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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

The 'Addergoole fourteen': A vila que naufragou com o Titanic

Acima: Quinta feira, 11 de abril de 1912, 11:30, o Titanic ancora em Queenstown a cerca de 2 milhas (3,7 Km) da costa. Passageiros da 3ª classe e da 2ª classe embarcam e também 1.385 sacos de correspondências. Sete passageiros desembarcam. Às 13:30 e âncora de estibordo é levantada pela última vez e o Titanic parte em sua primeira travessia transatlântica para New York. Um grande grupo de passageiros da 3ª classe é clicado na popa do transatlântico em uma última vista da costa europeia. Para muitos deles a viagem em direção ao Novo Mundo poderia vir a ter caráter definitivo com o estabelecimento no novo lar do outro lado do Atlântico, no entanto o destino se interpôs aos planos e a definição ficaria por conta de um desastre ocorrido apenas quatro dias após este clique histórico.
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Seja bem vindo ao Titanic em Foco

A matéria a seguir é uma grata contribuição feita ao Titanic em Foco pelo leitor Wagner Teodoro, que gentilmente se dispôs à pesquisa e edição do texto. O texto reconta um dos capítulos humanos da história daquela viagem de abril de 1912, quando o Titanic carregado da vida e sonhos de 2.200 pessoas levava também 14 moradores da pequena vila irlandesa de Lahardane que iam de encontro a uma vida melhor na América.
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 Acompanhe 
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The 'Addergoole fourteen': A vila que naufragou com o Titanic

Irlanda, 1912. No país em cuja capital, Belfast, o “Navio dos Sonhos” nascia, havia uma vila chamada Lahardane no Condado de Mayo, onde a vida das 200 pessoas não era nada fácil. No início do século XX, a situação dos irlandeses era extremamente complicada, vivendo sob pobreza extrema, e um inverno doloroso que não lhes permitia plantar muita coisa, a emigração para a tão bem falada América era um desejo almejado pela maioria. Para se ter uma ideia entre 1850 e 1920 algo em torno de 3 milhões de pessoas saíram da Irlanda para a América (metade da população), e estimasse que em 1910 haviam mais pessoas de origem irlandesa em Nova York do que em Dublin. E toda essa emigração em massa era devido as condições precárias em que viviam no país, pois a expectativa de vida da população não passava dos 50 anos.
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http://photos.geni.com/p13/98/0f/3c/f7/53444839a8c3c013/catherine_mcgowan_terryduff_large.jpgCatherine McGowan

Em Lahardane, assim como em todo o lado oeste do país, a situação era muito critica. Famílias com 10 ou 12 membros viviam em casas com três quartos, quase não tinham o que comer, mas o que aumentava as chances de sobrevivência dos moradores da vila era a vida em comunidade, as pessoas ajudavam umas as outras e suas sobrevivências dependiam disso. Um perfeito exemplo de emigrante era Catherine McGowan, que tinha saído da Irlanda para os Estados Unidos e morava em Chicago. Ela tinha saído daquela situação de pobreza na Irlanda e tinha conseguido uma vida melhor nos Estados Unidos. Anos mais tarde ela retornou a Irlanda para uma visita a sua terra natal, mas também levar consigo para a América sua sobrinha, Annie McGowan, que tinha terminado o colégio.
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Ao chegar na vila Catherine estava muito diferente de quando partiu dali. Suas roupas, seu modo de falar e o dinheiro que havia ganhado em Chicago, era a definição do “American Dream” que as pessoas tinham. Ao conversar com as pessoas da vila, Catherine persuadiu algumas a largarem o pouco que tinham na Irlanda e ir embora para os Estados Unidos, pois lá tinha mais oportunidades de emprego e em geral uma qualidade de vida melhor.

Então em 1912 doze pessoas da vila foram convencidas por Catherine a viajar com ela e sua sobrinha para a América, uma decisão que seria fatal pois todas as quatorze pessoas iriam em abril a bordo do R.M.S. Titanic. A história aqui contada será sobre as quatorze pessoas de Lahardane que ficaram conhecidas como “The Alddergoole fourteen”, e que viajaram para de fato nunca mais retornar.

Os preparativos para a viagem

Catherine McGowan, Annie McGowan, John Bourke, Catherine Bourke, Mary Bourke, Nora Fleming, Mary Mangan, James Flynn, Bridget Donohue, Delia Mahon, Patrick Canavan, Mary Canavan, Annie Kate Kelly e Delia McDermott. 

