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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

The 'Addergoole fourteen': A vila que naufragou com o Titanic

Acima: Quinta feira, 11 de abril de 1912, 11:30, o Titanic ancora em Queenstown a cerca de 2 milhas (3,7 Km) da costa. Passageiros da 3ª classe e da 2ª classe embarcam e também 1.385 sacos de correspondências. Sete passageiros desembarcam. Às 13:30 e âncora de estibordo é levantada pela última vez e o Titanic parte em sua primeira travessia transatlântica para New York. Um grande grupo de passageiros da 3ª classe é clicado na popa do transatlântico em uma última vista da costa europeia. Para muitos deles a viagem em direção ao Novo Mundo poderia vir a ter caráter definitivo com o estabelecimento no novo lar do outro lado do Atlântico, no entanto o destino se interpôs aos planos e a definição ficaria por conta de um desastre ocorrido apenas quatro dias após este clique histórico.
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Seja bem vindo ao Titanic em Foco

A matéria a seguir é uma grata contribuição feita ao Titanic em Foco pelo leitor Wagner Teodoro, que gentilmente se dispôs à pesquisa e edição do texto. O texto reconta um dos capítulos humanos da história daquela viagem de abril de 1912, quando o Titanic carregado da vida e sonhos de 2.200 pessoas levava também 14 moradores da pequena vila irlandesa de Lahardane que iam de encontro a uma vida melhor na América.
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 Acompanhe 
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The 'Addergoole fourteen': A vila que naufragou com o Titanic

Irlanda, 1912. No país em cuja capital, Belfast, o “Navio dos Sonhos” nascia, havia uma vila chamada Lahardane no Condado de Mayo, onde a vida das 200 pessoas não era nada fácil. No início do século XX, a situação dos irlandeses era extremamente complicada, vivendo sob pobreza extrema, e um inverno doloroso que não lhes permitia plantar muita coisa, a emigração para a tão bem falada América era um desejo almejado pela maioria. Para se ter uma ideia entre 1850 e 1920 algo em torno de 3 milhões de pessoas saíram da Irlanda para a América (metade da população), e estimasse que em 1910 haviam mais pessoas de origem irlandesa em Nova York do que em Dublin. E toda essa emigração em massa era devido as condições precárias em que viviam no país, pois a expectativa de vida da população não passava dos 50 anos.
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http://photos.geni.com/p13/98/0f/3c/f7/53444839a8c3c013/catherine_mcgowan_terryduff_large.jpgCatherine McGowan

Em Lahardane, assim como em todo o lado oeste do país, a situação era muito critica. Famílias com 10 ou 12 membros viviam em casas com três quartos, quase não tinham o que comer, mas o que aumentava as chances de sobrevivência dos moradores da vila era a vida em comunidade, as pessoas ajudavam umas as outras e suas sobrevivências dependiam disso. Um perfeito exemplo de emigrante era Catherine McGowan, que tinha saído da Irlanda para os Estados Unidos e morava em Chicago. Ela tinha saído daquela situação de pobreza na Irlanda e tinha conseguido uma vida melhor nos Estados Unidos. Anos mais tarde ela retornou a Irlanda para uma visita a sua terra natal, mas também levar consigo para a América sua sobrinha, Annie McGowan, que tinha terminado o colégio.
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Ao chegar na vila Catherine estava muito diferente de quando partiu dali. Suas roupas, seu modo de falar e o dinheiro que havia ganhado em Chicago, era a definição do “American Dream” que as pessoas tinham. Ao conversar com as pessoas da vila, Catherine persuadiu algumas a largarem o pouco que tinham na Irlanda e ir embora para os Estados Unidos, pois lá tinha mais oportunidades de emprego e em geral uma qualidade de vida melhor.

Então em 1912 doze pessoas da vila foram convencidas por Catherine a viajar com ela e sua sobrinha para a América, uma decisão que seria fatal pois todas as quatorze pessoas iriam em abril a bordo do R.M.S. Titanic. A história aqui contada será sobre as quatorze pessoas de Lahardane que ficaram conhecidas como “The Alddergoole fourteen”, e que viajaram para de fato nunca mais retornar.

Os preparativos para a viagem

Catherine McGowan, Annie McGowan, John Bourke, Catherine Bourke, Mary Bourke, Nora Fleming, Mary Mangan, James Flynn, Bridget Donohue, Delia Mahon, Patrick Canavan, Mary Canavan, Annie Kate Kelly e Delia McDermott. 

Na semana da viagem haviam quatorze velórios a serem honrados na vila. Isso porque um emigrante que ia para a América dificilmente veria sua família de novo. Na Irlanda haviam muitos costumes e tradições, um deles era o “American Wake”, onde os familiares e os amigos dos emigrantes faziam uma despedida simbólica. Estas despedidas eram muito emocionais para os familiares e também para o emigrante, porém o prospecto de uma vida melhor era muito animador.
https://images.findagrave.com/photos250/photos/2012/23/17860060_132743804782.jpgMary Mangan

Na Irlanda a religiosidade e as superstições eram muito fortes e muitas pessoas acreditavam que era de azar viajar em uma viagem inaugural. Houveram muitas advertências psíquicas das famílias. Inclusive há histórias de que antes da viagem, um estranho abordou Delia McDermott e disse a ela que haveria uma tragédia e muitos morreriam, porém ela seria salva e uma noite antes de partir, o irmão de Delia Mahon disse a ela que teria um terrível desastre na sua jornada e que ela morreria. Porém estes avisos não foram fortes o suficiente para manter as pessoas em Alddergoole e elas se prepararam para partir.

Um dia antes da viagem a ansiedade em partir tomou conta dos quatorze. Mary Mangan ficou com seus pais durante o dia e contou a eles sobre sua expectativa de uma nova vida. Catherine e John Bourke estavam esperando seu primeiro filho que nasceria na América, eles também estavam cheios de esperança pela nova vida que os aguardava. A mãe de Delia McDermott e ela foram comprar seu primeiro chapéu, pois acreditavam que para ser uma dama na América, se precisava de um chapéu. Bridget Donohue trabalhava em um loja local e a filha do dono de três anos de idade lhe pediu um anel de presente, Bridget então mediu o tamanho do dedo da menina com um barbante para levar consigo na viagem. James Flynn passou a tarde com sua irmã que estava muito chateada com a partida dele, pois ele era a única família que ela tinha. Ele então prometeu a ela que mandaria passagens assim que conseguisse chegar em Nova York.

