,
abandonando os frontões de bronze por motivo não declarado;
eventualmente uma troca para garantir maior segurança na utilização das
escadas.
Acima, direita - O detalhe dos degraus em uma reconstituição da
escadaria em Branson, Missouri, EUA.
13. A balaustrada ornamental
Acima - Cenário de "Titanic" (1997)
Ao redor da escadaria, e no centro das escadas, havia a contínua
balaustrada ornamental esculpida em carvalho. No corrimão foi aplicada
uma moldura contínua de carvalho esculpido à mão, a qual simulava folhas
de louro com pequenos frutos esféricos amarrados com fibra em forma de um "X".
Acima, direita - Detalhe de um dos corrimãos preservados da escadaria no Olympic,
preservado hoje e em uso no White Swan Hotel, em Alnwick, norte da
Inglaterra.
O gradeado ornamental seguia o estilo Luís XIV, enriquecido pela
aplicação de festões de bronze, simulando folhas de louro amarradas com
fibra. Centralizados no meio dos arabescos de ferro espiralado, os
medalhões ovais com relevos que simulavam folhas de acanto. Nas
extremidades haviam pequenas rosetas de bronze.
1 - Roseta 2 - Medalhão oval com folhas de acanto 3 - Festão de folhas
de louro amarradas com fibra 4 - Arabesco de folhas.
14. Os pedestais
No topo dos pedestais da escadaria uma pinha de madeira entalhada
- denominada
Pineapple Finial - arrematava a decoração. Na arquitetura clássica as pinhas simbolizam a
fertilidade e a renovação, seu uso como decoração é muito recorrente em
vários estilos e materiais.
Acima, direita - Uma das pinhas esculpidas da escadaria no Olympic.
Medindo 38 cm de altura, a peça sugere a dimensão grandiosa da
escadaria. A peça segue em uso no White Swan Hotel, em Alnwick, norte da
Inglaterra.
15. O querubim
Luminárias e candelabros com velas reais se faziam extremamente
necessários em tempos onde a energia elétrica não existia e as
escadarias de palácios e mansões necessitavam de iluminação para
auxiliar na segurança de quem estivesse transitando por seus degraus.
O querubim luminária do Titanic no entanto era apenas decorativo e
auxiliar de iluminação, visto que a escadaria já era absolutamente
iluminada pela clarabóia com seu grande lustre de 50 lâmpadas e pelas
dezenas de outros lustres de cristal instalados no teto.O querubim
situava-se no convés A. A escultura de bronze media 1,40 m de altura com
a chama inclusa. A figura apresentava cabelos ondulados e fora
representado seminu, onde apenas um pequeno manto recaía de cima de suas
asas e cobre seu ventre, terminando envolvido em suas costas como se
estivesse solto no vento.
Acima - Uma reprodução do querubim exposta no Titanic Branson
Attraction, em Branson, Missouri, EUA. Esta é uma versão com cores mais
precisas que a reprodução criada para o filme "Titanic" (1997), pois
apresenta a tocha na cor dourada, informação descoberta após o filme.
A face do querubim era voltada para a direita e levemente para baixo e
ele apoiava-se na a perna esquerda, mantendo a perna direita levemente
flexionada, tocando apenas a ponta do pé sobre a base, a qual simula um
pequeno monte de rochas com folhas e flores. Nas mãos segurava um longa
curva com forma de cornucópia. No topo da tocha havia uma cúpula de
vidro translúcido branco em forma de chama. A tocha era também composta
de bronze, assim como todo o querubim, mas em bronze polido dourado.
Na ilustração de um panfleto publicitário abaixo, a demonstração que uma
cornucópia é na realidade um chifre estilizado. Cornucópia é um símbolo
de fartura e se faz presente no meio artístico em forma de esculturas,
pinturas, móveis e peças decorativas. Cornucópias são popularmente
chamadas de "chifres da fartura".
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O querubim foi afixado no topo de uma robusta coluna de 90 cm de altura,
esculpida com frutos, flores, folhas e um laço de fita, o mesmo tema de
entalhes presente nas bases das demais colunas.
Acima - Uma coluna de um dos patamares do Olympic, que segue
preservada e em uso no White Swan Hotel, em Alnwick, norte da Inglaterra.
O querubim que tem irmãos gêmeos na França, Bélgica e Alemanha
Acima - O trio de querubins nos jardins do Palácio de Versalhes,
França. E o querubim localizado na grande escadaria traseira do Olympic,
uma versão espelhada invertida do querubim da escadaria dianteira.
Você sabia que vários aspectos da
decoração dos interiores do Titanic foram inspirados pelo Palácio de
Versalhes, localizado em Versalhes, França?