Na semana da viagem haviam quatorze velórios a serem honrados na vila. Isso porque um emigrante que ia para a América dificilmente veria sua família de novo. Na Irlanda haviam muitos costumes e tradições, um deles era o “American Wake”, onde os familiares e os amigos dos emigrantes faziam uma despedida simbólica. Estas despedidas eram muito emocionais para os familiares e também para o emigrante, porém o prospecto de uma vida melhor era muito animador.
https://images.findagrave.com/photos250/photos/2012/23/17860060_132743804782.jpgMary Mangan

Na Irlanda a religiosidade e as superstições eram muito fortes e muitas pessoas acreditavam que era de azar viajar em uma viagem inaugural. Houveram muitas advertências psíquicas das famílias. Inclusive há histórias de que antes da viagem, um estranho abordou Delia McDermott e disse a ela que haveria uma tragédia e muitos morreriam, porém ela seria salva e uma noite antes de partir, o irmão de Delia Mahon disse a ela que teria um terrível desastre na sua jornada e que ela morreria. Porém estes avisos não foram fortes o suficiente para manter as pessoas em Alddergoole e elas se prepararam para partir.

Um dia antes da viagem a ansiedade em partir tomou conta dos quatorze. Mary Mangan ficou com seus pais durante o dia e contou a eles sobre sua expectativa de uma nova vida. Catherine e John Bourke estavam esperando seu primeiro filho que nasceria na América, eles também estavam cheios de esperança pela nova vida que os aguardava. A mãe de Delia McDermott e ela foram comprar seu primeiro chapéu, pois acreditavam que para ser uma dama na América, se precisava de um chapéu. Bridget Donohue trabalhava em um loja local e a filha do dono de três anos de idade lhe pediu um anel de presente, Bridget então mediu o tamanho do dedo da menina com um barbante para levar consigo na viagem. James Flynn passou a tarde com sua irmã que estava muito chateada com a partida dele, pois ele era a única família que ela tinha. Ele então prometeu a ela que mandaria passagens assim que conseguisse chegar em Nova York.

Annie Kate Kelly escreveu uma carta para seu primo antes de viajar: 
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Querido primo, eu estou indo para a América no navio mais legal do mundo. Eu estou indo com algumas das pessoas mais legais do mundo também. Isto não é esplendido? Eles moram em Chicago, e eu devo ser capaz de fazer a viagem toda com eles. Eles tem me falado sobre Chicago e eu sei que eu vou gostar muito mais do que eu gosto da Irlanda.– Annie Kelly

O caminho até o local de embarque 
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Na manhã de 10 de abril de 1912, no dia em que o Titanic deixava Southampton, os quatorze de Addergoole iniciavam suas jornadas de 14 horas de trem até a cidade de Queenstown, condado de Cork, onde embarcariam no Titanic com mais 111 pessoas.
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Abaixo: Os quatorze aguardando para embarcar nas lanchas e irem até o Titanic ancorado ao largo da cidade.

Os quatorze a bordo do Titanic

As acomodações da terceira classe para eles eram inacreditáveis. Era a primeira vez que eles viam energia elétrica, era a primeira vez que eles tiveram o luxo de ter uma cama de cada, a primeira vez que eles tinham água potável e banheiro as suas disposições. Os três dias que os quatorze passaram a bordo do Titanic foram os melhores de suas vidas e reforçaram as expectativas da vida na América. As refeições que se tinham a bordo do navio eram muito melhores do que qualquer um deles já haviam tido na vida

Ao lado: Uma cabine de 3ª classe a bordo do RMS Olympic, o navio irmão do Titanic.
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A noite do naufrágio.

Os quatorze estavam em diferentes partes do navio quando ele bateu no iceberg. Annie Kate Kelly estava na cama e alguém disse a ela que o Titanic estava afundando. Ela achou que estavam brincando com ela quando mais alguém disse: “sim, você tem que sair”. Alguns outros estavam em uma festa e nem perceberam o tremor. Nenhum deles imaginava que o navio estava em perigo. Era o aniversário de https://www.encyclopedia-titanica.org/images/FlemingNora.jpgNora Fleming e ela estava comemorando e cantando no momento do impacto. Os mordomos disseram que era para eles permanecerem calmos, mas a ansiedade e o stress iam tomando conta deles. O grupo de Addergoole mostrou-se muito organizado quando os homens ajudaram as mulheres a chegar no deck de botes e quando chegaram lá restavam apenas três. Com o pânico instalado o grupo se perdeu uns dos outros.