Annie Kate Kelly escreveu uma carta para seu primo antes de viajar: 
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Querido primo, eu estou indo para a América no navio mais legal do mundo. Eu estou indo com algumas das pessoas mais legais do mundo também. Isto não é esplendido? Eles moram em Chicago, e eu devo ser capaz de fazer a viagem toda com eles. Eles tem me falado sobre Chicago e eu sei que eu vou gostar muito mais do que eu gosto da Irlanda.– Annie Kelly

O caminho até o local de embarque 
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Na manhã de 10 de abril de 1912, no dia em que o Titanic deixava Southampton, os quatorze de Addergoole iniciavam suas jornadas de 14 horas de trem até a cidade de Queenstown, condado de Cork, onde embarcariam no Titanic com mais 111 pessoas.
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Abaixo: Os quatorze aguardando para embarcar nas lanchas e irem até o Titanic ancorado ao largo da cidade.

Os quatorze a bordo do Titanic

As acomodações da terceira classe para eles eram inacreditáveis. Era a primeira vez que eles viam energia elétrica, era a primeira vez que eles tiveram o luxo de ter uma cama de cada, a primeira vez que eles tinham água potável e banheiro as suas disposições. Os três dias que os quatorze passaram a bordo do Titanic foram os melhores de suas vidas e reforçaram as expectativas da vida na América. As refeições que se tinham a bordo do navio eram muito melhores do que qualquer um deles já haviam tido na vida

Ao lado: Uma cabine de 3ª classe a bordo do RMS Olympic, o navio irmão do Titanic.
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A noite do naufrágio.

Os quatorze estavam em diferentes partes do navio quando ele bateu no iceberg. Annie Kate Kelly estava na cama e alguém disse a ela que o Titanic estava afundando. Ela achou que estavam brincando com ela quando mais alguém disse: “sim, você tem que sair”. Alguns outros estavam em uma festa e nem perceberam o tremor. Nenhum deles imaginava que o navio estava em perigo. Era o aniversário de https://www.encyclopedia-titanica.org/images/FlemingNora.jpgNora Fleming e ela estava comemorando e cantando no momento do impacto. Os mordomos disseram que era para eles permanecerem calmos, mas a ansiedade e o stress iam tomando conta deles. O grupo de Addergoole mostrou-se muito organizado quando os homens ajudaram as mulheres a chegar no deck de botes e quando chegaram lá restavam apenas três. Com o pânico instalado o grupo se perdeu uns dos outros.

Nora Fleming

Catherine e Mary Bourke conseguiram lugares em um bote, mas como John Burke se recusou a entrar, as duas saíram do bote para ficar com ele. Annie Kate Kelly foi colocada naquele bote nos seus lugares.
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Eu não deveria ter sido salva senão pela senhora Burke ter recusado deixar seu marido. Eu olhei para cima e vi meu primo segurando um rosário que ele usou para me abençoar (dito por Annie Kate Kelly).

No outro lado do navio, Delia McDermott conseguiu um lugar no bote mas se lembrou que tinha deixado seu chapéu para traz e voltou para o Titanic para buscá-lo. Quando ela veio até o deck todos os botes tinham saído, então ela pulou de uma altura de quatro metros e meio para o último bote que estava sendo baixado. Annie McGown entrou em um bote também mas estava com muito medo do que estava acontecendo, principalmente por não saber onde estava sua tia. Ela tinha esperanças de encontra-la no próximo bote, porém ela nunca mais a viu novamente.

© Ken Marschall
Dos quatorze de Addergoole, apenas estas três mulheres sobreviveram. Elas foram encaminhadas para o Saint’s Vincent Hospital em Nova York onde ficaram por duas semanas. Neste período elas tiveram de assinar papéis que diziam que elas se resolveriam com a White Star Line por 25 dólares.
Mary Mangan não sobreviveu a tragédia, porém seu corpo foi o único a ser identificado entre os onze. Foi o 61º corpo a ser retirado da água em 22 de abril de 1912. O que ajudou na identificação foi um relógio de bolso que tinha seu nome gravado.
As noticias demoraram a chegar até Lahardane, porém algumas informações chegavam incorretas e enchiam alguns de falsas esperanças. A dor tomou conta do vilarejo, parentes e vizinhos tinham perdido seus entes queridos e não havia ao menos o corpo para fazer o funeral. O jornal britânico “Telegraph”, afirmou em reportagem que pessoas viveram e morreram com aquela dor. O sobrinho de Nora, na época da reportagem com 71 anos, disse que a mãe de Nora ficou devastada até o dia de sua morte.


A vida dos que sobreviveram
Annie McGowan                                  Delia McDermott                               Annie Kate Kelly
Annie McGowan levou muito tempo para se recuperar do choque, porém ela entrou para uma escola de secretariado, conseguiu um emprego e mais tarde se casou. Annie teve três filhos e morreu em 30 de janeiro de 1990 aos 95 anos de idade. Delia McDermott viveu em Jersey City e se casou com um homem chamado John Lynch, ela trabalhou na Central Jersey Roilroad sua vida inteira e teve três filhos. Delia morreu em 3 de novembro de 1959 aos 78 anos. Annie Kate Kelly trabalhou por nove anos como modista em Chicago. Porém o acidente tinha mudado a vida dela. Depois de muita reflexão do porquê de ter se salvado naquela noite Annie se tornou uma freira e deu aulas pelo resto de sua vida. Annie morreu aos 77 anos em 18 de dezembro de 1969.


Lahardane hoje e memoriais

Proporcionalmente Lahardane foi o lugar que mais perdeu vidas no naufrágio do Titanic. O estrago emocional gerado foi tão grande que por quase cem anos as pessoas de lá evitaram tocar neste assunto. Em decorrência disso a história quase foi perdida ao longo das gerações que iam se passando. Porém na última década os moradores de Alddergoole voltaram a falar sobre isso e se agrupar para reunir evidências e documentos ao redor do mundo. Não apenas isso, o vilarejo de Lahardane ganhou alguns memoriais e decorações ao redor da cidade que fazem referência ao Titanic e aos 14 passageiros de Aldderggole. Foi aberto um parque memorial com uma escultura ilustrando a ida dos quatorze passageiros à Cobh e outra como menção a proa do navio. Uma placa com os quatorze nomes também foi colocada no local. Algumas homenagens são prestadas nos aniversários do naufrágio. Todos os dias 15 de abril, às 2:00 da manhã, os moradores da vila fazem uma caminhada até a igreja de São Patrício e tocam o sino 14 vezes.
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A igreja de São Patrício (St. Patrick’sChurch), igreja da vila, teve alguns vitrais colocados em homenagem ao grupo local.