Ainda hoje há nos jardins do palácio de Versalhes a estátua de um
querubim (anjo) de bronze idêntico ao que decorava a famosa Grande
Escadaria da 1ª classe do Titanic. Possivelmente esta escultura de
bronze fora utilizada como base de inspiração para o mesmo querubim
reproduzido no Titanic.
Há ainda reproduções do mesmo tipo no Chateau des Vaus na França, no
Koning Albert I Park na Bélgica, no Palais de Justice em Marselha na
França, no Zamoyski Palace na Polônia, e no Palácio de Herrenchiemsee na
Alemanha.
Ao lado - Uma recriação gráfica do querubim da Grande Escadaria do
Titanic, arte do brasileiro Anderson Brugger. Vídeo original AQUI
Grande parte da decoração das áreas luxuosas da 1ª classe no Titanic foi
elaborada tomando como base famosas propriedades europeias e outros
navios da mesma época, ou seja, nos interiores do Titanic foram
aplicadas “releituras expandidas, adaptadas e melhoradas” da decoração
já existente em muitos outros transatlânticos de sucesso do mesmo
período e na decoração interna de propriedades luxuosas em terra.
16. Qual era a quantidade de querubins no navio?
Não há fonte documental definitiva que registre qual era a quantidade de
querubins instalados aos pés das duas escadarias da 1ª classe no Olympic
e no Titanic. No entanto, segundo informações recentemente levantadas
por pesquisadores, no Titanic poderia haver um total de 14 querubins
instalados aos pés das duas escadarias: 9 na escadaria dianteira e 5 na
escadaria traseira. Estes querubins estavam divididos em dois tamanhos e
configurações diferentes (os pequenos querubins se tratavam de pares
unidos com 1 só lâmpada segurada por ambos). Apenas dois deles eram
grandes, todos os outros eram tamanho menor, visto que se encontravam em
andares inferiores, onde as dimensões dos ambientes requeriam uma
decoração reduzida em altura.
17. A mobília
A escadaria não era amplamente equipada com móveis, à exceção do convés
D, onde as escadas se abriam para a recepção, totalmente mobiliada com
mesas e poltronas de vime. Não sendo voltada para estadia, mas para o
trânsito de passageiros, ainda assim haviam sofás e poltronas espalhadas
ao longo dos conveses. Estes poltronas foram estofadas com veludo com
dois tons de azul. Algumas evidências fotográficas e ilustrativas de
época apontam que também haveria um número impreciso de cadeiras de vime
espalhadas ao longo dos lances da escadaria, de padrão similar às
encontradas na recepção da 1ª classe, no convés D.
Esquerda - Reprodução de uma das cadeiras de vime fabricada para os
cenários do filme "Titanic" (1997). Centro - A escadaria no Olympic a
partir do convés de botes, a foto está voltada para a frente do navio,
para o lado de estibordo. Direita - Reprodução em miniatura de uma das
poltronas. (Frank Crescente artwork)
18. O relógio
Acima - Cena de "Titanic" (1997)
Localizado entre o primeiro e mais alto patamar de escadas, centralizado
entre o convés de botes e o convés A, havia um grande relógio ornamental
de carvalho esculpido ocupava quase a totalidade da altura entre o piso
médio até as bases da cúpula. A obra media 2,8 m de altura X 1,6 m de
largura. A composição foi nomeada “Honuor and Glory Crowning Time” [Honra
e Glória Coroando o Tempo] e fora executado pelo escultor Charles Wilson.
Acima - O relógio entre o convés de botes e o convés A estava voltado
para a popa (traseira do navio).
Este era um relógio conectado ao sistema regulador de horas do navio,
seu ajuste não era feito no local, mas na sala de mapas na ponte de
comando, onde estava localizado o relógio mestre que gerenciava todo o
grande conjunto de relógios escravos do Titanic. Na travessia oceânica de
longa distância se fazia necessário o atraso ou adiantamento do horário
- dependendo do sentido da viagem -, conforme as linhas de fuso horário
eram cruzadas no meio do oceano [ainda hoje o procedimento é o mesmo,
salvo a praticidade e maior assertividade dos sistemas atuais de ajuste
nas modernas embarcações]; o processo era executado para que passageiros
e tripulação se mantivessem dentro da rotina temporal, com horários do
navio correspondendo ao tempo local onde a embarcação se encontrava.
Este processo no Titanic era feito apenas no relógio mestre da sala de
mapas, mas afetava automaticamente todos os demais relógios conectados a
ele.
19. Chegada em Southampton com o relógio inacabado
Há
um relato de que o Titanic partiu de Belfast no dia 2 de abril, 8 dias
antes da viagem, e chegou na cidade de Southampton sem a inclusão de
algo no relógio relacionado ao seu mostrador.
Ao lado - A obra "Titanic Voices, Memories from the Fateful Voyage",
[Vozes do Titanic, Memórias da Viagem Fatídica], não publicado no Brasil.