Nora Fleming

Catherine e Mary Bourke conseguiram lugares em um bote, mas como John Burke se recusou a entrar, as duas saíram do bote para ficar com ele. Annie Kate Kelly foi colocada naquele bote nos seus lugares.
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Eu não deveria ter sido salva senão pela senhora Burke ter recusado deixar seu marido. Eu olhei para cima e vi meu primo segurando um rosário que ele usou para me abençoar (dito por Annie Kate Kelly).

No outro lado do navio, Delia McDermott conseguiu um lugar no bote mas se lembrou que tinha deixado seu chapéu para traz e voltou para o Titanic para buscá-lo. Quando ela veio até o deck todos os botes tinham saído, então ela pulou de uma altura de quatro metros e meio para o último bote que estava sendo baixado. Annie McGown entrou em um bote também mas estava com muito medo do que estava acontecendo, principalmente por não saber onde estava sua tia. Ela tinha esperanças de encontra-la no próximo bote, porém ela nunca mais a viu novamente.

© Ken Marschall
Dos quatorze de Addergoole, apenas estas três mulheres sobreviveram. Elas foram encaminhadas para o Saint’s Vincent Hospital em Nova York onde ficaram por duas semanas. Neste período elas tiveram de assinar papéis que diziam que elas se resolveriam com a White Star Line por 25 dólares.
Mary Mangan não sobreviveu a tragédia, porém seu corpo foi o único a ser identificado entre os onze. Foi o 61º corpo a ser retirado da água em 22 de abril de 1912. O que ajudou na identificação foi um relógio de bolso que tinha seu nome gravado.
As noticias demoraram a chegar até Lahardane, porém algumas informações chegavam incorretas e enchiam alguns de falsas esperanças. A dor tomou conta do vilarejo, parentes e vizinhos tinham perdido seus entes queridos e não havia ao menos o corpo para fazer o funeral. O jornal britânico “Telegraph”, afirmou em reportagem que pessoas viveram e morreram com aquela dor. O sobrinho de Nora, na época da reportagem com 71 anos, disse que a mãe de Nora ficou devastada até o dia de sua morte.


A vida dos que sobreviveram
Annie McGowan                                  Delia McDermott                               Annie Kate Kelly
Annie McGowan levou muito tempo para se recuperar do choque, porém ela entrou para uma escola de secretariado, conseguiu um emprego e mais tarde se casou. Annie teve três filhos e morreu em 30 de janeiro de 1990 aos 95 anos de idade. Delia McDermott viveu em Jersey City e se casou com um homem chamado John Lynch, ela trabalhou na Central Jersey Roilroad sua vida inteira e teve três filhos. Delia morreu em 3 de novembro de 1959 aos 78 anos. Annie Kate Kelly trabalhou por nove anos como modista em Chicago. Porém o acidente tinha mudado a vida dela. Depois de muita reflexão do porquê de ter se salvado naquela noite Annie se tornou uma freira e deu aulas pelo resto de sua vida. Annie morreu aos 77 anos em 18 de dezembro de 1969.


Lahardane hoje e memoriais

Proporcionalmente Lahardane foi o lugar que mais perdeu vidas no naufrágio do Titanic. O estrago emocional gerado foi tão grande que por quase cem anos as pessoas de lá evitaram tocar neste assunto. Em decorrência disso a história quase foi perdida ao longo das gerações que iam se passando. Porém na última década os moradores de Alddergoole voltaram a falar sobre isso e se agrupar para reunir evidências e documentos ao redor do mundo. Não apenas isso, o vilarejo de Lahardane ganhou alguns memoriais e decorações ao redor da cidade que fazem referência ao Titanic e aos 14 passageiros de Aldderggole. Foi aberto um parque memorial com uma escultura ilustrando a ida dos quatorze passageiros à Cobh e outra como menção a proa do navio. Uma placa com os quatorze nomes também foi colocada no local. Algumas homenagens são prestadas nos aniversários do naufrágio. Todos os dias 15 de abril, às 2:00 da manhã, os moradores da vila fazem uma caminhada até a igreja de São Patrício e tocam o sino 14 vezes.
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A igreja de São Patrício (St. Patrick’sChurch), igreja da vila, teve alguns vitrais colocados em homenagem ao grupo local.

 
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Um documentário foi exibido na Irlanda no aniversário de cem anos do naufrágio contando a história dos quatorze passageiros.