 
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Um documentário foi exibido na Irlanda no aniversário de cem anos do naufrágio contando a história dos quatorze passageiros.

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Em entrevista para o jornal britânico “The Telegraph”, WillieCussack que é primo de segundo grau de Annie McGowan disse o que o som do sino representa para ele.
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“Você sabe como soa um eco naquelas montanhas escarpadas?” ele pergunta, apontando para as colinas “O choro vai e volta e está ao seu redor, por toda a aldeia. Eu posso imaginar o modo como ecoou pelas terras pantanosas naquela manhã. Quando ouvimos o sino tocando na igreja, imaginamos apenas um pequeno pedaço do que eles passaram. É o som mais assustador que você vai ouvir”.

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Em 2012, a equipe do Fantástico fez uma matéria sobre o Titanic e fez uma menção sobre Lahardane.


Crédito
Texto por Wagner Teodoro / Edição de material por Rodrigo Piller
Com informações de:
addergoole-titanic.com  /  telegraph.co.uk  / encyclopedia-titanica.org

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Os "fantasmas" do Titanic: Das fotos de época ao cinema

Seja bem vindo ao Titanic em Foco

Por definição, a palavra fantasma significa:

"Uma imagem não correspondente à realidade, ou seja, uma ilusão visual, produto da fantasia. Por extensão, o termo designa espíritos de pessoas que supostamente permaneceram na Terra depois de sua morte."


O título desta matéria remete à ideia de que aqui será tratado de uma série de eventos paranormais relacionados ao Titanic, no entanto o texto fará uma citação que muito mais tem a ver com fotografia, eventos, arte e curiosidades. Uma pequena compilação de imagens relacionadas ao Titanic, onde em cada uma delas há algo mais para ser visto mais de perto que apenas seu foco central.

Considerando o mundo visual fotográfico por onde o Titanic naturalmente viaja, como maneira sempre incrível de recontar sua história e explorar seu legado de mais de 106 anos... A análise de alguns dos seus registros fotográficos únicos e de algumas das infinitas representações artísticas que o relembram, faz iluminar um tanto mais sobre o rico legado visual deixado pelo navio que se tornou um marco memorial - para o bem e para mal - do início do século XX, sem nunca deixar de navegar nas águas da cultura ocidental, por curiosidade ou por estudo prático aplicado.

Siga então o que há por detrás destas imagens "fantasmas".

Acompanhe
O "efeito fantasma"

O Início do século XX - Numa época em que a fotografia de qualidade era reservada quase em sua exclusividade à profissionais, o processo de fotografar era algo um tanto mais complexo que apenas pressionar um pequeno botão, gesto tão banal nos dias atuais, especialmente após o surgimento da fotografia digital. Para fotografar a construção do trio de navios irmãos da chamada Olympic Class, o Olympic, o Titanic e o Britannic, a construtora irlandesa Harland and Wolff contratou o renomado fotógrafo irlandês Robert John Welch, então incumbido de eternizar em imponentes registros fotográficos todo o processo de criação dos gigantes novos transatlânticos encomendados pela Companhia White Star Line.
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National Museums Northern Ireland
Ao lado - Robert John Welch (*1859 †1936), fotógrafo oficial da construtora Harland and Wolff. Foi ele o responsável pelas dezenas de fotografias da construção do Olympic, do Titanic e do Britannic, entre outras centenas de fotos de navios da mesma época e também das grandiosas oficinas da empresa. As melhores e mais conhecidas fotografias do Titanic durante o período de construção e as raras fotografias dos interiores do navio finalizados foram, na grande maioria dos casos, obras de seu talento notável com uma câmera fotográfica profissional.

Robert John Welch trabalhou no decorrer de todo o processo de construção do Olympic, do Titanic, e também fotografou a construção do terceiro do trio, o Britannic. A prova registrada de seu trabalho está nas icônicas imagens históricas coletadas durante este período, mas também nos rodapés de suas fotografias. Welch registrava sua obra demarcando em cada negativo fotográfico individual as iniciais de seu nome e um código de controle sequencial.
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Um dos impressionantes registros fotográficos de Robert Welch, 1912, 06 de março - Faltando 34 dias para a viagem de estréia, quando o Olympic finalmente deixa a doca seca, cedendo lugar para a finalização do Titanic, acontece uma oportunidade única: O fotógrafo Robert Welch posiciona sua câmera sobre a lateral de estibordo dos conveses superiores do Olympic e tira uma foto panorâmica do Titanic em pleno processo de pintura, antes ainda de receber as famosas janelas envidraçadas na metade dianteira do convés de passeio da 1ª classe, uma alteração rápida que só iria acontecer na reta final de obras.
National Museums Northern Ireland
A fotografia na década de 1910 não era algo raro, tampouco uma inovação recente, naquele período a imprensa já bastante desenvolvida empregava muitos profissionais que se dedicavam ao ofício. Mas a fotografia amadora era algo ainda muito pequeno e restrito apenas para as pessoas com maior poder aquisitivo, considerando que os equipamentos e insumos fotográficos eram itens de valor ainda elevado. Neste período - da adolescência da fotografia profissional em preto e branco - para se fazer uma boa foto eram necessárias algumas condições específicas: Boa luminosidade, bons materiais fotográficos e um ambiente preferencialmente estático, sem movimento.

Por que sem movimento?

As câmeras fotográficas de modelo tripé - com a qual Welch trabalhava - eram equipadas com lâminas de vidro, nas quais era aplicada a emulsão fotográfica onde a imagem seria registrada, tal qual acontece em um negativo de uma máquina atual (máquina com rolo de filme fotográfico).
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Ao lado: Um fotógrafo contemporâneo à Welch e sua câmera de tripé.