A informação foi levantada no livro “Titanic Voices”, e gerou discussões
sobre a veracidade ou não da informação perante os estudiosos.
O livro cita: "Charles Wilson, que esculpiu a parte central do painel Honuor and Glory Crowning Time no Olympic, e um similar ou idêntico para o Titanic, lembrou que quando o Titanic finalmente zarpou de Belfast, não havia tempo de equipar o relógio no painel esculpido ornamentado na Escadaria da Primeira Classe, e um espelho o substituiu até que o relógio chegou."
.
Ainda hoje não há um consenso sobre qual seria a realidade, mas acredita-se que o relógio de fato tenha sido finalmente concluído nos sete dias em que o navio esteve atracado na cidade de Southampton, portanto o Titanic teria partido em 10 de abril com o relógio finalizado. Visto que não há relatos diretos onde os passageiros citam o relógio - cita-se apenas a escadaria como um todo - e não existem fotos conhecidas da escadaria do Titanic, não há uma evidência conclusiva que finalize a discussão, e as possibilidades seguem em aberto.
O livro cita: "Charles Wilson, que esculpiu a parte central do painel Honuor and Glory Crowning Time no Olympic, e um similar ou idêntico para o Titanic, lembrou que quando o Titanic finalmente zarpou de Belfast, não havia tempo de equipar o relógio no painel esculpido ornamentado na Escadaria da Primeira Classe, e um espelho o substituiu até que o relógio chegou."
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Ainda hoje não há um consenso sobre qual seria a realidade, mas acredita-se que o relógio de fato tenha sido finalmente concluído nos sete dias em que o navio esteve atracado na cidade de Southampton, portanto o Titanic teria partido em 10 de abril com o relógio finalizado. Visto que não há relatos diretos onde os passageiros citam o relógio - cita-se apenas a escadaria como um todo - e não existem fotos conhecidas da escadaria do Titanic, não há uma evidência conclusiva que finalize a discussão, e as possibilidades seguem em aberto.
20. Uma análise visual do relógio
A
escultura do painel do relógio era formada pelas figuras de duas
mulheres aladas (mulheres com asas, anjos) que personificavam as figuras
alegóricas “Honra e Glória”. As duas figuras foram representadas com
longas vestes de mangas largas, o que somado às asas, acentua o senso de
se tratavam de serem divinos. A figura da esquerda, a Honra, escreve em uma tabuleta e apoia o pé
esquerdo sobre um globo terrestre demarcado com paralelos e meridianos.
A figura da direita, a Glória, segura em sua mão direita um ramo de
palma sobre a cabeça da Honra. Ao lado de seus pés, recostada à coluna
do relógio, está uma coroa de louros.
No centro, sobre uma coluna ornamentada com arabescos e folhagens de
louro, ficava o relógio circular com mostrador de algarismos romanos. Na
parte inferior do painel do relógio haviam dois grifos que sustentavam
sobre a cabeça e sobre as asas toda a composição do painel esculpido.
*Grifos são seres mitológicos representados com a cabeça, asas e patas
dianteiras de uma águia e com corpo de um leão, visto que a águia é tida
como rainha das aves e o leão como rei dos animais terrestres. Na
mitologia os Grifos são seres muito fortes e sábios, guardiões de
tesouros inestimáveis.
Uma guirlanda de flores, folhas e frutos (do mesmo estilo criado pelo
escultor Grinling Gibbons), arrematava a parte inferior do relógio entre
os dois Grifos e seguia o mesmo esquema nas bordas laterais e no arco
superior do painel, gerando uma composição impressionante em detalhes.
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Duas colunas arrematavam o contorno do relógio, as quais eram
finalizadas com capitéis esculpidos com um pequeno anjo cercado por
folhas de acanto.
Um arco emoldurado finalizava o topo do relógio e era ladeado por
entalhes de flores, folhas e arabescos. No topo do relógio um suporte
espiralado com entalhes de folhas (denominado ANCONE) fazia o arremate
superior da composição, este por sua vez, estava recostado às bases da
moldura branca que circundava a cúpula de vidro.
Análise simbólica
Análise simbólica
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21. Qual era o significado geral do relógio?
*Interpretação pessoal
As figuras alegóricas da “Honra e da Glória Coroando o Tempo” eventualmente poderiam simbolizar os ideais corporativos da Companhia White Star Line, carregando de simbolismos, possivelmente não como mero atributo decorativo.
Numa análise superficial talvez a constatação seguinte o descreva:
"A conquista do transporte de passageiros através de luxo, estabilidade, conforto e segurança, onde o tempo (simbolizado pelo próprio mostrador do
relógio) era importante, mas não mais que a glória de uma travessia com as honras da tradição da tradicional companhia de navegação White Star Line".
