
Seja bem vindo ao Titanic em Foco
Qual é uma das principais cenas que você se lembra quando pensa no filme
Titanic? [Além da cena icônica dos personagens Jack e Rose "voando" e se beijando na proa do navio].
Isso mesmo, aquela: A cena vaporosa na parte de trás do carro vermelho, no porão do navio, o momento íntimo entre os personagens principais que se passa no banco traseiro de um carro da época.
Antes das gravações do filme "Titanic", o departamento de pesquisa do Estúdio 20th Century Fox, a pedido do diretor canadense James Cameron, conseguiu determinar com os antigos registros
de seguro, que de fato um Renault havia sido carregado como carga na viagem trágica do Titanic: Um belo Renault Coupé de Ville, pertencente a um dos passageiros ricos da 1ª classe.
O famoso carro realmente existiu, estava de fato a bordo do Titanic em sua primeira e não terminada travessia oceânica, e possui também uma curiosa trajetória...
O famoso carro realmente existiu, estava de fato a bordo do Titanic em sua primeira e não terminada travessia oceânica, e possui também uma curiosa trajetória...
Saiba mais desta história

Ao lado
- William Ernest Carter, sua esposa e os dois filhos, passageiros da 1ª
classe no Titanic, estavam voltando para casa, na Philadelphia, no
estado da Pennsylvania nos EUA, levando um carro Renault novinho em folha.
Na
manhã de 10 de abril de 1912 na cidade de Southampton, Inglaterra,
William Carter (36), embarcou como passageiro de 1ª classe no Titanic
junto de sua esposa Lucile (36) e os filhos Lucile Polk e William
Thornton (13 e 11 anos, respectivamente) e uma empregada, Auguste
Serreplan. A família ocupou as cabines da primeira classe Nºs B96 e B98,
enviando para a 2ª classe um empregado, Alexander Cairns, e um
motorista, Charles Aldworth.
No porão frontal do Titanic Carter levava aos Estados Unidos um Renault Coupé de Ville de 25 cavalos ano 1911 [também conhecido como Renault Town Car],
considerado um dos carros mais velozes do mundo em 1912. Apenas quatro
dias depois do embarque o destino do navio estava selado após o choque
com o iceberg às 23:40 de 14 de abril de 1912.

Carter conseguiu colocar sua família em segurança no bote salva-vidas Nº 4, se direcionado então para o bote de emergência "C", onde veio a ser salvo [o mesmo bote onde também estava Joseph Bruce Ismay, proprietário do Titanic]. Todos os membros da família salvaram-se e também a empregada, mas os outros dois empregados hospedados na 2ª classe pereceram na naufrágio.

Carter conseguiu colocar sua família em segurança no bote salva-vidas Nº 4, se direcionado então para o bote de emergência "C", onde veio a ser salvo [o mesmo bote onde também estava Joseph Bruce Ismay, proprietário do Titanic]. Todos os membros da família salvaram-se e também a empregada, mas os outros dois empregados hospedados na 2ª classe pereceram na naufrágio.
Ao lado
- Nesta ilustração de Ken Marschall, as setas indicam os dois botes
salva-vidas onde a família Carter se salvou, localizados em ambos os
lados da 1ª chaminé. Acima o bote Nº 4, abaixo o bote de emergência C.
Na
sequência Carter apresentou um pedido de indenização de 5.000 dólares
pelo veículo perdido [mais de 100 mil dólares em valor atual, e suficiente, na época, para comprar 10 carros Ford novos]. Também
fez um pedido de indenização de 100 e 200 dólares pela perca de dois
cães da família que também foram tragados pelo navio; um da raça King Charles Spaniel e outro de raça desconhecida.
Abaixo - Belfast, Irlanda do Norte, segunda-feira, 01 de abril de 1912: o Titanic acabara de ser concluído após exatos três anos de obras, e este é o dia de testes no mar, mas devido ao fortes ventos - notável pela forte dispersão da fumaça - os testes são transferidos para o dia seguinte. O destaque vermelho marca a exata localização das cabines B96 e B98, onde a família Carter se hospedaria daqui a 9 dias. As duas cabines da família estavam ao lado da Grande Escadaria traseira, junto da Recepção do Restaurante a La Carte.