Para que a imagem se fixasse gravada na superfície emulsificada do vidro - superfície recoberta com a química fotográfica onde a imagem era "queimada com a luz" - se fazia necessário que a placa fotográfica fosse exposta durante alguns poucos segundos à luminosidade e foco da cena, de modo idêntico ao que ocorre com um filme numa máquina convencional de rolo de filme, porém mais primitivo. Durante a exposição de alguns poucos segundos a imagem à frente da câmera era então captada pela química sensível.
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Ao lado: Um negativo fotográfico de vidro, de tipo similar ao utilizado por Welch em suas fotografias do Titanic.
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O processo era bastante simples, no entanto exigia técnica, e qualquer movimento da câmera ou do objeto fotografado causaria o aparecimento de fantasmas: Tudo que se movesse na imagem durante estes segundos de exposição acabaria aparecendo como um borrão na fotografia final. Portanto era especialmente recomendável que tanto a câmera quanto o objeto fotografado estivessem estáticos, a fim de que a fotografia resultasse em perfeita condição. Nada muito diferente do que acontecia a poucos anos com as câmeras de filme fotográfico e ainda hoje com as modernas câmeras digitais, onde o requisito estático é importante - salvo as fotografias captadas com método especial para cenas em movimento, hoje muito simples de captar.
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O único estático
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Para exemplificar o efeito fantasma segue abaixo uma foto anterior à construção dos navios da White Star Line, onde os operários na construtora naval Harland and Wolff seguiam preparando o estaleiro para que novos pórticos de construção fossem erigidos em suas rampas antigas e as obras nos novos grandes navios pudessem enfim ser iniciadas. 
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Observe que a figura de todos os trabalhadores apresenta-se borrada, de modo que se assemelham à fantasmas, enquanto a imagem do cavalo permaneceu intacta. O motivo do efeito é simples: Os operários moveram-se durante a tomada da fotografia, enquanto o cavalo permaneceu imóvel.
National Museums Northern Ireland
Um bote e dois espectros
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Na foto seguinte, tirada a partir da área traseira no convés de botes do Olympic [o navio irmão do Titanic] ainda em construção, repare no detalhe dos dois operários que se movem ao longo do bote salva-vidas de nº 15. Durante a tomada da fotografia a mudança de posição dos trabalhadores acentuou o efeito fantasma, e o resultado é que os dois indivíduos aparecerem como espectros ao redor do bote.

O Olympic em construção, aqui atracado na doca seca Thompson, em Belfast.
National Museums Northern Ireland
Um pequeno movimento de câmera 
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Ainda sobre este efeito fantasma segue mais um exemplo icônico notável: A foto histórica seguinte é a única conhecida da importantíssima sala de telégrafo do Titanic. Nela o operador Harold Bride, sentado de costas, opera o aparelho de telégrafo, o mesmo utilizado na madrugada de 15 de abril de 1912, para os envios de pedido de socorro enquanto o Titanic seguia sendo tragado pelo oceano. Se pode notar claramente que toda a fotografia está registrada em duplicata, de modo que o efeito fantasma neste caso não se deu pelo movimento do ambiente fotografado, mas da própria câmera fotográfica.

Neste registro histórico único, Harold Bride é fotografado operando o aparelho de telégrafo. Harold sobreviveu ao desastre com os pés feridos pelos efeitos do congelamento, mas perdeu seu companheiro de trabalho, Jack Philips. A foto foi tirada pelo passageiro da 1ª classe Francis Browne em 11 de abril de 1912 às 10:05 da manhã, o segundo dia de viagem.
Francis Browne Collection
O convés de passeio particular oculto
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Francis Browne Collection
 Caminhando pela ala traseira do convés de passeio da primeira classe, um casal é clicado por Francis Browne em 11 de abril de 1912. A fotografia no entanto revela algo mais: O espectro de uma outra foto, neste caso do interior luxuoso do Titanic.a és.

Seguindo seu tour fotográfico amador pelo Titanic, em 11 de abril de 1912, segundo dia de viagem, o passageiro da 1ª classe Francis Browne fotografa à ré do convés de passeio da 1ª classe um distinto casal caminhando tranquilamente trajando pesadas roupas de inverno. 
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Ken Marschall Collection
Após a descoberta dos negativos de sua coleção em 1986 pouco ou nada se sabia sobre a identidade do casal na foto, hoje creditado na comunidade de pesquisadores como a passageira Emily Nichols, que desembarcou na cidade de Queenstown em 11 de abril, e um colega de sua família, Richard W. Smith, que a acompanhou durante a curta travessia. Smith estava viajando à negócios e ao contrário de sua amiga, prosseguiu a viagem em direção aos Estados Unidos e se tornou uma das 1.500 vítimas do desastre ocorrido entre a noite de 14 e a madrugada de 15 de abril de 1912.

Ao lado: O convés de passeio particular das cabines B51, B53 e B55, ocupado por Charlotte Cardeza e seu filho Thomas Drake Cardeza. Uma outra fotografia deste mesmo ambiente, então com flores sobre uma de suas mesas de vime, aparece como silhueta de dupla exposição na foto de Francis Browne.

O que não se pode ver na fotografia dos colegas de viagem à primeira vista desatenta é que nela há uma dupla exposição, que deixou o  rastro "fantasma" de uma segunda fotografia que denota ser a de um dos dois conveses de passeio particular decorado em estilo Tudor das suítes de luxo situadas em ambos os lados do convés B no Titanic.

No delineado fantasma na foto de Browne nota-se parte da disposição decorativa em estilo Tudor do convés de passeio particular, uma mesa disposta com flores e algumas espreguiçadeiras de vime. Em 10 de abril de 1912, dia anterior à foto de Browne, Charlotte Cardeza [ao lado], passageira da 1ª classe e ocupante do trio de cabines de luxo B51, B53 e B55 [do qual o passeio particular em estilo Tudor fazia parte] estava de aniversário, completando então 58 anos. Possivelmente as flores sutilmente vistas na foto de dupla exposição de Browne seriam mimos pela celebração da data da hóspede do trio de cabines de luxo.
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O negativo da foto sobreposta no entanto até hoje não foi descoberto, o que leva a crer que seu registro fantasma poder ser resultado de uma simples dupla exposição, ou mesmo seu negativo avulso eventualmente tenha se perdido da enorme coleção de Francis Browne, estimada em mais de 42 mil fotos tiradas durante toda sua vida sobre uma infinidade de outros temas. De todo modo, a foto "fantasma" revela uma fração sutil a mais da vida a bordo do Titanic.
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"Aparições"

O Titanic fora construído por milhares de trabalhadores, cerca de 14 mil operários trabalhavam em todo o estaleiro Harland and Wolff naquele período. Centenas deles são vistos nas fotografias tomadas durante a construção dos dois navios irmãos, e grande parte destas fotos foram propositalmente compostas de modo a exaltar o tamanho inédito do navio em relação à pequenez dos homens que os materializaram. A foto abaixo denota a intenção da tomada de  ressaltar a imponência da obra que se erguia orgulhosamente como um monumento na cidade de Belfast.