Para
tanto, a figura representativa da Honra anotava em sua tabuleta as
conquistas e vitórias sobre os mares do mundo, cujo qual estava
representado como um globo terrestre sob seu total domínio, debaixo de
seus pés. A figura da Glória segurava em sua mão uma ramo de palma, simbolizando a vitória sobre a concorrência nas travessias
oceânicas. Enquanto que a coroa de louros, recostada aos pés da coluna
do tempo, celebrava a glória suprema, o esplendor e luxo na travessia do
Atlântico.
Ao lado: O relógio recriado para o cenário de "Titanic" (1997). Na
foto os músicos da banda 'I Salonisti', fundada em 1981, convidados por
James Cameron para interpretar os lendários músicos que pereceram com o
Titanic tocando até os momentos finais sob comando do líder Wallace
Hartley.
Os dois grifos na parte de baixo do relógio sustentavam o painel sobre a
cabeça e sobre as asas. Estas duas criaturas mitológicas poderiam
simbolizar a base sóbria e vigilante da companhia White Star Line, sua
raiz histórica tradicional, aliada a uma vigilância constante visando
tradição e segurança no transporte de passageiros.
Sintetizando: O relógio não era um mero painel decorativo nonsense, era
na em realidade a materialização artística das metas corporativas,
valores e qualidades alegadas pela White Star Line, um logotipo
artístico da empresa. Ainda assim parece evidente que ninguém olharia
para a obra identificando quaisquer significados organizacionais na
escultura, isto se escondia por detrás de sua arte representativa sugestiva.
22. A inspiração para a criação do relógio
Em 1882 foram demolidos os últimos vestígios do enorme Palácio das
Tulherias, em Paris, capital da França, bem próximo do conhecido Museu
do Louvre atual. A enorme obra fora a morada de vários reis, como
Henrique IV, Luís XIV, Luís XV e Luís XVIII, e tratava-se de um imenso
palácio com uma longa fachada de 266 m. de comprimento [curiosamente o
palácio media apenas 3 m menos que o Titanic!]
No imenso palácio havia uma luxuosa sala denominada "Grand Cabinet de
l'Empereur" [O Grande Gabinete do Imperador], cuja qual fora retratada
em 1865 na tela "L'achèvement du Louvre" [A conclusão do Louvre] de Jean
Baptiste Ange Tissier. A tela retrata o imperador Napoleão III junto de
uma pequena comitiva, os quais estão dentro do gabinete no ato da
aprovação das plantas propostas para a construção do Palais du Louvre
[atual Museu do Louvre, um dos mais importantes museus do mundo, que
abriga a obra Mona Lisa, de Leonardo da Vinci].
Abaixo a tela "A conclusão do Louvre" de Jean Baptiste Ange Tissier
Ao analisar com atenção, pode-se notar claramente que no canto superior
direito da tela, disposta sobre uma lareira, há uma grande escultura de
duas figuras seminuas voltadas uma para a outra, e entre as duas figuras
há um grande relógio circular sobre uma coluna dourada.Ainda que as
cabeças das figuras tenham sido omitidas da tela, parece claro que
aquela é uma escultura muito semelhante painel do relógio do Titanic. A
composição geral é muito similar ao relógio da escadaria, onde a grande
ressalva é de que o relógio que integrava o extinto palácio foi
esculpido em mármore branco e bronze, e as duas figuras alegóricas
estavam seminuas; enquanto que o relógio do Titanic era esculpido em
carvalho e as duas figuras estavam plenamente vestidas.
O relógio do palácio ... Ilustração do relógio do Palácio ... Relógio do
Olympic
O nome da alegoria no relógio no gabinete era “A História Escreve Sobre
os Ditos da Vitória”. A obra veio das mãos de Auguste-Marie Taunay, um
escultor francês nascido em 1768 que se mudou para o Brasil em 1816 e
faleceu em 1824, no estado do Rio de Janeiro. Portanto, se as evidências
se confirmam, o relógio da Grande Escadaria fora inspirado pelo trabalho
de um famoso escultor francês que migrou para o Brasil no fim do século XIX.
Frisa-se o fato de que não há nenhum registro preciso de que o relógio
da escadaria do Titanic tenha sido diretamente inspirado na obra
de Taunay, mas os aspectos visuais e a composição de ambas as obras são
tão similares que torna-se inevitável pensar que os arquitetos e
escultores da Harland and Wolff, de Belfast, Irlanda, tenham se baseado
na bela escultura de Taunay, visto que o palácio das Tulherias fora
construído muito tempo antes do Titanic.
Há registros de que os móveis, pinturas e esculturas do extinto palácio
das Tulherias estejam protegidas nos grandes arquivos de obras não
expostas do Museu do Louvre, portanto possivelmente o relógio esculpido
em mármore branco e bronze pode ainda existir. A dúvida sobre a
inspiração para a criação do relógio do Titanic segue, mas a
similaridade entre as duas obras é notável e inegável, e apenas um
atento estudo histórico poderia revelar a veracidade das suspeitas. Por
hora trata-se apenas de uma intrigante e curiosa coincidência artística.