Ao lado: Um carro plenamente montado é içado a bordo do Olympic, navio irmão do Titanic, na década de 1930. Procedimento que teria sido diferente para o Titanic em abril 1912.
Não há imagens do carro de Carter, mas o histórico manifesto de carga do Titanic registra o automóvel apenas como "1 CS AUTO" (1 caixa de automóvel). O que confirma as alegações que Carter fez mais tarde, de que o carro estava em uma caixa; no entanto ainda hoje não se sabe se o veículo estava montado ou desmontado. Atualmente este é o único automóvel que se sabe com plena certeza que estava no Titanic quando este naufragou.
Ao lado: Neste curto flagrante em filme datado de maio de 1922, o procedimento de carga a bordo do Olympic no porto de New York. Considerando as informações disponíveis acerca do Renault a bordo do Titanic, dez anos antes desse registro, em 6 de abril de 1912, uma visão similar acontecia do outro lado do Atlântico, em Southampton, quando as os porões do maior navio do mundo eram preenchidos para a viagem inaugural com montanhas de bagagens, entre as quais estava o possante francês de cor vermelho encarnado, automóvel luxuoso novo em folha da família Carter.
Abaixo: Uma limusine é içada para bordo do RMS Queen Mary em 27 de maio de 1936, horas antes de sua viagem inaugural partindo de Southampton para New York. A fila junto às docas é formada de passageiros da 3ª classe em direção à plataforma de embarque. Vinte e quatro anos antes era aqui também que esteve atracado o Titanic nos dias anteriores a sua travessia de estreia. Segundo apontam os estudiosos, o procedimento adotado para o embarque do famoso Renault no Titanic teria sido diferente, obedecendo os costumes em voga na época.

Abaixo - Neste detalhe de um panfleto publicitário do Olympic e do Titanic, o destaque indica a localização exata do compartimento reservado aos carros em ambos os navios irmãos. É precisamente aqui, no porão Nº 2, onde estaria armazenado o carro de Carter.



Acima - Munido de muita licença dramática, James Cameron em seu filme de 1997 exibe o embarque do Renault na manhã do dia 10 de abril, plenamente montado e suportado apenas por um tablado aberto. A exemplo do gigantesco cenário do navio construído para o filme, o carro também era apenas uma cópia cenográfica, não se tratava de um carro real funcional.
Oitenta e cinco anos depois do naufrágio, onde morreram mais de 1.500 pessoas, o caso do carro de William Carter surgiu na mídia com o lançamento da super produção "Titanic" em 1997, o sucesso de James Cameron premiado com 11 Oscar's. O Renault aparece nas cenas de embarque, no início do filme, e é cenário de um dos momentos mais íntimos do casal ficcional Jack e Rose (Leonardo DiCaprio e Kate Winslet), que faz amor no banco de trás do automóvel alojado no porão do Titanic.

Abaixo: Os personagens ficcionais Jack Dawson e Rose DeWitt Bukater [Leonardo DiCaprio e Kate Winslet] têm seus momentos mais quentes durante o filme a bordo do Renault vermelho. Ainda que bem idealizada, a cena tem considerável licença poética, considerando que os passageiros não eram permitidos nos porões de carga. Em sua rota de fuga os personagens atravessam a sala de caldeiras e entram diretamente no porão de carga onde encontram o Renault... MAS... os projetos oficiais do Titanic exibem que não existiam portas de comunicação entre a sala de caldeiras Nº 6 e o porão de carga dianteiro Nº 2. A realidade é que o porão e a sala de caldeiras estavam a mais de 20 metros distantes entre si e em dois patamares diferentes do navio, o que - na vida real - tornaria impossível a rota tomada pelo casal do cinema.

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A famosa cena de amor foi filmada neste carro cenográfico, que foi construído apenas e especialmente para o filme. A réplica foi construída em cima de um chassis de um antigo carro. O corpo foi feito em chapas de metal e ele não possuía motor ou qualquer aparato realmente funcional. As rodas dianteiras sequer se moviam, para movimentar o carro nos estúdios era necessário colocar um suporte sob a parte frontal e transportá-lo manualmente.
A famosa cena de amor foi filmada neste carro cenográfico, que foi construído apenas e especialmente para o filme. A réplica foi construída em cima de um chassis de um antigo carro. O corpo foi feito em chapas de metal e ele não possuía motor ou qualquer aparato realmente funcional. As rodas dianteiras sequer se moviam, para movimentar o carro nos estúdios era necessário colocar um suporte sob a parte frontal e transportá-lo manualmente.
Abaixo: Com uma pequena "mãozinha do Photoshop", removendo digitalmente os equipamentos de filmagem nesta foto dos bastidores de "Titanic" (1997), a impressão resultante é de que o registro é autêntico, captado de fato em Southampton, em 10 de abril de 1912... Considerando também, é claro, pelo fato de que hoje sabemos a data e estado original em que o Renault William Ernet Carter foi descido ao porão de carga do Titanic. A ideia irreal, no entanto, abre as portas para a imaginação artística livre, como magistralmente explorada por James Cameron.