Uma vista da famosa Queen's Road, em Belfast, que durante três anos viu o Titanic surgindo por detrás dos galpões da Harland and Wolff. A foto foi tirada por Robert Welch em 1911 pouco tempo antes do lançamento do casco do Titanic. Os trabalhadores que tomam conta da rua na foto terminavam mais um dia de árduo trabalho, e ao soar dos apitos às 17:30 da tarde seguiam para seus lares ao fim de mais um dia de obras.
National Museums Northern Ireland
Haveria então alguma imagem curiosa feita durante a construção?

Sim

National Museums of Northern Ireland
O primeiro destes casos é de uma bela foto tomada enquanto o gigantesco casco do Titanic, ainda no estaleiro, aguarda pelo lançamento ao mar que ocorreria em 31 de maio de 1911. A foto em questão parece não revelar nada além da imponência da construção. E com razão, porque só se pode enxergar algo mais através de uma versão em resolução muito maiores.
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O que se pode notar é que pelo menos um trabalhador pode ser visto através das portinholas ao longo do casco, em um ponto muito próximo ao nome "TITANIC" gravado no alto da proa a bombordo. O detalhe despretensioso é resultado da simples curiosidade de um dos operários, que durante mais um dia de trabalho se pôs a observar curiosamente o movimento exterior no grande estaleiro irlandês, possivelmente espairecendo e tomando um ar.

Um possível operário observa o exterior do estaleiro a partir de uma portinhola próxima ao letreiro "TITANIC" em maio de 1911. O enunciado não foi apenas pintado sobre casco do transatlântico, mas escavado em baixo relevo sobre o aço e então preenchido com a cor amarelo cromo, a mesma da contínua faixa decorativa que delimitava a divisão entre o casco e a superestrutura branca do navio. Cada letra aqui media 45 cm de altura apenas.
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O operário esfumado

A segunda foto a ser destacada foi feita durante os trabalhos no eixo da hélice de estibordo do Titanic. A fotografia não parece revelar nada de incomum, mas ao analisá-la em maior resolução é possível notar que há algo indistinto: À esquerda do trabalhador na extrema direita da foto se vê uma silhueta desfocada com os contornos de um operário, talvez.
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O motivo pelo qual este trabalhador fora eliminado é, até então, desconhecido. Mas o modo com qual foi apagado era bastante simples: O negativo era composto de vidro - como já descrito anteriormente no texto -, e bastava que o fotógrafo agisse diretamente sobre a superfície da placa para que a imagem fosse alterada. Processo que corriqueiramente deixava rastros, devido à natureza precária do método.
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Numa época em que a fotografia digital estava há décadas de surgir e os programas de edição de imagem eram algo totalmente impensável, este era o meio com qual as fotografias eram alteradas pelos fotógrafos, num processo ancestral do utilíssimo  programa Photoshop. O mistério neste caso centra-se no motivo pelo qual este operário fora eliminado da foto, afinal a sua silhueta em nada interferia na composição da cena.
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Operários trabalham na instalação do eixo da hélice de estibordo do Titanic em maio de 1911.
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Uma espiadela pelo escovém

O próximo registro curioso foi feito nos dias iminentes à partida do transatlântico da cidade de Southampton, em 4 de abril, véspera da Sexta Feira Santa, quando o Titanic foi decorado com bandeirolas para saudar os moradores da cidade. Faltando cinco dias para a viagem de estréia, enquanto os trabalhos de finalização no Titanic seguiam de maneira frenética, um de seus ocupantes - certamente um operário - observa o cais do porto através do grande *escovem na proa [*abertura utilizada para a passagem dos cabos de reboque do navio, e ponto de acesso para a grande bobina do cabo de aço utilizado na suspensão e descida da âncora central de 16 Toneladas alojada no topo externo da proa].
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Mais um registro prosaico escondido numa foto centenária, corriqueiramente republicada sem a curiosa anotação do detalhe sutil impossível de ser notado em baixa resolução.
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[Scan do detalhe por Matt DeWinkeleer. Descoberta divulgada em abril de 2017 por Jonathan Smith, administrador do grupo TITANIC TECH, no Facebook.]
Observando o movimento em Queenstown
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No terceiro caso, uma imponente foto do casco de estibordo do Titanic quando atracado em sua segunda e última escala na Europa, às margens da cidade de Queenstown (atual Cobh), em 11 de abril de 1912. A foto foi tirada por um dos integrantes da família Odell, hospedados na 1ª classe, que desembarcaram na cidade levando consigo uma pequena coleção das últimas fotos dos conveses do navio em viagem de estreia.
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A foto parece não revelar algo curioso específico, mas em sua versão de alta resolução surge uma figura interessante. Olhando curiosamente para o exterior do navio vê-se a face de um sujeito que observa o movimento das lanchas de passageiros adjacentes ao navio. O personagem curioso observa através de uma das janelas da porta situada no saguão de embarque da 1ª classe no convés D. Um registro prosaico simples, que se esconde nas menores resoluções da mesma foto.

Elevando-se 18,5 m acima da água, o imenso paredão de chapas, rebites, janelas e portinholas do Titanic se ergue às margens da cidade de Queenstown em 11 de abril de 1912, sua segunda e última escala na Europa antes de seguir em mar aberto, numa travessia de 6 mil Km, na qual naufragou 2 mil Km antes do destino final em New York, EUA. 
Tomando ar a 39 metros de altura
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A quarta fotografia também foi tomada enquanto o Titanic esteve atracado ao largo da cidade de Queenstown em 11 de abril. Às 12:30 min, momentos antes do Titanic levantar âncora e finalmente seguir rumo à New York, algo inusitado acontece: 
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Um tripulante com rosto enegrecido de fuligem sobe pelo interior do quarto chaminé - que media 19 m de altura - e do topo olha para os passageiros abaixo. A atitude gera alguma comoção, e algumas mulheres interpretam a estranha aparição como um mau presságio.