23. As pinturas em tela e a tapeçaria de parede
Ao descer os degraus da escadaria, em cada meio patamar havia uma bela
tela posicionada numa moldura entalhada com folhas, flores e frutos do
mesmo estilo de trabalho encontrado nas bases das colunas e ao redor do
relógio. Segundo os catálogos de leilão do Olympic, estas telas seguiam
temas descritos como “paisagens italianas”, "retrato de um homem"
e "flores". Uma das telas em maior destaque estava posicionada no topo
do 1º lance de escadas do convés D. Esta poderia ser vista por aqueles
que estivessem descendo em direção à sala de jantar ou para aqueles que
ascendessem as escadas a partir da recepção do convés D, localizada aos
pés da escadaria.
Acima - Reconstituição gráfica do lance de escadas do convés D, onde a
escadaria abria-se para a recepção. À direita uma das telas emolduradas
do Olympic. A pintura branca e verde mais recente oculta os tons
originais da madeira de carvalho polido.
Havia também uma tapeçaria Aubusson na parede de frente para para o
último lance de escadas no convés D, com uma cena intitulada Chasse de
Guise, retratando homens numa floresta, cavaleiros, cachorros de caça e
um castelo ao fundo. No Titanic haviam apenas duas tapeçarias deste
gênero, a outra estava posicionada sobre a lareira da suíte C 55, uma
sala de estar no convés C, que no Titanic fora ocupada pelos
proprietários da rede de loja Macy's de New York, Isidor e Ida Strauss,
famosos por perecerem juntos no naufrágio. No caso da suíte, no entanto,
o tema era o de um casal apaixonado com trajes de época junto de uma árvore.
24. O candelabro no convés D
Acima - Cena de "Titanic" (1997)
Acima de uma coluna robusta de carvalho esculpido no patamar situado no
convés D foi instalado um grande candelabro de bronze com 21 lâmpadas em
velas falsas. O candelabro fora fornecido pela empresa Perry & Co., de
Londres. A peça se tratava de uma grande taça estilizada com 21 braços
de castiçais, medindo ao todo entre 1,2 e 1,3 m de altura. As imitações
de velas eram brancas, possivelmente em baquelite, o "avô" do plástico,
apoiadas dentro de pequenos castiças em forma de arabescos com
folhagens. Os braços eram unidos à peça principal através de uma
imitação de corda fundida também em bronze.
25. Os elevadores
Acima - Cena de "Titanic" (1997)
Atrás da escadaria se localizava um trio de elevadores que operavam
entre do convés A ao convés E. Não haviam elevadores no convés de botes
- onde estava instalado os motores do elevador - e no convés F - onde
estava localizado o último lance de escadas. Os motores de suspensão
foram instalados em uma cabine situada precisamente atrás da parede do
relógio esculpido. Cada elevador tinha capacidade para 10 pessoas e só
podia ser operado quando os portões internos estivessem fechados. Nas
paredes frontais aos elevadores foram instaladas anúncios com letras
fundidas em bronze identificando cada convés.
Com aparência idêntica em todos os conveses, eram revestidos com painéis
de carvalho e colunas frisadas dispostas nos dois lados de cada pórtico
de entrada. Sobre cada porta um frontão esculpido em carvalho arrematava
a composição. Os frontões têm origem na arquitetura greco-romana. Na
coluna frisada de cada uma das três entradas se dispunha um pequeno
painel de vidro iluminado enunciando os conveses: A DECK, B DECK, C
DECK, D DECK, e E DECK. Logo abaixo deste painel havia um pequeno botão
de chamada.
Decoradas com painéis no estilo EMPIRE, as cabines eram brancas, com
inserções de delicados apliques dourados. Curiosamente este era o mesmo
estilo decorativo utilizado na cabine C 57 da primeira classe,
localizada nos arredores da escadaria no convés C.
Um poltrona estava disposta em cada elevador recostada à parede de fundo.
Nos painéis laterais e de fundo foram equipados três espelhos que
ocupavam a meia altura das cabines. Cada elevador dispunha de dois pares
de portas corrediças, as portas interiores eram pantográficas e as
exteriores em ferro forjado, com um elaborado trabalho de design formado
por barras e desenhos espiralados.
Acima - Os gráficos acima reconstituem o design dos portões dos
elevadores, compostos por um portão interno de segurança e um portão
externo ornamental. À direita a ilustração o design das portas dos
elevadores no Olympic. No Titanic - descobriu-se recentemente - o design
dos portões ornamentais era ligeiramente diferente.