O interior foi forrado de veludo azul colado sobre um revestimento de formas simples, composto de madeira compensada. Kate Winslet, em entrevista, disse que ela e Leonardo DiCaprio foram cobertos de vaselina antes da cena para que parecessem suados. Quando James Cameron gritou "Corta!", ambos estavam cobertos de poeira de veludo azul, preso ao seu brilho pegajoso. O carro cenográfico em si foi feito para se parecer o melhor possível com o verdadeiro veículo enviado a bordo do Titanic. A réplica demorou 60 dias para ser construída desde o zero pela empresa "Adams Custom Engines" da cidade de Reno, no estado de Nevada, EUA.
Ao lado - Cena dos bastidores dos momentos de embarque do Renault, antes da famosa "inversão espelhada" da pós produção, que corrigiu a posição do navio para as telonas. A partir de 0:07 seg.
Munido de uma gigantesca dose de licença poética, James Cameron optou por mostrar o carro ao ser embarcado nas cenas de abertura, no dia 10 de abril de 1912, poucas horas da partida do Titanic em sua viagem inaugural. No entanto historicamente se sabe que o famoso Renault de William Carter foi embarcado quatro dias antes, em 06 de abril de 1912, junto com uma quantidade gigantesca de outros produtos simples como: bolas de tênis, bolas de golfe, instrumentos cirúrgicos, chapéus de palha, livros, roupas, canetas, luvas, lâmpadas... e uma infinidade de encomendas comuns enviadas aos Estados Unidos.

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Outro ponto de contínuo debate entre os especialistas se refere ao fato de que na década de 1910 os carros enviados em viagens longas através de navios eram, na maioria dos casos, fechados em caixas de madeira e parcial ou totalmente desmontados. Os veículos novos adquiridos na Europa só eram montados quando de sua chegada ao destino final; ou, em caso de já estarem montados antes do embarque, eram alocados sobre plataformas de madeira sem as quatro rodas, retiradas como medida de proteção às raias de madeira.
Outro ponto de contínuo debate entre os especialistas se refere ao fato de que na década de 1910 os carros enviados em viagens longas através de navios eram, na maioria dos casos, fechados em caixas de madeira e parcial ou totalmente desmontados. Os veículos novos adquiridos na Europa só eram montados quando de sua chegada ao destino final; ou, em caso de já estarem montados antes do embarque, eram alocados sobre plataformas de madeira sem as quatro rodas, retiradas como medida de proteção às raias de madeira.
Ao lado - Durante o processo de produção de "Titanic", esta era a arte gráfica prévia do visual desejado para a réplica do Renault onde o casal Jack e Rose teriam seus momentos íntimos.
Em 1995, ao explorar os destroços do verdadeiro navio antes de começar as filmagens de "Titanic", James Cameron tentou penetrar no porão de carga para obter imagens do famoso Renault de William Carter, mas não teve sucesso, e não encontrou qualquer coisa reconhecível. O plano original para o filme era fazer uma seqüência de flashback logo após a cena de amor
entre os protagonistas, onde o carro cenográfico se diluiria na imagem
para dar lugar ao verdadeiro carro corroído nos escombros, um recurso bem utilizado no decorrer do filme. Devido ao
fato de não ter obtido sucesso em sua procura, Cameron mudou sua idéia
com relação a cena, filmando-a da maneira que a conhecemos hoje.
Após
as gravações entre 1996 e 1997, o carro cenográfico foi então utilizado
em várias exposições itinerantes de artefatos do filme, sendo por fim
armazenado em uma exposição fixa nos Estúdios Fox Baja, na cidade de
Baja California, no México, o mesmo local onde ocorreram as filmages.
Os anos de exposição desprotegida tiveram seu preço, e o famoso carro da cena de amor hoje se encontra em estado decadente, assim como a
maioria dos poucos objetos cenográficos arquivados desta super produção. A última aparição
do Renault cenográfico deu-se em 2012 como objeto do cenário de fundo
no documentário "Titanic: The Final Word with James Cameron", pelo Nacional Geographic Channel, exibido em abril de 2012 por ocasião dos 100 anos do naufrágio.