A fotografia acima [com destaque recortado ao lado] é citada como o registro acidental deste exato momento curioso. Claramente é possível observar que no topo da chaminé traseira há um ponto que muito se assemelha ao tronco de uma pessoa.
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E é correto afirmar que os trabalhadores poderiam escalar até o topo da chaminé, em seu interior havia de fato uma escada e uma plataforma superior, citada como um dos pontos permitidos ao acesso dos operários da sala de máquinas que, segundo algumas fontes, para lá se dirigiam para fumar ou tomar ar, como um mirante improvisado de acesso exclusivo à tripulação. 
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Um tripulante descansa e fuma displicentemente no topo da quarta chaminé do Olympic, navio irmão do Titanic, atracado em New York.

A quarta chaminé do Titanic não estava conectada às caldeiras do navio localizadas mais adiante, sendo então utilizada para captação de ventilação para vários ambientes internos e eliminação de fumaça das cozinhas da 1ª e 2ª classes e da lareira situada na sala de fumantes da 1ª classe. Conhecida popularmente como "falsa chaminé" ou "chaminé decorativa", a verdade é que ela tinha funções práticas, e não estava ali como simples complemento de design.
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Um sorriso destoante
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A quinta foto foi tomada após os desdobramentos trágicos da viagem não terminada do Titanic, durante o penoso processo de resgate das vítimas do naufrágio.
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Num dia que parece ensolarado, a bordo do navio SS Minia, que fora fretado pela White Star Line para atuar no penoso processo de resgate dos corpos à deriva [efetuando o resgate de 17 vítimas ao todo], dois indivíduos trabalham no processo de embalsamamento do corpo de um dos desafortunados ocupantes que pereceram no Titanic, enquanto ao fundo no lado esquerdo, um tripulante observa a cena fúnebre. O quadro por si só é um cenário de choque de realidade, ressalta as consequências do desastre. Mas aqui há algo de curioso que se esconde na fotografia, e que só se revela aos olhos através de sua versão em grande resolução.
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A imagem de um 4º tripulante que se esconde atrás de um aparato de convés e, estranhamente, denota um sorriso que parece envergonhado, que destoa por completo do cenário permeado de consternação. Um registro histórico que contém em si algo mais para além motivação pesarosa de sua captação fotográfica histórica única.

 Espectro sutil
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Um outro interessante caso é o da foto abaixo, ela têm sido erroneamente registrada através das décadas como verídica do Titanic, porém mais uma vez, trata-se do Olympic, atracado na doca seca Thompson na cidade de Belfast, Irlanda do Norte, onde os dois navios foram equipados.
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Pode-se notar que à esquerda do pequeno grupo de trabalhadores próximos à hélice central, há a figura desfocada de um homem que, ao que parece, não é a repetição espelhada de nenhum indivíduo na cena. Neste caso específico não há um esclarecimento simples para o inesperado "fantasma", mas ocasionalmente poderia se tratar de uma falha ocorrida durante o processo de manipulação da placa de vidro negativo fotográfico, ou mesmo eventualmente pelo movimento de um dos trabalhadores, que durante a tomada da fotografia moveu-se do lugar deixando apenas seu espectro fantasmagórico.

No Titanic a hélice central possuía diâmetros de 5.2 m de altura e as duas hélices laterais 7 m de diâmetro, pesando 22 Toneladas e 38 Toneladas respectivamente.
National Museums Northern Ireland
Imagens controversas
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Francis Browne Collection
Na fotografia a seguir, vê-se caminhando pelo convés A em direção à popa do Titanic um homem que parece ser um oficial. O clique histórico é obra do passageiro de 1ª classe, o padre Francis Browne, famoso por ter tirado as derradeiras e históricas fotos dos conveses enquanto exercitava seu passatempo esmerado, a fotografia.
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Afigura é frequentemente citada nos livros como sendo a de Edward John Smith, o Capitão do Titanic.  É notável que a silhueta do sujeito que caminha solitário guarda semelhanças bastante próximas à silhueta robusta de Smith; Mas o que estaria ele fazendo solitário no convés?

A foto foi tirada em águas próximas do porto de partida na cidade de Southampton, Inglaterra, portanto tornando impossível a presença do capitão em local tão afastado da ponte de comando, considerando que especialmente em águas costeiras era indispensável a presença da figura do comandante na ponte. Através da amurada do convés se vê o pequeno barco RMS Tagus, que operava entre Southampton e as Índias Ocidentais.
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Trajando roupas pesadas, um passageiro não identificado caminha em direção à popa do Titanic, perambulando pela ala de bombordo do imenso convés de passeio da 1ª classe de 164 metros de comprimento entre os extremos. O clique fotográfico teria se dado nas proximidades de Southampton, Inglaterra, pelas mãos de outro passageiro de primeira classe, novamente o curioso fotógrafo padre Francis Browne. Ao restar qualquer dúvida de que a foto é autêntica do Titanic, a simples presença do detalhe curvo na amurada à extrema direita da foto, comprova a identidade do Titanic, este é um de seus detalhes únicos de design, o início da longa fileira de janelas envidraçadas do convés de passeio protegido do clima.
Francis Browne Collection
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O capitão que não é "o capitão"

Durante um tempo indeterminado, a fotografia ao lado foi considerada como sendo o registro do Capitão Edward J. Smith presente na ponte de comando do Titanic acompanhado de um garoto, talvez um passageiro hospedado na 1ª classe, que aparenta ter aproximadamente 5 anos de idade.