26. Uma curta aparição em filme da escadaria do RMS Olympic
O filme a seguir trata-se de uma publicidade gravada em película de
filme da década de 1920. As imagens exibem as acomodações interiores do
Olympic, o navio irmão do Titanic. As cenas iniciais mostram um casal de
passageiros tomando um dos elevadores com a ajuda de um jovem
ascensorista. Aos 0:29 segundos vê-se também três casais de passageiros
ao descer os degraus da Grande Escadaria em rumo à sala de jantar, numa
visão de câmera tomada no convés A, onde se situava o "querubim grande",
o qual fora explorado anteriormente nesta matéria. Os trajes das damas
(vestidos curtos) evidenciam por si só que estas são imagens feitas por
volta de 1920, quando a moda feminina passava por alterações evidentes,
deixando os longos vestidos formais para dar lugar à peças mais ousadas
e curtas.
27. Um voo musical pela Grande Escadaria
Para facilitar o entendimento de como eram os espaços e a decoração na
Grande Escadaria, fica um vídeo espetacular que "flutua" pelos
interiores das escadas de cima à baixo. A apresentação está entre as
mais espetaculares recriações em computação gráfica, pois incorpora
vários aspectos históricos deste ambiente, porém ainda assim, é repleta
de incorreções, o que não diminui a beleza e o entendimento dimensional.
A animação não percorre todos os conveses onde a escadaria estava
presente, deixando de lado o pequeno lance de escadas simplificadas que
havia no convés F.
28. A Grande Escadaria "ontem e hoje"
Na gigantesca onda midiática sobre o Titanic, não há qualquer melhor
referência sobre as condições atuais da Grande Escadaria do Titanic do
que as ricas imagens apresentadas no documentário "Ghosts of the Abyss"
(Fantasmas do Abismo) dirigido por James Cameron, lançado em 2003.
Neste documentário, que executa a exploração visual e histórica dos
escombros do Titanic, as imagens captadas por robôs câmera teleguiados
por controle remoto exibem as condições atuais dos interiores do navio.
De modo muito inovador, James Cameron utiliza-se de um tipo de "efeito
fantasma" que funde ações tomadas em estúdio às imagens verídicas do
Titanic naufragado, resultando numa espetacular apresentação de quais
são as condições atuais do local onde antes situava-se a escadaria.
Ainda hoje o sumiço da escadaria está entre os pontos físicos mais intrigantes do naufrágio, e não se sabe que fator causou o desaparecimento quase completo dos vestígios dos lances de degraus da escadaria. Especialistas e historiadores ao redor do mundo cogitam que os lances teriam sido brutalmente arrancados de suas bases durante o naufrágio devido à força da água, tendo sido destroçados, flutuando livres em meio aos destroços. Hoje o que resta do aspecto interior mais icônico do Titanic é tão somente um grande fosso aberto entre o convés de botes e o Convés D, circundado por dezenas de colunas de aço e intensa formação de detritos ferruginosos formados pela decomposição do aço estrutural do Titanic.
Sem a solução do mistério ainda hoje, a madeira da escadaria eventualmente poderia ter apenas se decomposto com o passar das décadas, seguindo a regra de quase toda a madeira nos interiores do navio, que se decompôs quase na totalidade ao passar dos anos. Pesquisas e gravações obtidas em 2001 para o documentário "Ghosts of the Abyss" demonstraram que nos interiores dos escombros do Titanic há ainda incontáveis casos onde a madeira segue relativamente bem preservada; em sua maioria são peças que receberam aplicação de tinta, que acidentalmente atuou como uma espécie de repelente químico dos microrganismos decompositores de madeira.
A escadaria era revestida em carvalho apenas polido e encerado, que aparentemente não afastou os microrganismos decompositores, que ainda hoje seguem devorando com voracidade o ínfimo de madeiramento que ainda resta de sua rica decoração interior. Considerando a quase completa descaracterização da escadaria , notavelmente dezenas de lustres de bronze e cristal ainda pendem do teto, sustentados pela própria fiação em meio às estalactites de aço decomposto.
.
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[Crédito fotográfico: Ghosts of the Abyss (2001), recriação gráfica por Clément d’Esparbès, animação por Rodrigo, Titanic em Foco]
Acima - Hoje a majestosa Grande Escadaria do Titanic se apresenta como
um grande buraco vazio, por onde as dezenas de equipes de
exploradores conseguem fazer imagens dos interiores do navio naufragado
através da utilização de robôs câmera, teleguiados remotamente pelos
submarinos que pousam sobre as bordas deste precipício, onde antes se
alocava a bela escadaria de carvalho inglês polido e grades
de ferro forjado e bronze.
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O próximo vídeo faz uma revisão visual da escadaria através da edição de
dezenas de imagens e vídeos de expedições aos escombros do Titanic e de
filmes e documentários produzidos ao longo dos anos. A apresentação é
longa, mas perfeita para se entender o que houve com as escadas desde
que o Titanic naufragou em 15 de abril de 1912. A música Marble Halls da
cantora Enya enriquece as imagens.