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Em entrevista para o jornal britânico “The Telegraph”, WillieCussack que é primo de segundo grau de Annie McGowan disse o que o som do sino representa para ele.
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“Você sabe como soa um eco naquelas montanhas escarpadas?” ele pergunta, apontando para as colinas “O choro vai e volta e está ao seu redor, por toda a aldeia. Eu posso imaginar o modo como ecoou pelas terras pantanosas naquela manhã. Quando ouvimos o sino tocando na igreja, imaginamos apenas um pequeno pedaço do que eles passaram. É o som mais assustador que você vai ouvir”.

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Em 2012, a equipe do Fantástico fez uma matéria sobre o Titanic e fez uma menção sobre Lahardane.


Crédito
Texto por Wagner Teodoro / Edição de material por Rodrigo Piller
Com informações de:
addergoole-titanic.com  /  telegraph.co.uk  / encyclopedia-titanica.org

12 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns aos envolvidos, uns dos melhores que já li sobre o assunto!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Parabéns, Piller! Muito interessante esta história. Fico imaginando quantas mais são ainda desconhecidas e quantas jamais saberemos.

Gabriel Torres disse...

Mais uma ótima matéria no Blog. Sem dúvida uma das histórias mais tristes sobre o naufrágio. Fico imaginando a exemplo dessa, quantas outras histórias parecidas não morreram com familias inteiras naquela noite fatídica. Sem duvida muito triste. Gostaria de agradecer especialmente ao Rodrigo por manter esse blog ativo depois de tantos anos, e parabenizar ao leitor Wagner Teodoro pelo texto!

Anônimo disse...

https://www.youtube.com/watch?v=YD6cGK-5c1k

Anônimo disse...

https://www.youtube.com/watch?v=jyUyVaqJOSM

https://www.youtube.com/watch?v=IteW330W7cc

J A Obrigado.

Cora disse...

Boa tarde Rodrigo,
Amigo conterrâneo, semana passada creio que dia 31, assisti um documentário da National Geographic, onde uma nova luz sobre o Titanic foi lançada.

Provavelmente você como estudioso do tema já conheça o doc chamado "Titanic: Incêndio Fatal" e possa esclarecer mais a nós fans do tema.

Pergunto: É realmente possível que os donos do navio soubessem que havia um incêndio latente na caldeira da antepara número 6 ? E mesmo assim terem zarpado de Belfast já com o incêndio a toda brasa ?

Aquelas fotos descobertas num sótão sobre a construção do Titanic, mostram de fato uma marca de avaria pelo fogo na proa, já no deque seco ?

Amigo, estou muito curiosa para saber mais sobre o tema.
Qdo você tiver tempo poderia me responder, se sabe mais alguma informação que corrobore isso tudo ?


Se tudo ali mostrado for verdade, muito do que sabíamos sobre o Navio, muda de rumo... E agora dá para entender a pressa do Capitão em chegar a New York e não ter diminuído a velocidade do Navio, mesmo com o alerta de icebergs.

Então Smith não foi pressionado por Bruce Ismay a aumentar a velocidade ?

Thomas Andrews (tão correto e perfeccionista como relata a História), fora enganado ? Ocultaram esta informação dele ?

O Capitão Smith simplesmente quis contar com a "sorte" e chegar aos USA antes que o carvão do navio acabasse e ele pegasse fogo ?

Nossa ! Estou estupefacta !
Como é possível arriscar a vida de pessoas desta forma ?

Abraço carinhoso Cora

Anônimo disse...

Titanic - 107 Anos.

Titanic per sempre.

https://www.youtube.com/watch?v=dLEdU9sS6qk

Con amor J A. Obrigado

Anônimo disse...

https://www.youtube.com/watch?v=saFSPAH2Qlg

Alvaro disse...

Bom dia Rodrigo! Espero que estejas bem! Esta é a saudação de um velho amigo que vem corroborar a admiração por este amplo trabalho que vens desenvolvendo e lembra-lo de que à despeito das vicissitudes da vida, os admiradores do Titanic e de sua pessoa, não o esqueceram. Grande abraço! Álvaro

Rodrigo Piller disse...

Opa, valeu amigo. Ainda que eu não esteja neste momento postando para o blog, ainda o mantenho com muito carinho e se possível, mais adiante, voltarei pelo menos à manutenção de muitas coisas que se perderam em imagens por exemplo. A vida demanda outras coisas mais, porém o que faz bem fica para sempre, seja em que forma for. Abraço.

Anônimo disse...

https://www.youtube.com/watch?v=tnu7oYLfuek