A foto foi publicada até mesmo em um livro infantil identificada como Smith junto de Douglas Spedden, um garoto de 6 anos de idade, passageiro na primeira classe, que embarcou junto com seus pais na cidade de Cherbourg, França, e que escapou do naufrágio com a família reunida no bote salva-vidas Nº 3.
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Abaixo: Em uma foto realmente tirada à bordo do Titanic, o garoto Douglas Spedden se diverte ao brincar com um pião acompanhado de seu pai, Frederic Oakley Spedden, e outros dois passageiros da 1º classe. A fotografia também foi tomada pelo passageiro da 1ª classe Francis Browne, às portas de entrada para as duas salas Palm Court, localizadas à ré do Convés de Passeio (convés A) da primeira classe.
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Francis Browne Collection
O mito da fotografia do garoto na ponte de comando começou a ser derrubado quando as análises comparativas evidenciaram que o local da imagem pouco se encaixa com o design e aparatos alocados na ponte de comando do Titanic, a não ser pelo típico modelo de telégrafo de comunicação similar. Como pode ser constatado na foto abaixo, de Edward John Smith, às portas da Ponte de Comando do Titanic em 10 de abril de 1912, dia  em que a viagem teve início.
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Algumas análises fotográficas feitas entre a face de Smith e o capitão na foto em questão, também revelaram que os traços não correspondiam entre os dois homens.
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Por fim, o surgimento de um segunda fotografia (ao lado), tomada no mesmo momento da foto polêmica, veio a revelar a verdade identificando o garoto, o capitão e até mesmo o navio onde fora feito o registro fotográfico polêmico.
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A legenda da foto diz: 
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"Partida do Príncipe Arthur de Connaught de Cape Town: O Capitão D. Hoskins, do Kinfauns Castle, explica para o Conde de Mc Duff os dispositivos na ponte."
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Na foto abaixo, o navio SS Kinfauns Castle, de 9.964 toneladas. O barco pertencia à Companhia de Navegação Union Castle e operou em 1899 e 1927. Na foto o lado, o pequeno garoto Alastair Windsor, conde de Mc Duff, nascido à 9 de agosto de 1914, exatos 2 anos e 4 meses após o desastre do Titanic. Portanto ele é a criança na fotografia discutida. Alastair não esteve o Titanic, mas ganhou destaque literário como um de seus pequenos passageiros.
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Uma face surge das profundezas

Nas cenas iniciais do filme Titanic (1997), relembrando o eco do passado das crianças que perderam-se no Titanic, a pungente imagem da face de uma boneca de porcelana surge lentamente da escuridão iluminada pelos holofotes dos submarinos, para então em seguida se ocultar novamente nas trevas. Esta fantasmagórica e significativa cena foi filmada em estúdio, não foi gravada nos arredores dos escombros do Titanic a 3.800 m de profundidade, mas em um tanque construído para algumas das tomadas subaquáticas.

A questão neste caso é que a breve cena foi diretamente inspirada por um acontecimento real, ocorrido com a equipe de Robert Ballard, o oceanógrafo que em 1º de setembro de 1985 conseguiu descobrir a posição dos destroços do Titanic a 3.800 m. de profundidade.
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A cabeça fantasmagórica de uma boneca deitada sobre o leito marinho nos arredores do naufrágio causou arrepios quando foi avistada a partir do submarino Alvin da equipe de Robert Ballard. A presença solitária da cabeça da boneca surgia então indicando que seu corpo foi consumido pelos microrganismos marinhos, responsáveis por corroer rapidamente os materiais mais sensíveis. O insólito encontro do brinquedo fez lembrar pungentemente das crianças a bordo do Titanic, e que a boneca pode ter sido o último entretenimento de uma delas, cujo destino nunca se poderá saber com certeza. 
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Acima: Sobre o leito marinho nos arredores dos escombros do Titanic, a cabeça solitária de uma boneca de porcelana remete às histórias das crianças a bordo.

A cabeça de boneca de cerâmica foi apontada como de origem francesa ou alemã. As proporções do rosto indicam que é uma boneca de uma senhorita, uma vez que não têm traços de criança, ou seja, bochechas salientes. Estas bonecas eram mais populares a partir de 1860 até 1890, mas também foram feitas no século XX. A foto ao lado é de uma bonecas bem similares do mesmo período.

Abaixo: Interpretada pela pequena Alex Owens-Sarno de 8 anos de idade, a personagem Cora Cartwell, que na história se tornou vítima do naufrágio, personifica a memória de parte das crianças que estiveram a bordo do Titanic. Junto dela uma boneca, de modelo correspondente à exibida na cena fantasmagórica nas cenas iniciais.

A arte fantasma

Ken Marschall [ao lado], nascido em 1950 é um talentoso ilustrador norte americano, cuja arte de desenhar o Titanic está representada nos melhores livros sobre o tema e serviu como guia de inspiração visual para as cenas de Titanic em 1997. Suas pinturas são executadas de modo tão realista que por vezes se confundem com fotografias reais, tão notável é a técnica de seu trabalho e habilidade ao retratar o malfadado transatlântico. Marschall dedica seu talento e expertise à outras muitas ilustrações sobre temas variados, no entanto é mais conhecido por retratar o Titanic.

Entre os mais significativos trabalhos do artista estão as imagens da noite em que o Titanic naufragou, dado a ausência completa de qualquer registro fotográfico dos fatos cruciais de sua história. Entre outras tantas criações impressionantes, suas ilustrações dos destroços são grande destaque. Retratos em amplos panoramas fantasmagóricos, impossíveis de se obter na vida real com uma câmera tendo em vista a escuridão completa em que se encontram os escombros do Titanic e a área muito ampla dos destroços, que impede que no local seja feita qualquer fotografia que registre o panorama em apenas 1 clique.

©Ken Marschall
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Dentre as dezenas de ilustrações executadas por Marschall, uma delas chama a atenção e encaixa-se plenamente no assunto desta matéria. Datada de 1967, esta pintura é registrada como  primeira de Ken Marschall relacionada ao Titanic, por isso o detalhe que chama a atenção. Dispensando explicação prolixa, a pintura faz pensar naqueles dias de abril de 1912, quando ninguém a bordo poderia prever de fato que um desfecho pouco auspicioso e mortal rondava aquela viagem, onde muitos se deparariam com o destino insólito ingrato. Este é um dos poucos exemplos em que Marschall se permite à inclusão de aspectos ficcionais em seus trabalhos, certamente na busca de seu estilo próprio.
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©Ken Marschall
http://www.kenmarschall.com/images/night_T1980a2_KM.jpg
©Ken Marschall
A segunda ilustração, também é uma criação de Ken Marschall, contém uma perspectiva rara, onde o Titanic segue o curso diretamente para o iceberg, vigiado pela figura de um crânio que se forma no breu da noite entre as estrelas no horizonte do gélido Atlântico Norte. A obra foi uma encomenda e é capa do livro "The Titanic, The Psychic and the Sea", por isso foge ao estilo pessoal do artista.
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Na foto a seguir, com o mesmo simbolismo aplicado por Marschall - no entanto com resultado menos realístico - há um detalhe sutil em sua composição soturna que carrega uma mensagem reflexiva.
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Aqui novamente não se faz necessário muito texto para esclarecer simbolismos, considerando que antes e hoje os icebergs errantes dispersavam não só o perigo e o frio, mas também a iminência de acidentes marítimos e a eventual morte por hipotermia. Carregada deste mesmo sentido, a imagem idealizada do ceifador - a própria morte - que em sua mão carrega uma gadanha, aguarda por sobre um iceberg enquanto vela o destino do navio e  parte de seus desafortunados passageiros.
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Encontro entre passado e presente com Marek Sarba