29. A Grande Escadaria traseira
Acima - A Grande Escadaria traseira no Olympic vista em uma foto
tirada no seu mais alto patamar, no convés A. O destaque na primeira
foto indica a cabine ocupada por Thomas Andrews na viagem inaugural do Titanic. Por
detrás das janelas arcadas, que aqui na realidade eram dois espelhos, estava a
cabine A 36. O
pequeno detalhe da planta ao lado situa a disposição da cabine ocupada por
Andrews ao lado da escadaria.
Ao lado - A Grande Escadaria traseira do Olympic (virtualmente idêntica à
escadaria correspondente do Titanic) seguia o mesmo estilo da escadaria
na proa, com o diferencial de ser um versão compacta e de não possuir o
grande relógio ornamental em seu patamar central, onde neste caso se
localizava um relógio de menor porte e simplificado em suas formas. A
fotografia ao lado foi tomada a partir do convés B. As duas portas ao fundo - uma aberta e outra fechada - comprovam que
esta não é uma fotografia feita no Titanic, visto que são as portas das
cabines A65 e A67; ambas as cabines foram construídas/adicionadas em uma
das muitas reformas do Olympic, realizada tempos após o naufrágio do
Titanic. Originalmente aos pés da escadaria na popa (tanto no Olympic
quanto no Titanic) situava-se a recepção do restaurante À La Carte (que
será explicada no tópico abaixo). Caso esta fotografia tivesse sido feita
no Titanic (ou no início da carreira do Olympic), ao invés das duas
portas de entrada das cabines A65 e A67, veríamos as mesas, poltronas e
sofás da recepção do restaurante À La Carte e uma parede apainelada branca.
*Apesar de originalmente este patamar da Grande Escadaria traseira estar
localizado no chamado "convés B", no Olympic este convés foi
posteriormente renomeado como "convés A", por isto as duas cabines
receberam a devida nomeação "A65 e A67".
Ao lado - A estrutura principal da Grande escadaria traseira, aqui vista desde a cúpula circular alojada no convés de botes, se extendendo até o convés B. Mais compacta que a escadaria dianteira, a cúpula aqui também era menor e com formato circular, distinta da mesma da escadaria dianteira, onde a cúpula era elíptica/oval.
..
A Grande Escadaria traseira era localizada entre a terceira e a quarta
chaminés e se estendida por três conveses, A, B e C. Ela era
caracterizada por balaustradas de madeira de carvalho inglês de mesmo
estilo da escadaria na proa e também contava com o mesmo modelo de
cúpula de ferro forjado acima das escadas.
Durante a expedição realizada pela empresa RMS Titanic INC em 1987, um
querubim de bronze, considerado ter pertencido ao convés C da escadaria
traseira, foi recuperado (na foto ao lado). Ao contrário dos dois
querubins grandes localizados na escadaria dianteira (no convés A) e na
escadaria traseira (no convés B), este é bem pequeno, com menos da
metade do tamanho de seus "primos mais famosos". As descobertas mais
recentes apontam, no entanto, que este tipo de querubim em
realidade pertencia ao conveses inferiores das duas escadarias, e não
foram instalados no centro do lance de degraus, mas nas colunas laterais
da escada, sempre em pares, onde dois delas seguravam juntos uma
tocha apenas. *Como na reconstrução gráfica abaixo.
.
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As diferenças maiores entre esta escada e a escadaria dianteira eram de
que em vez de haver um grande relógio esculpido no patamar central,
nesta havia um relógio de formato quadrado menor e mais simples. A
cúpula de ferro forjado acima desta escadaria tinha formato circular e
foi instalada no convés de botes, enquanto que na escadaria dianteira a
cúpula era um pouco maior, tinha formato oval e foi instalada um andar
acima. À ré da escadaria na proa havia um conjunto de três elevadores
para a 1ª classe, o mesmo não se aplicava à esta escadaria, aqui não
haviam elevadores. Enquanto que havia um piano vertical logo abaixo da
cúpula da escadaria na proa, aqui não havia piano em nenhum dos três
conveses por onde se estendia a escada.
Outro fator diferencial entre as duas escadarias eram suas áreas de
cobertura: A escadaria na proa se estendia por 7 conveses (convés de
Botes, A, B, C, D, E e finalizava-se num lance muito simples no convés
F, ao lado do banho turco e da piscina), enquanto que esta escadaria se
estendia apenas por 3 conveses: Convés A, convés B e finalizava-se no
convés C, onde ficavam a barbearia e a sala de jantar das criadas e
mordomos dos passageiros da 1ª classe.