"Em algum lugar aqui nós sabíamos que estava o Renault do passageiro da primeira classe William Carter. Montes altos de formas não reconhecíveis foram vistos pelas nossas câmeras. Haviam pacotes e caixas, todos cobertos com vários centímetros de lodo, como de costume. Queríamos saber se debaixo de uma pilha particularmente grande de formas irregulares poderia estar o carro, mas não havia maneira de dizer. A forma curvada de um objeto para alguns observadores parecia-se como um pára choque dianteiro. O veículo telecomandado mostrou em close uma grande caixa de vime, caixas de madeira em decomposição - o conteúdo às vezes é visível, mas não o suficiente para ser reconhecido -, e uma pilha de livros ou outros papéis empacotados. É tudo muito interessante, mas não há descobertas impressionantes ou surpresas para relatar".
Deste modo então o verdadeiro Renault de William Carter ainda permanece sem ser descoberto nos destroços do Titanic.
Deste modo então o verdadeiro Renault de William Carter ainda permanece sem ser descoberto nos destroços do Titanic.
Abaixo, esquerda - Nesta ilustração de Ken Marschall o corte lateral no casco do Titanic exibe o Renault alojado no porão Nº 2. À direita uma maquete construída para um museu temático sobre o Titanic, nos EUA, que exibe a mesma disposição. Muito mais interessantes de se ver, estes são trabalhos que popularizam a ideia de que o carro estava sendo transportado montado e desprotegido, apenas atado ao piso do navio. A realidade é, no entanto, que as evidências históricas disponíveis apontam que na melhor das hipóteses o veículo estava semi ou totalmente desmontado e selado no interior de uma caixa ou outra estrutura protetora similar.

Abaixo e ao lado - Tomando como inspiração as cenas de embarque no filme "Titanic", o editor deste blog replicou o mesmo conceito explorado por James Cameron em seu filme, optando por mostrar o belo carro vermelho ao ser içado sobre os porões de carga completamente montado sobre um tablado.
Visão historicamente inadequada, mas que surge como uma forma criativa de contar sobre a história curiosa do verdadeiro Renault de Carter.
O pequenino modelo aqui foi feito com um mix de materiais simples como gesso, porcelana fria, fio de crochê, talagarça, acetato e cartolina. Os pequenos faróis foram recriados com pedras de strass vindas de bijuteria.


Um gêmeo real do Renault de William Carter
Este é um gêmeo real do Renault de William Carter. Este carro foi restaurado com o mesmo padrão do utilizado no filme épico de James Cameron. O veículo é vencedor de inúmeros prêmios e concursos, e tem uma história interessante. Foi descoberto por Arthur Doering em um armazém de Detroit (EUA), em 1980, que pertencia ao colecionador de veículos Barney Pollard, cuja extensa coleção de carros era lendária.

O colecionador Pollard, a fim de economizar espaço, pendurou este e muitos de seus carros na vertical, como salsichas, e ele permaneceu por muito tempo preso ao teto pela parte frontal, de cabeça para baixo. Ao tomar posse do carro, Doering iniciou uma restauração completa que consumiu três anos e meio, finalizando-o com o mesmo visual do Renault vermelho do filme Titanic. Em 2003 a Casa de Leilões RM leiloou este carro por 269.500,00 dólares (mais de 528 mil reais).
Se você é um amante de carros históricos, segue então um vídeo de um outro Renault, neste caso um modelo fabricado em 1914 denominado "Renault ED", em pleno funcionamento. Apesar de não seguir a mesma configuração do histórico Renault embarcado na viagem fatal do Titanic, a cor é a mesma e o visual geral bastante similar.
Vídeo propriedade de Ian Murray
Pesquisa, tradução, adaptação de texto e imagens - Rodrigo, Titanic em Foco
Com informações de:
martycrisp.com / foxnews.com / imcdb.org / Ghosts of the Abyss (2003) / mauctions.com / encyclopedia titanica.org / marconigraph.com / "Titanic de James Cameron" (livro) / "O Crepúsculo da Arrogância", Sergio Faraco (livro) / Titanic 4 Disc Deluxe Collector's Edition 1997 / howardmodels.com / Inside the Titanic: A Giant Cutaway Book by Hugh Brewster / kenmarschall.com / nmni.com