O artista polonês Marek Sarba imortalizou em sua arte - em 2017 - no  105ª aniversário do naufrágio do Titanic, as pessoas que que pereceram no desastre. Sarba pintou uma tela com a ilustração de 57 pessoas descendo a famosa Grande Escadaria. Sarba nasceu em Varsóvia e foi trabalhar no porto polonês de Gdansk, onde trabalhou por 24 anos como engenheiro elétrico nos estaleiros. Ele e sua esposa Barbara foram para os EUA há mais de 30 anos. 

Enquanto trabalhava em um estaleiro na Flórida, ele viu uma exposição dos artefatos recuperados do Titanic após a descoberta histórica de Robert Ballard dos escombros do navio inglês em setembro de 1985. Ele começou examinando meticulosamente fotografias e imagens de jornais de 1912 para desenhar os retratos e depois acrescentou seus corpos.
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Na parte inferior da escada há uma criança de costas.  "Ele representa todas as crianças que se perderam", diz ele. “Andando na base da escada, procurando entre as pessoas, talvez ele perceba alguém da sua família".
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Todos os indivíduos são representações reais, exceto o menino que representa os passageiros da terceira classe. Os objetos no primeiro plano foram originalmente esboçados a partir de artefatos de Ballard expostos na Flórida. A hora no relógio demarca o afundamento às 2:20 da manhã. Sarba intitulou sua pintura como uma homenagem aos heroicos membros da banda que tocaram até os momentos finais, “And the Band Played On”. Quando perguntado se as pessoas no retrato são de todas as classes no navio, ele respondeu: “porque no final, quem se importa?" [com riqueza ou pobreza]

© Marek Sarba
O chapéu divergente

Os fans de carteirinha do filme Titanic, dirigido por James Cameron em 1997, certamente se recordam de duas coisas: É um filme ricamente povoado de uma infinidade de efeitos visuais e especiais, e é o que se encontra na lista dos que mais contém erros, sejam históricos, de continuidade e de efeitos especiais.
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Um dos mais de 240 erros listados diz: "Muitas cenas usaram gráficos de computador para mostrar o comprimento do navio. Foram adicionados passageiros caminhando sobre o deck. As sombras dos passageiros nem sempre emparelham. Há a sombra de uma mulher que usa um chapéu grande e na realidade a mulher não está usando nada".

Segue então a cena em  questão, que está entre as tomadas mais impressionantes do longa metragem - quando os personagens Jack Dawson e Fabrizio De Rossi celebram sua viagem se divertindo na proa do transatlântico -  e onde o pequeno e passageiro detalhe a faz encaixar-se aqui.

Fazendo o congelamento do momento em que a câmera viaja da proa do Titanic até a ponte de comendo, observa-se que a passageira virtual que caminha tranquilamente ao sol na parte frontal do convés B está com o que parece ser um chapéu de pequena proporção em sua cabeça, enquanto sua sombra projetada na parede está usando um grande chapéu, de estilo muito recorrente na moda daquela época. Um chapéu fantasma?
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Brincadeira à parte, o erro é conhecido desde muito tempo, e este é um curioso detalhe que mostra que todo componente tem que ser cuidadosamente trabalhado numa tomada de efeitos gerados por computador, caso contrário os fantasmas podem surgir, intencionais ou não.
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"Ghosts of the Abyss" - Fantasmas do Abismo

Para fechar a matéria com uma dica que reúne tecnologia, história, arte e emoção, cito o documentário Ghosts of the Abyss (Fantasmas do Abismo, 2003) também de James Cameron.
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Neste documentário, que executa a exploração visual e histórica dos escombros do Titanic, as tomadas incríveis produzidas através de efeitos gráficos ajudam a descrever o que se passou na madrugada do naufrágio. De modo inovador Cameron utiliza-se de um tipo de efeito fantasma que funde ações tomadas em estúdio às tomadas em filme dos espólios do navio inglês. O resultado é comovente, muito fluido e reflexivo.
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Observe esta imagem da verdadeira escadaria do Titanic em sua situação atual, deteriorada e coberta por detritos decompostos [com leve efeito gráfico sobreposto das escadas intactas]. A imagem de fundo [real] está fundida à ação gravada em estúdio de atores que representam alguns dos passageiros de 1ª classe transitando pelos elegantes degraus.
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Hoje a majestosa escadaria do Titanic não vai além de um grande fosso vazio, por onde as dezenas de equipes de exploradores acessam os interiores do navio naufragado para fazer a captação de imagens com a utilização de robôs câmera teleguiados remotamente.



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 Trailer
Crédito 

Texto e edição de imagens por : Rodrigo, TITANIC EM FOCO
Com informações de:
wormstedt.com  /  nmni.com  /  Ken Marschall's Art of the Titanic  /  Ghosts of the Abyss (2003)  / maritimequest.com / Titanic 4 Disc Deluxe Collector's Edition 1997  /  kenmarschall.com  /  wikipedia.org  /  encyclopediatitanica.org  /  Titanic in Photographs [Daniel Klistorner, Steve Hall, Bruce Beveridge, Art Braunschweiger, Scott Andrews, Ken Marschall]  /  everythingrmstitanic.tumblr.com  /  maritimemuseum.novascotia.ca  /  The Discovery of the Titanic: Robert D. Ballard  /  TITANIC TECH, Facebook, abril de 2017, Jonathan Smith  /  Titanic: The Final Word with James Cameron (TV Movie 2012)  /  zip06.com  /  shorelinetimes.com  /  marconigraph.com