Acima - Uma ilustração de panfleto publicitário da recepção do
restaurante À la Carte, instalada aos pés da escadaria traseira, no
convés B. A porta dupla ao fundo da imagem acessava diretamente o café
parisiense, enquanto que o acesso ao Restaurante ficava à direita das
portas duplas, através de um pequeno corredor. A sala de recepção era localizada fora do restaurante e aos pés da scadaria traseira no convés B. A decoração da recepção seguia o
estilo georgiano e as paredes foram revestidas de painéis brancos com
detalhes emoldurados. O piso era composto de mosaicos de linóleo
idênticos aos da Grande Escadaria dianteira, e coberto por grandes
tapetes elaborados. A sala era equipada com cadeiras e sofás de vime
estofados com seda.
30. Grandes Escadarias em outros navios
Escadarias à bordo de navios, sejam eles gigantescos transatlânticos de
luxo ou navios de menor luxo e de menor porte, integram parte das vias
cruciais no que diz respeito à facilitação de trânsito através dos
conveses, cabines, restaurantes e às áreas de lazer de um barco de
passageiros. Em resumo: A escadaria principal à bordo de um navio está
além de um mero atributo de luxo decorativo, pois são indispensáveis à
facilitação do tráfego de passageiros.
Ao longo das décadas, acompanhando a sempre crescente disputa comercial
do transporte de passageiros pelos mares do mundo, as escadarias
deixaram de ser apresentadas como tímidos degraus cercados por um
corrimão de madeira para se tornarem parte integrante das melhores e
mais decoradas áreas de um navio de passageiros, tornando-se um atributo
de grande destaque, um ponto de ostentação onde os passageiros poderiam
se reunir para ir de encontro aos luxuosos jantares e às várias outras
áreas de lazer instaladas à bordo.
Os anos de ouro da era da navegação transatlântica ficaram para trás com
o surgimento da era da aviação, os grandes e clássicos transatlânticos
de luxo evaporaram-se quase por completo dos mares do mundo, mas as
escadarias marcaram história e evoluíram em suas dimensões e no estilo
decorativo, assim como também evoluíram as formas dos navios e o
clássico e saudoso transporte de passageiros cedeu lugar para os
frívolos e descompromissados cruzeiros marítimos que hoje cruzam os
mares de nossa época.
Acompanhe pelas imagens abaixo a evolução deste ponto de encontro
através dos anos, as mudanças e as diversas apresentações das "Grandes
Escadarias" em alguns dos mais conhecidos navios que cruzaram, ou que
ainda cruzam, os mares do mundo.
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Dedicatória
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Dedico esta matéria às pessoas que trazem quente e fervente nas veias o
sangue artístico, aqueles que entendem o que a arte representa e os
reais valores da arte na vida de nós todos, os seres humanos.
"A arte e a emoção são duas das manifestações que nos diferenciam dos
demais seres caminhantes."
Em memória
Em memória aos trabalhadores e artistas que construíram o Titanic. Em
memória às mais de 2.200 pessoas que nele embarcaram em 10 de abril de
1912 e às mais de 1.500 que pereceram no naufrágio.
Crédito
Texto integral por Rodrigo Piller, Titanic em Foco
Com informações de:
adorabella.com.au / encyclopedia-titanica.org - Bruce Beveridge /
Olympic, Titanic, Britannic: An Illustrated History of the Olympic Class Ships / mni.com / loc.gov - Bain Collection / titanicbranson.com /
wikipedia.org / Titanic (1997) - 20th Century Fox / Titanic 4 Disc
Deluxe Collector's Edition 1997 / Titanic, An Ilustrated History
(livro) / Titanic in Photographs (livro) / Titanic: Honor and Glory
/ titanicclock.com / premierexhibitions.com / aftitanic.free.fr /
Ghosts of the Abyss (2003), Walt Disney Pictures e Walden Media /
titanichg.com / http://titanic.superforum.fr / deviantart.com/alotef
- Mike Brady / seacitymuseum.co.uk / Titanic the Ship Magnificent
(livro) / titanicchannel.tv / fatherbrowne.com /
titanicbelfast.com / James Cameron's Titanic Explorer / James
Cameron's Titanic [Ed W. Marsh, Douglas Kirkland, James Cameron]
(livro) / titanic-model.com - Frank Crescente artwork - Morten Jensen
artwork / kenmarschall.com / hoxtonredsox.com / magnificenttitanic.tumblr.com / db.com/mods/mafia-titanic-mod /
maritimemuseum.novascotia.ca / Clement d'Esparbes artwork (defunct
site) / yourprops.com / Titanic Voices: Memories from the Fateful
Voyage (livro) / Last Mysteries of the Titanic (2005) / R.M.S.
Olympic - White Star Line Promotional Tour 1920's footage / maryevans.com / entertainment.ha.com / Rebekah Maxner, Clavier Companion, Jan/Feb, 2012